Ao colocar em pauta para a decisão do plenário do Congresso Nacional a questão do voto impresso, o presidente da Câmara de Deputado, Arthur Lira mostrou que sabe fazer política e que quem manda agora no Palácio do Planalto é o Centrão. A ação de Lira foi ao ponto: está na hora de tirar o brinquedo eleitoral das mãos de Bolsonaro. E assim foi feito: Sabendo que se for ao plenário a proposta de voto impresso estará sepultada, o Centrão fez exatamente isso e vai tirar de Bolsonaro seu principal trunfo neste momento.
Enquanto todos os atores políticos assume a polarização ficando contra ou favor das ideias de Bolsonaro, o Centrão não assume essa toada e trabalha no sentido de apoiar o Presidente quando ele fecha com os interesses do grupo político e de cortar suas asas quando suas propostas trazem instabilidade e põem em risco os interesses do grupo.
Bolsonaro deve ter percebido agora que vai ser difícil controlar o Centrão. E terá de correr atrás tentando adiar a votação do voto impresso. E o Centrão pode até fazer o jogo do Presidente, dando tempo para que Ciro Nogueira governe em favor dos interesses do grupo. E agora o que se vê é o Centrão tentando controlar Bolsonaro. Essa será a tônica dos próximos meses: a luta entre um grupo político que tem interesses nitidamente definidos e um presidente que precisa desse grupo, mas que dificilmente será manietado por ele sem reagir.
Bolsonaro vai perceber mais cedo ou mais tarde que o Centrão tenta controlá-lo, tenta fazer dele uma marionete que trabalha à favor dos seus interesses e terá de escolher entre dois caminhos: ou aceita as rédeas para manter o apoio político no Congresso ou reage contra a tomada de posições cada vez mais do Centrão. O mais provável, fazendo jus à sua imprevisibilidade, é que Bolsonaro rompa essa união em poucos meses. E aí, o Centrão não vai ter qualquer prurido, e o botão amarelo será pressionado. (EP: 09/08/2021)