Na Bahia, em abril, o volume de vendas de carros usados caiu -4,8% entre comerciais leves e aumentou 3,8% entre os automóveis, de acordo com dados da Fenauto, que reúne os lojistas de usados de todo o Brasil. Para se ter ideia, na média do país houve retração de -9,6%. O bom desempenho dos seminovos no mês passado (alta de 7,6%) ajudou o estado a ter melhores resultados – lembrando que a Bahia, com 39.950 vendas de usados e seminovos em abril –, é o estado com maior comercialização do Nordeste. Maior em volume, o segmento de usados jovens (de quatro a oito anos) teve avanço de 0,8% nas vendas, ao passo que modelos com mais de 9 anos tiveram queda nas comercializações (-3,9%).
De acordo com o presidente da Associação de Revendedores de Veículos Seminovos da Bahia (Assoveba), Ari Pinheiro Junior, os preços estabilizaram e os lojistas já contam com estoque mais variado. “Modelo com maior dificuldade de compra no momento é o sedã”, afirma. O ticket médio da demanda, diz o representante dos lojistas, é de R$ 40 mil. O lojista Jaldemio Pereira de Souza Severino, o Jal da Car Store, do Auto Shopping Rodrigues, sente que o movimento caiu um pouco este mês, enquanto o estoque está bom. “Estamos tendo um pouco mais de facilidade na compra e os preços ficaram estabilizados, embora estejam altos”, ressalta. Para ele, o carro mais difícil hoje de encontrar é o Onix, enquanto o que mais aparece para fazer negócio é o Ford Ka. “Estão aparecendo vários carros da Ford, não sei se devido ao processo de fechamento da fábrica aqui na Bahia, mas tem muito, estão sobrando”, observa Jal. Nem mesmo assim seus preços cederam.
“Os preços continuam fora de qualquer situação que eu pudesse imaginar. Estávamos com dificuldade de manter o estoque cheio, com 80% da capacidade, mesmo com preços altos. A procura dos lojistas é grande, isso reduz o lucro, mas não pode deixar o estoque vazio”, observa Carlos Cordeiro Tanajura Neto, dono da loja RC Multimarcas no Auto Shopping Rodrigues. Para ele, assim como para outros lojistas, falta Onix, enquanto continua boa a procura por populares, na faixa de R$ 35 mil a R$ 40 mil, entre eles Ka, HB20 e Sandero. Em relação ao movimento, o comerciante avalia que desacelerou. “O mês passado foi morno, começou até bem. Está diferente de quando reabriu no início de abril, mas o fluxo, a gente imagina que possa melhorar muito”, conclui.
Preços disparam
Os preços de carros usados, de quatro a 10 anos de uso, foram os que mais subiram em abril, de acordo com o Monitor de Variação de Preços da KBB Brasil, empresa especializada em pesquisa de preços. O estudo aponta que, em média, o segmento teve mais de 2% de aumento, enquanto os seminovos tiveram reajustes menores no período. Embora a variação dos usados em abril tenha sido a maior diante dos outros segmentos, a tendência apontada pelo MVP sugere arrefecimento do ímpeto de acréscimos para o período, ao compararmos com os números observados em março.
Em relação ao segmento de seminovos (veículos com até três anos de uso), todos os aumentos de preços ficaram abaixo dos patamares vistos em março, sugerindo tendência de estabilização. Lembrando que, em abril, de acordo com a Fenauto (federação dos revendedores de veículos), houve queda de -10,29% nas transações de automóveis e comerciais leves do segmento.
Relação com os novos
Para falar de seminovos e usados, contudo, é preciso entender o comportamento dos veículos zero-km, porque eles estão diretamente ligados: quem abastece as concessionárias e lojas são os donos de carro que compram um novo e deixam seu usado na troca. Sem carros novos, esse recurso fica mais escasso. R$ 50 mil. Não tem Chevrolet Onix e há poucos Hyundai HB20. Ao olhar o segmento de SUVs, temos problemas de oferta do Nissan Kicks, Renault Duster e Hyundai Creta. Já o Volkswagen T-Cross começa a mostrar um equilíbrio entre oferta e procura. É bom, mas a Volks poderá ter em breve pressão de estoques”, explica Marco De Mitri, da consultoria AM2, especializada em varejo automotivo. “Acredito que no próximo mês já haverá mais oferta desse SUV e com a pressão de estoque as concessionárias vão começar, por elas mesmas, a baixar suas margens, e sendo agressivas na captação dos seminovos, ou seja, irão pagar melhor por eles”, completa.
Sem oferta de Kicks e algumas versões de Duster e Creta, lojistas têm dificuldade de captar o seminovo. “Tudo isso impacta nos seminovos, segmento que continua aquecido. A tabela Fipe é mero referencial, porque não conseguiu se atualizar de forma rápida, os concessionários têm dificuldade de captação de seminovos para serem revendidos, o que é um negócio rentável e os giros de estoques são rápidos, mas a quantidade é pequena”, aponta De Mitri.
Os preços, em sua avaliação, estão sim inflacionados. “Daqui a uns dois meses o mercado de novos estará mais equilibrado e acredito que haverá mais oferta de zero-km, pode até haver incentivo de bônus para essa venda. Aí a tendência é o preço do seminovo cair um pouco. Mas só a partir de julho conseguiremos entender melhor as estratégias. Com as vendas voltando ao normal como ficarão o varejo, vendas diretas e o atacarejo (vendas a CNPJ com desconto). Por ora, o mercado continua inflacionado e há falta de carro”. De Mitri destaca que um dos modelos mais valorizados entre os seminovos é a picape Toyota Hilux. “Vende como pãozinho quente”.
Reajustes não param
Se a inflação do zero afeta o mercado de seminovos e em breve a oferta será normalizada, algumas marcas continuam abusando dos “reajustes”. Mesmo sem carros na linha de produção, por exemplo, a Chevrolet aumentou uma das versões do Onix (a LT AT) em 4,6%. Da Fiat, houve aumento em Argo (3,45%) e Cronos, cuja versão Drive 1.8 subiu 7,7% e em valor representou reajuste de R$ 6.200. A Toyota subiu em 2,5% seu Corolla de entrada e o novo Corolla Cross híbrido – neste o aumento representa estar R$ 4.500 mais caro. A Volkswagen também vem praticando reajustes na faixa de 3% a 3,7% para Polo, Virtus, T-Cross e Nivus. Em geral, as montadoras creditam os reajustes à questão cambial e aumento de custos de frete, insumos, contêineres, além dos lockdowns.
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