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MOMA ABRE PRIMEIRA GRANDE RETROSPECTIVA NO EXTERIOR DA FOTOGRAFIA MODERNA DO BRASIL

Redação - 25/05/2021 09:36

A primeira retrospectiva compreensiva de fotografia modernista brasileira nos Estados Unidos aguarda o público em Nova York, na semana em que a cidade deu novos passos para reabrir, com mais da metade da população adulta vacinada contra o Covid-19.

Mas, por enquanto, o MoMA, Museu de Arte Moderna, ainda exige máscaras para visitar “Fotoclubismo: Fotografia Modernista Brasileira e o Foto-Cine Clube Bandeirantes, 1946-1964”.

Acompanhada de um catálogo com ensaio da curadora da mostra, Sarah Meister, “Fotoclubismo” apresenta o público do Hemisfério Norte ao primeiro agrupamento de artistas experimentais do meio no Brasil, com nomes como Thomaz Farkas, Geraldo de Barros e Gertrudes Altschul.

Anos se passam entre a concepção de retrospectivas de fôlego e a instalação das obras e, no caso desta mostra, ocorreu um obstáculo inédito em um século -a pandemia do coronavírus.

A exposição que o MoMA esperava montar teria o reforço de mais de 70 obras de coleções brasileiras que nunca foram embarcadas para Nova York, o que faz do catálogo publicado, com 150 imagens de obras, um guia importante para quem estiver descobrindo o coletivo fundado em São Paulo, em 1939. A mostra que está aberta ao público até 26 de setembro é limitada à coleção do MoMA e a dois empréstimos da coleção de David Dechman, um membro do comitê gestor do museu.

O Foto Cine Clube Bandeirante era formado na maioria por fotógrafos amadores que tinham outras profissões. Thomas Farkas, que precisou de autorização dos pais para se filiar, aos 15 anos, era uma exceção. O grupo era artisticamente ambicioso, realizava mensalmente concursos internos temáticos e seus membros receberam vários prêmios em salões internacionais.

“Montar a exposição foi uma boa experiência de resumo dos meus anos no MoMA,” diz à Folha Sarah Meister, a curadora que deixou o museu depois de 24 anos e acaba de assumir a direção executiva da Aperture Foundation, criada na Califórnia, na década de 1950, por um grupo de fotógrafos que incluía Ansel Adams e Dorothea Lange.

Meister não sabia da existência do FCCB ou do experimentalismo de seus membros quando o MoMA comprou duas fotos de Geraldo de Barros, em 2005. Eram o “Auto-Retrato”, de 1949, e “Fotoforma”, de 1953-54.

“Confesso que não entendi bem o que tinha diante de mim até fazer uma viagem de pesquisa a São Paulo, anos depois”, lembra. Foi então foi apresentada a artistas do clube e teve contato com os filhos de Thomaz Farkas, João e Kiko. Assim, descobriu que havia, não uma única, mas seis outras obras de Farkas na coleção, desde 1949.

Pesquisou mais e encontrou fotos de Gaspar Gasparian. Continuou viajando a São Paulo, conheceu outro importante expoente do FCCB, German Lorca, que morreu no dia da inauguração da mostra, 8 de maio. “Em seguida,” explica a curadora, “tive a surpresa de conhecer o trabalho de Gertrudes Altschul e de saber que o FCCB tinha uma divisão dedicada a mulheres fotógrafas. A ideia da exposição começou a ser gestada e as aquisições de mais de 30 obras feita pelo MoMA, em 2016, foi decisiva para o projeto tomar forma”.

Os anos limítrofes da exposição foram escolhidos pelo peso histórico nas possibilidades abertas e fechadas para a efervescência do fotoclubismo. Em 1946, a adoção de uma nova Constituição marcou o final do Estados Novo de Getúlio Vargas. Em 1964, com o golpe militar apoiado pelos EUA, o fotoclubismo, já começava a perder fôlego e passou a enfrentar repressão e censura.

Anos antes de reinaugurar a sede na rua 53, em Manhattan, em outubro de 2019, e reinstalar sua coleção permanente, o MoMA começou um processo, parte reavaliação, parte mea-culpa pelo próprio papel em definir a arte moderna no século 20. O ensaio de Sarah Meister no catálogo faz alusão a este papel colonizador, destacando que, sob Edward Steichen, lendário diretor do Departamento de Fotografia do MoMA, entre 1947 e 1962, a visão era menos restritiva.

Mas a curadora cita o desconhecimento sobre o FCCB como fruto de dois preconceitos “conscientes ou não”. Primeiro, o que via a arte produzida na periferia dos grandes centros culturais como derivativa ou atrás do seu tempo. O segundo, uma visão de que o artista amador está condenado a produzir simulacros da arte “sofisticada”.

Assim, escreve Meister, “a quase completa exclusão destas figuras até hoje, apesar de seu apelo irrefutável, deve ser também entendida como uma visão crítica dos esforços exasperados desta instituição para compreender o maravilhosamente extenso e indisciplinado meio da fotografia”.

Ao explicar ao público de língua inglesa a identificação do FCCB com a identidade expedicionária dos bandeirantes originais paulistas do Brasil Colônia, Meister nota que a sensibilidade de 1939 era outra.

A curadora destaca também o que mais faziam os bandeirantes responsáveis pela expansão do território brasileiro: escravizavam e matavam índios, capturavam escravos negros foragidos e destruíam recursos naturais.

Num tributo póstumo a Gertrudes Altschul, morta em 1962, o Boletim publicado pelo FCC recordou afetuosamente a chegada da fotógrafa, dez anos antes, com o apoio do marido Leon, “que se postou a seu lado e sorriu em aprovação.”

Seja no centro ou na periferia, a arte nunca escapa da história.

Foto: Julio Agostinelli / Reprodução

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