O número de alunos matriculados em academias caiu pela metade em alguns estabelecimentos de Salvador. O risco de contrair o novo coronavírus afugentou os atletas e os empresários estão oferecendo descontos, congelando mensalidades e fazendo outros malabarismos para equilibrar as contas e atrair o público. Uma pesquisa nacional aponta queda de 52% no faturamento, em maio.
Se alguém tivesse disto, em janeiro do ano passado, que o setor de academias enfrentaria uma má fase provavelmente provocaria gargalhadas. O segmento estava em crescimento nos últimos anos, mas o novo coronavírus fez o jogo virar. Na academia R1 Sports Club, no Itaigara, por exemplo, a queda no número de alunos foi de 50%. A sócia proprietária, Renata Felice, contou que o estabelecimento tem alunos com uma média de idade na casa dos 40 anos e que muitos informam que só retornarão com a imunização completa, ou seja, 15 dias após receberem a segunda dose da vacina contra a covid-19. A queda impactou financeiramente o estabelecimento, mas Renata afirma que não foi preciso demitir funcionários ou realizar empréstimos.
“Muitos dos nossos alunos mantiveram o financeiro ativo durante a pandemia. Isso foi fundamental para a nossa sobrevivência durante os cinco meses de restrição”, disse. Renata explica que a academia está fazendo uma busca ativa e entrando em contato com os alunos que ainda não retornaram. O objetivo é tranquilizá-los sobre os protocolos de segurança e informar sobre promoções. O estabelecimento já ofereceu descontos em planos anuais e, agora, está com uma nova tática. “Estamos com outra campanha, para um plano com fidelidade de três meses e valor mais acessível. Aí o aluno pode cancelar sem ônus caso volte e não se sinta confortável”, contou.
A academia Hammer Fitness Club, que tem unidades na Barra, Patamares, Pituba e Stella Maris, também registrou queda de 50% no movimento de alunos. Em nota, a empresa informou que a pandemia alterou os hábitos, locais de moradia e poder aquisitivo de parte da população e que isso teve reflexos no público que frequenta as academias. “O percentual que ainda não retornou é composto por pessoas que ainda possuem algum tipo de receio ou que tiveram mudanças nas suas vidas que impactaram diretamente na escolha da academia, como mudanças de residência ou mudança do poder aquisitivo”, diz a nota.
A empresa disse também que houve redução no número de vagas para atender aos protocolos de segurança e que implantou outras medidas, além daquelas já definidas pela prefeitura, como a distribuição de um frasco com sanitizante para uso individual dos alunos. Já a rede Lion Fitness, que tem unidades no Cabula, São Caetano, Liberdade, IAPI e Sussuarana, perdeu 40% das matrículas por conta da instabilidade da pandemia.
O proprietário, Márcio Leão, contou que a empresa reduziu o valor dos planos e está oferecendo descontos para quem paga à vista ou leva um amigo, mas que o cenário ainda está complicado. “Isso ocorreu pela falta de segurança na continuidade da abertura das academias, aquele abre e fecha. Adotamos todos os protocolos estabelecidos pela vigilância sanitária, inclusive fui visitado muitas vezes”, disse.
O público também mudou de hábito, e isso pode ser percebido a olho nu. O número de pessoas fazendo atividades ao ar livre aumentou na pandemia. A estudante Daniela Santos, 28 anos, corre todos os dias na praia de Tubarão, no Subúrbio Ferroviário. “Depois que a pandemia começou o número de pessoas caminhando, correndo e se exercitando aumentou bastante. Muita gente abriu mão da academia”, contou.
Fabiano Palma é sócio proprietário de três academias: Muscles GYM, em Brotas, ONE, na Orla e em Paripe, e Hammer, em Patamares, e contou que sofreu redução de 50% no número de alunos. Ele teve que demitir parte da equipe para conseguir manter o negócio funcionando, diminuiu a quantidade de aulas, e fez promoções, mas disse que a situação ainda não estabilizou porque muitos atletas ainda temem voltar.
“O nosso setor foi muito impactado. A maioria das academias são pontos alugados e continuaram pagando aluguel e IPTU, sem benefícios. Quando voltamos, estávamos devendo tudo isso. Além disso, tinha o plano dos alunos que pagaram um ano, mas só treinaram seis meses e queriam a devolução do valor. Tudo isso foi muito impactante e quando a gente estava conseguindo respirar veio a segunda parada”, contou.
Ele notou uma mudança de perfil nos alunos. Agora, a maioria diz procurar a academia por uma questão de saúde, e não mais puramente estética, e muitos são novos. Os atletas conhecidos ainda não voltaram. Mas Fabiano mantém a esperança. “Acredito que as coisas vão começar a melhorar a partir de agosto ou setembro”, disse.
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