O dólar inicia a semana cotado a R$ 5,22, uma queda de quase 10% em relação a março. É uma boa notícia e há quem veja nisso um bom presságio de novos tempos no câmbio? Há também quem pergunte se agora vale a pena comprar dólares, já que a cotação baixou. Mas qualquer economista sabe que é muito difícil especular sobre o câmbio, que é um dos mercados mais sensíveis da economia e de tal modo que tanto aspectos macroeconômicos quanto questões políticas podem afetar a sua cotação.
A queda na semana passada teve uma razão clara: o aumento da taxa Selic. Com a taxa de juros a 2% ao ano, os dólares fugiam do país já que o chamado capital especulativo, aquele dinheiro que corre para onde o juros está mais alto, não tinha onde ser aplicado no país, a não ser em aplicações de risco. Resultado: juro baixo por juro baixo, o capital especulativo corria para países ricos ou que ofereçam maior rentabilidade. Agora, com o juro a 3,5% e com o Banco Central anunciando que vai aumentar mais 0,75% na próxima reunião, começou a ficar interessante deixar os dólares por aqui e isso induz a uma redução na cotação da moeda. E não é só o capital especulativo, ainda tem as operações de arbitragem e para os exportadores, por exemplo, pode ficar interessante a antecipar a entrada de receitas para ganhar com os juros mais altos.
Então esse efeito na redução da cotação do dólar está diretamente ligada à retomada da alta dos juros. Mas isso não significa que a tendência daqui para diante será uma queda na cotação da moeda americana, pois ela não depende apenas dos juros. A valorização ou desvalorização do real depende também do rombo nas contas públicas e do tamanho da dívida, ou seja da questão fiscal, que está se agravando no país. Depende também da perspectiva de crescimento do PIB e do quadro político que está se formando para 2022.
Há um sinal positivo dado pelo Banco Central, afinal nos países ricos o juros continua em torno de zero por cento ao ano e aqui está 3,5% ao ano e vai aumentar até 5% ou mais, devendo chegar a 6,5% no ano que vem, segundo o Banco Central. Mas isso não é suficiente para saber qual será a cotação de equilíbrio da moeda.
Assim, fica difícil dizer se vale a pena comprar dólares para investir. Se a expectativa for de agravamento das contas públicas brasileiras e de uma disputa política violenta no país, a tendência será a cotação continuar aumentando. Mas ninguém sabe se será assim e, além disso, temos um Banco Central independente que pode aumentar os juros cada vez mais para evitar que a cotação do dólar suba muito. Em resumo, esse é um mercado de risco, por isso quem investe está se arriscando. Na verdade, neste momento não há economista que seja capaz de dizer se a tendência da cotação do dólar no médio prazo será de alta ou de baixa.
Armando Avena é escritor, jornalista e economista. Professor da UFBa é Doutor em Ciências Sociais e Membro da Academia de Letras da Bahia
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