Em julho, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), elaborada pela Fecomércio-BA, registrou 68,2% de famílias endividadas, maior percentual desde setembro de 2013 e acima dos 64,8% vistos no mês anterior. Atualmente, são 635 mil famílias que possuem algum tipo de dívida na capital baiana.
Para o consultor econômico da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze, até então, o aumento do endividamento não estava gerando alertas, pois o nível de inadimplentes estava caindo no início do ano e ficou estável no entre abril e maio.
“No entanto, ao passar de 25,7% em junho para os atuais 27,8%, começa a indicar que a inflação tem complicado a organização financeira das famílias. Esse percentual significa que 259 mil famílias não conseguiram pagar a dívida até a data do seu vencimento”, cita Dietze.
“Tanto que, entre os endividados, aumentou o percentual com dívida no cartão de crédito, atingindo os 92,4%. São famílias que não estão conseguindo arcar com o consumo através da renda própria e precisam do crédito, no parcelado, para manter os gastos nos supermercados, farmácias e demais compras”, complementa o economista.
Os carnês seguem na segunda posição, com 10,6% entre os endividados. É uma modalidade importante para o comércio e que atrai muitos consumidores nas compras de produtos com valor mais alto como os eletrodomésticos.
Segundo Dietze, a inflação, de fato, é o grande problema neste momento. Na região metropolitana de Salvador, os preços sobem em média 7,84% nos últimos 12 meses. No entanto, os grupos que mais pesam no orçamento das famílias estão com aumento maior, como é o caso dos alimentos e bebidas que crescem 11,43% e dos transportes, 15,10%. Outros preços como da energia elétrica e do botijão de gás subiram 19,15% e 27,88%, respectivamente.
“E quem mais sofre com a inflação são as famílias com renda mais baixa. O percentual de famílias que ganham até 10 salários-mínimos e que estão endividadas é de 71,2%, enquanto o percentual para os que ganham acima desse valor é de 37,1%”, pontua Guilherme Dietze.
Já na inadimplência, a diferença fica de 30,2% contra 8,8%. As famílias de renda mais baixa não possuem, em média, um suporte financeiro de investimentos para se proteger em momentos como este, da pandemia do coronavírus.
De acordo com o consultor, o obstáculo é que a inflação não é um problema pontual, mas estrutural e que deve permanecer elevada pelo menos até 2022. “Assim, se não houver uma geração de empregos mais forte, o cenário continuará sendo de alerta. Só não leva a um quadro muito mais desfavorável, pois os bancos e financeiros se antecipam, fechando a torneira do crédito ou abrindo espaço para renegociação”, esclarece o economista.
Além disso, Dietze salienta que “o crédito tem ajudado a sustentar o consumo de curto prazo, mas para o longo prazo há a necessidade de uma outra conjuntura econômica, mais favorável”.
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