Quantas coisas aprendemos a fazer online por conta da pandemia? Foram reuniões intermináveis via Zoom, aniversários e até happy-hour por videochamada. Agora, chegou a vez de as viagens entrarem nesse já não tão novo formato. Uma viagem virtual tem seus prós e contras, é claro. Mas, para quem está morrendo de saudade de conhecer outras culturas e vivências sem abrir mão da segurança, essa pode ser uma ótima opção.
No último dia 15 embarcamos na Conexão Baré, em direção à comunidade indígena de Nova Esperança, que faz parte da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga Conquista, em Manaus (AM). Em tempos de viagem presencial, nós, baianos, enfrentaríamos uma longa jornada de pelo menos seis horas de avião, saindo de Salvador até Manaus, e de lá até a comunidade mais outras seis horas de barco de linha – embarcação que faz o trajeto entre cidades pelo rio Amazonas. Na viagem virtual, basta se acomodar na poltrona, abrir o notebook e você já chegou ao seu destino.
Mas para dar o gostinho de estarmos realmente viajando, a equipe da Braziliando, agência responsável pela Conexão Baré, nos insere em uma meditação, em que fechamos os olhos e através de descrições do ambiente somos levados mentalmente para o rio. Em aproximadamente duas horas e 30 minutos de imersão, os viajantes de diversas cidades brasileiras experienciaram um pouco da cultura Baré pelas palavras dos próprios indígenas.
Comunitário
A Conexão Baré surge como uma resposta à pandemia. Desde 2017, a Braziliando realiza turismo comunitário – aquele que é desenvolvido pelos próprios moradores da comunidade – em Nova Esperança. Com a pausa das atividades presenciais, a falta da renda trazida com o turismo passou a pesar no dia a dia da comunidade.
Joarlison Garrido, vice-cacique, gestor e professor da escola indígena, explica que mesmo que a comunidade produza alimentos suficientes para a sobrevivência, ainda consome produtos industrializados que só são encontrados na cidade. “Uma hora as crianças começaram a querer essas coisas e não tinha dinheiro. E também não podia sair de casa, então, isso [a falta do turismo] foi um fator muito negativo”, diz ele.
Com a realização da Conexão Baré, que já está caminhando para a sua 12ª edição em menos de um ano, mesmo que o valor cobrado atualmente pela viagem – R$ 150 o passaporte individual e R$ 225 a contribuição solidária – seja menor que os da excursão presencial, tem sido possível contar novamente com essa renda. As próximas viagens marcadas abertas ao público serão nos dias 26 de junho e 31 de julho, com inscrições no site www.braziliando.com.br.
A ideia do turismo comunitário é de que os visitantes possam vivenciar a rotina dos moradores locais. A proposta é a mesma na viagem virtual, mas a experiência, obviamente, sofre com a falta de estímulo dos sentidos. Não é possível tocar, cheirar e até mesmo a visão é um pouco prejudicada pela conexão de rede fraca na floresta. São os ouvidos os mais estimulados pelas histórias dos Barés.
Joarlison é quem nos recebe na comunidade. Depois dele, cada atividade é guiada por uma pessoa diferente, sempre alguém que realmente possua uma relação com o que será dito ou mostrado. Para o vice-cacique, essa prática faz com que eles próprios valorizem mais a própria cultura. Além disso, ter contato com tanta gente de tantos lugares amplia não só a visão de mundo dos estrangeiros, mas inclusive a deles. “Nos faz também viajar, obter conhecimento. São oportunidades que temos para crescimento, uma vez que você obtém mais informações do mundo, te propicia um ambiente melhor para entender as coisas, encarar a realidade e superar os obstáculos que existem na vida”, considera Joarlison.
Volunturismo
A ideia de imergir por completo no dia a dia de comunidades indígenas foi de Ana Taranto, 28, fundadora da Braziliando. Natural do Rio de Janeiro, Ana fez uma viagem à Amazônia com a mãe em 2016 e ficou frustrada por não ter vivido uma experiência completamente integrada à natureza. “Foi muito difícil encontrar experiências de turismo responsáveis, sustentáveis, na região”, conta. Voltou para casa com uma ideia já plantada na mente. E logo em fevereiro de 2017 realizou a primeira excursão de volunturismo para a Amazônia.
O volunturismo é uma vivência que combina a prática do voluntariado com o turismo. Em uma dessas atividades voluntárias, conversando com um grupo de mulheres, um desabafo chamou atenção de Ana. As mulheres daquela comunidade contavam que, com muitos familiares se mudando para a capital, Manaus, elas queriam continuar ali, mas precisavam de oportunidades de trabalho na comunidade. Desse relato, surgiu a ideia de realizar o turismo voluntário na região.
Hoje, ambas as atividades de turismo comunitário e volunturismo presenciais estão pausadas, ainda sem previsão de retorno. Mas, assim como o turismo comunitário está acontecendo através da Conexão Baré, o volunturismo continua ativo através do VOA – Voluntariado na Amazônia. Nesse projeto, os voluntários ensinam inglês para indígenas de diferentes comunidades e, em troca, aprendem mais sobre a cultura local.
Foto: divulgação