Com cinco vitórias nas primeiras cinco rodadas das Eliminatórias da Copa do Mundo, o que garante uma liderança confortável para a seleção brasileira, a partida diante do Paraguai, às 21h30 desta terça-feira, em Assunção, ficou em segundo plano. O que interessa mesmo é o manifesto que Tite e os jogadores vão divulgar com críticas à Copa América, à CBF e à Conmebol. Mas eles decidiram jogar o torneio após o afastamento de Rogério Caboclo da presidência da entidade por denúncia de assédio sexual e moral feita por uma funcionária.
O documento dos atletas deverá ser uma nota simples e curta. O tom é de desaprovação com a maneira como a Copa América foi transferida para o Brasil depois da desistência de Colômbia e Argentina. Nem mesmo outros departamentos da CBF foram consultados para a organização do evento. Este é um dos principais motivos de insatisfação. Os jogadores se sentiram traídos pelo cartola e não aceitam a maneira como a decisão foi tomada. Por isso, as entrevistas coletivas foram canceladas ao longo da semana. Também criticaram o fato de a própria CBF, organizadora do torneio, não ter se manifestado até hoje.
Os jogadores vão manter a postura contra a realização da disputa no Brasil e da forma como ela foi “empurrada” para eles na concentração das Eliminatórias, mas não vão prejudicar a entidade “seleção brasileira” numa competição internacional. Os jogadores também devem criticar a desorganização da Conmebol. Mas eles querem deixar claro que o posicionamento não é político e que valeria para qualquer país. Os jogadores tentam divulgar o manifesto juntamente com jogadores de outras seleções.
O momento de divulgação do documento ainda não foi definido pelos atletas. É mais provável que seja realmente após a partida diante do Paraguai. Existe ainda a possibilidade de o elenco fazer alguma manifestação em relação à pandemia no Brasil, usando suas imagens em prol do combate à doença. O Brasil está perto de registrar 500 mil pessoas mortas pela covid-19. Entrar em campo com faixas de alerta não está descartado.
“Estamos na Copa do Mundo. Eliminatórias já é um processo de Copa do Mundo, muitas vezes as pessoas não se dão conta disso. Para nós, nesse momento, isso (afastamento do presidente da CBF) não tem essa prioridade. Depois sim, reitero o que o Casemiro disse, há respeito e no nosso tempo vamos nos manifestar”, disse Tite.
O boicote ao torneio foi discutido pelo grupo, mas não houve consenso. Alguns atletas ainda defendem a ideia, mas são minoria Em outras seleções, o abandono também perdeu força depois que Argentina, Bolívia e Equador confirmaram a participação. A ideia de abandonar o torneio também ficou em segundo plano depois que Rogério Caboclo foi afastado da presidência da CBF por causa de uma denúncia de assédio sexual e moral feita por uma funcionária da entidade. Ele está fora por 30 dias por decisão do Comitê de Ética.
Grande parte do descontentamento dos atletas estava concentrada na figura de Rogério Caboclo. Antonio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, assumiu. “Sabemos a dimensão que tem, a gravidade do caso, temos consciência disso. Agora existe um Comitê de Ética da CBF que toma as devidas providências. Não é da nossa alçada”, disse Tite.
Caboclo negou as acusações. “Não posso falar nada sobre isso porque tudo será tratado na minha defesa. Eu sou inocente. Tenho absoluta certeza de que vou provar isso”, afirmou ao site da ESPN. A queda de Caboclo diminuiu a tensão e melhorou o ambiente. A crise na seleção brasileira começou na semana passada quando o Governo Federal e a CBF aceitaram o pedido da Conmebol para que a Copa América fosse realizada no Brasil. Os jogadores se reuniram com Tite, Juninho Paulista, coordenador de seleções. Em seguida, eles pediram uma reunião com Caboclo. Tite se posicionou ao lado dos atletas. O encontro tratou de aprofundar as diferenças e estabeleceu claramente os dois lados da questão.
Antes da vitória contra o Equador, o então presidente tentou diminuir as arestas e foi até o vestiário da seleção no Beira-Rio. O encontro piorou a situação, pois Caboclo pediu que os jogadores não tivessem contato com a imprensa, o que foi interpretado como uma tentativa de controle. O apoio dos jogadores ao técnico Tite ficou claro durante a partida. Após o primeiro gol, marcado por Richarlison, todos os atletas correram em direção ao treinador. Na saída do vestiário, no final do jogo, todos desceram juntos. Eram recados claros do fortalecimento do grupo.
Os jogadores não sabem nada da Copa América: se vão ficar na Granja Comary, o mais provável, ou se num hotel nas cidades de Brasília, Goiás ou Cuiabá. Também não foram avisados dos traslados das viagem e das rotinas de uma competição com a chancela da Fifa e da Conmebol. Dizem que, se a Copa América fosse realizada na Argentina, sabiam que o país tinha se preparado há dois anos para recebê-la, diferentemente do Brasil, que tenta se organizar em dez dias.
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