Uma série de novos obstáculos surgiu no caminho dos mototaxistas de Salvador desde o início da pandemia de Covid-19. Na Liberdade, bairro que passou por três fases de restrições entre 2020 e 2021, profissionais regularizados e clandestinos reclamam das condições de trabalho enfrentadas nesse período. Luís Cláudio Capinam, 48, que trabalha no bairro desde 2009, diz nunca ter visto algo igual. Ele é um dos 1.276 “mototáxis” regularizados pela Prefeitura de Salvador. “O motociclista está na linha de frente, com ou sem pandemia. O maior problema do serviço de mototáxi é a insegurança no trabalho. Da mesma maneira que a gente protege nossa vida do vírus, a protege do assaltante”, comenta Luís Cláudio.
A vacinação e o auxílio financeiro cedidos até o momento foram destinados para os mototaxistas maiores de 60 anos, grupo que representa menos de 0,5% dos trabalhadores regularizados informados pela administração. Esse grupo também teve direito ao auxílio financeiro de R$ 270 da prefeitura de Salvador à classe. Os profissionais de 21 a 59 anos foram beneficiados com uma cesta básica mensal até o fim da pandemia. Mas para Maurício Silva, 36, que atua como mototaxista desde 2018, no bairro Pero Vaz, as dificuldades financeiras afastam os profissionais da regularização.
“Para rodar como mototáxi é preciso investimento no ‘kit amarelo’, manutenção de todos os itens, pedido para mudar a cor da moto. Nem sempre todo mundo consegue. Eu comecei querendo regularizar, mas, como não consegui, rodo clandestinamente há três anos. Não é 100% certo, mas não é 100% errado”, avalia. O geógrafo Ricardo Barbosa da Silva, pesquisador do grupo de pesquisa Rede Mobilidade Periferias da Unifesp – Zona Leste, indica os motivos que contribuíram para a formação da classe.
“Possivelmente são vários os fatores que levam uma pessoa a trabalhar como mototaxista, seja regularizado ou não. No fundo, o surgimento e a dinâmica desse serviço estão relacionados a desemprego, pobreza urbana, crise generalizada de mobilidade na cidade e precarização dos transportes coletivos”, observa. O pesquisador ressalta a importância do serviço no contexto atual. “O mototáxi é um serviço que apareceu como uma alternativa à população periférica. Essas pessoas são as mais dependentes do transporte coletivo, geralmente lotados, situação que na pandemia torna-se uma condição de maior vulnerabilidade de contaminação”, diz Silva.
O último credenciamento de novos mototáxis ocorreu entre janeiro e fevereiro deste ano, quando foram convocados 61 mototaxistas. Atualmente, das 2.995 vagas disponibilizadas pela prefeitura, 1.276 estão preenchidas (cerca de 50,5%), número menor do que os 1.330 declarados pelo Sindicato dos Mototaxistas da Bahia (Sindmoto-BA), em agosto de 2019. Para Clemilton Almeida, gestor da Coordenadoria de Táxis e Transportes Especiais (Cotae), uma das principais vantagens em ser regularizado é a possibilidade de aproveitar os benefícios garantidos pela lei do mototáxi (nº 9149/2016), decretada em 2016. “Os mototaxistas regularizados têm benefícios sociais da prefeitura, como linhas de crédito e convênios. Em eventos como Carnaval, Réveillon e Festa do Bonfim, por exemplo, oferecemos acessos aos bloqueios e pontos exclusivos”, afirma Almeida.
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