O BTG Pactual ganhou mais um escritório de agentes autônomos da XP. Nesta segunda-feira (17), a Acqua-Vero notificou a XP sobre o início do prazo de 60 dias de aviso prévio para o encerramento de seu contrato de distribuição de produtos financeiros. Ao final deste prazo, o escritório irá se juntar ao BTG, segundo apontam fontes do mercado, ao passo que inicia o processo para se tornar uma corretora de valores. Dentro dos planos também está a abertura de capital na Bolsa brasileira em até três anos.
Acqua-Vero tem 16 filiais distribuídas pelo Brasil com 250 profissionais que assessoram uma carteira de R$ 8,5 bilhões, atendendo mais de 20 mil clientes. Agora, a meta é chegar ao final de 2021 com R$ 12 bilhões sob assessoria, 350 profissionais e 100 novas filiais. Procuradas sobre o caso, BTG e Acqua-Vero preferiram não comentar. Em nota, a XP informa que foi avisada do pedido de descredenciamento de um escritório da sua rede.
“Nos poucos casos de descredenciamento ocorridos até hoje, o histórico de transferência para a nova instituição é baixo, sendo menor que 15% em média. Isso ocorre pois a decisão final é dos clientes”, diz a empresa. A XP também informa que possui hoje mais de 9 mil profissionais parceiros, abrindo, em média, cinco novas operações por mês. No último ano, atraiu 3.700 novos agentes autônomos, um crescimento de quase 20% em relação ao ano anterior, e possui mais de R$ 715 bilhões de ativos sob custódia, alta de 96% na comparação com o primeiro trimestre de 2020.
A Acqua-Vero é fruto da fusão de outros dois escritórios vinculados à XP. Em dezembro de 2020, a Acqua Investimentos se juntou à Vero, se tornando a maior assessoria de investimentos de São Paulo e a quinta maior empresa ligada à XP. Os clientes, porém, ficam na XP ao final dos 60 dias de aviso prévio. Caso queiram continuar atendidos pela Acqua-Vero, devem migrar seus recursos para o BTG. Segundo dados da XP, no entanto, quando ocorre este tipo de migração, apenas 11% dos clientes de agentes autônomos de investimentos migram com o escritório para o novo parceiro nos três primeiros meses após o fim do contrato.
Apesar de a taxa ser relativamente baixa, a atração de agentes autônomos é uma das estratégias do BTG para competir com a XP. E ela faz tanta diferença nesta disputa que, de início, em 2018, a corretora de Guilherme Benchimol entrou com uma ação contra as aquisições na Justiça, alegando concorrência desleal. Em março deste ano, BTG e XP entraram em acordo para encerrar processo no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Nele, a XP acusava o BTG de usar informações confidenciais obtidas na primeira tentativa de abertura de capital da corretora para montar o seu próprio negócio.
Ao fim de 2016, a XP decidiu fazer seu IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) e contratou o BTG como um dos seus assessores financeiros na operação. Para assessorar a XP, o BTG, bem como outros bancos que faziam parte do time de IPO, passaram a conhecer detalhes da operação da corretora. Com a desistência do IPO e venda de parte da XP para o Itaú, o BTG voltou ao posto de concorrente da XP e acelerou a sua expansão digital. A estratégia adotada era semelhante a da XP, crescimento via atração de agentes autônomos de investimentos -o que a empresa de Benchimol viu como uma quebra do acordo de confidencialidade celebrado entre as partes no processo de IPO.
Tal acordo previa que as informações fornecidas pela XP só poderiam ser utilizadas na operação de abertura de capital, sendo sigilosas, por um prazo de dois anos, o que, segundo a XP, o BTG descumpriu. A XP também acusava o BTG de assediar os agentes autônomos que já estavam vinculados à XP e “incentivá-los financeiramente para que desviassem clientes e informações confidenciais desses clientes e da própria XP”, de modo formar sua própria rede de agentes autônomos de investimentos.
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