Segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS), São Caetano é o bairro campeão em percentual positivo nos testes da covid-19 realizados pela prefeitura de Salvador. Dos 7.929 exames feitos no bairro desde 22 de março, quando a gestão municipal estabeleceu as medidas de proteção à vida no bairro, 3.766 deram positivo, uma taxa de 47%. Ao todo, 2.682 moradores do local já foram contaminados com a covid-19.
Localizado entre os bairros da Liberdade e Pirajá, São Caetano é um dos locais mais populosos da cidade, com 51 mil habitantes. A incidência da covid-19 por lá é de 53 casos por mil habitantes. Os moradores são categóricos ao explicar o motivo da alta incidência da doença: “Nosso bairro é populoso. As pessoas transitam e às vezes só pensam em si mesmas e não nas outras. Aglomeram, não usam máscara, não se protegem”, reclama a dona de casa Aline Conceição Bispo, 29 anos.
Aline está grávida de seis meses e precisou ir para a rua com a filha mais velha pegar a cesta básica entregue na escola pela prefeitura. “No geral, eu nem saio de casa. Vou só para fazer algo que tem que ser presencial, como isso”, explicou, enquanto andava em direção à escola, na Estrada de Campinas. Nessa área, o trânsito era intenso, com muita gente na rua e comércio a todo vapor.
Embora também fosse possível encontrar pessoas sem máscara ou usando o acessório incorretamente, no geral, a maioria estava com a proteção. Algumas exibiam o símbolo da prefeitura e foram entregues pela gestão municipal nesse período de medidas de proteção à vida no bairro. A ambulante Vera Lucia, 58, diz que têm notícias de muitos doentes na vizinhança: “Moro e trabalho em São Caetano. Os comentários são de que tem muita gente doente mesmo. Conheço até pessoas que estão intubadas”, lamenta.
Ela também atribui como causa dessa realidade as festas clandestinas que ocorrem no bairro. “Tem muito som alto e bebida no final de semana, principalmente em locais mais fechados”, disse. Enquanto estava no local, na tarde desta quarta-feira, 19, a reportagem viu duas pessoas bebendo cerveja e andando pelas ruas sem máscara. “Tem gente ainda agindo como se nada estivesse acontecendo. Não há precaução”, lamenta outra ambulante, Suzana Andrade. Segundo ela, as festas acontecem em sua rua todo final de semana. “O povo vai se juntando, bota o som, compra cerveja e quando dá 19h ou 20h, fica muita gente concentrada. Isso é na rua, em bares… não é um paredão, mas algo que é triste de ver”, diz.
Professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a infectologista Jacy Andrade alerta que os exames sorológicos, que são esses testes rápidos realizados nos bairros, não são suficientes para concluir se uma pessoa está doente. “Fazer sorologia não é fazer diagnóstico de covid. É sim fazer um inquérito para saber se as pessoas tiveram contato com o vírus”, explica. Não é à toa que esse teste rápido é ideal para pessoas que estão ao menos no oitavo dia após o início dos sintomas da doença.
Por telefone, o estudante Bruno*, morador de São Caetano, contou que foi fazer o teste rápido nessa quarta-feira. Ele foi para a fila às 6h30, para garantir ser um dos 150 atendidos. Estava no segundo dia de sintomas característicos da covid. No entanto, o resultado foi negativo. “Amanhã vou ter que ir trabalhar. Acho que pode ser só um resfriado, mas tenho medo de estar contaminado”, desabafa.
O exame que detecta com mais rapidez é o RT-PCR, ideal após o terceiro dia de sintomas. Ele não é feito nos bairros pela prefeitura. “Na prática, o que os números dizem é que as pessoas desse bairro foram expostas, foram apresentadas ao vírus. Pode ser que isso tenha sido lá dentro ou fora. Não dá para assegurar onde foi. Porém, o fato de ser na mesma localidade faz a gente pensar que, muito provavelmente, o vírus circula lá. E isso tem que servir de alerta”, explica a professora Jacy.
Fábio Mota, coordenador das medidas feitas pela prefeitura nos bairros e também titular da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), diz que o índice de positividade em São Caetano baixou após o início das ações, em março, mas voltou a subir agora, como em outros locais da cidade. “Infelizmente, a gente notou que, nessa semana, a positividade aumentou em todos os bairros da cidade. A gente tá vivendo um momento de muito aumento de covid”, aponta o secretário.
“São Caetano sempre bateu todos os recordes. Nós já estamos lá há dois meses. Controlou, baixou e agora tá tendo esse aumento. Não tem mais o que fazer. A gente pulveriza, lava, distribui máscara, faz teste… se continuar desse jeito, outras medidas terão que ser tomadas. Isso, inclusive, está sendo estudado e monitorado”, acrescenta.(Correio)
Foto: Nara Gentil/CORREIO