Rubia, uma funcionária pública carioca de 54 anos, aproveitou a visita ao filho, que mora na Flórida, para se vacinar. O principal objetivo da viagem era cuidar do filho, ex-fuzileiro americano, que havia contraído a Covid-19. Mãe de um cidadão americano, ela conseguiu entrar nos EUA sem fazer quarentena em um terceiro país. Lá, agendou a data de vacinação logo na primeira tentativa pela internet.
— Tomei as duas doses da Pfizer em uma farmácia, em Orlando. Fiquei menos de 10 minutos na fila. Ninguém perguntou de onde eu era ou se morava nos EUA — contou Rubia, que preferiu não divulgar o sobrenome. Apenas em janeiro, o Departamento de Saúde da Flórida reportou que cerca de 52 mil vacinados foram identificados como pessoas de “fora da região” — o que pode significar tanto que moram em outros estados americanos quanto que são estrangeiros. Em Nova York, estima-se que cerca de 25% das doses alocadas para a cidade foram administradas em não residentes.
Para combater o chamado “turismo das vacinas”, Califórnia, Nova York e Texas passaram a exigir comprovantes de residência na hora da vacinação. A Flórida, no entanto, determinou na última sexta-feira que as pessoas podem se vacinar apenas declarando verbalmente que vivem ou prestam serviço no estado. O “turismo das vacinas” também colocou Israel, considerado o país cujo programa de vacinação é o mais avançado do mundo, como um dos principais destinos de quem quer antecipar a imunização
Se no caso de Rubia a cidadania do filho facilitou sua entrada nos EUA, o cantor e produtor musical paulista Daniel, de 36 anos, teve que passar 20 dias em Cancún, no México, de dezembro de 2020 até janeiro deste ano, cumprindo quarentena antes de entrar nos EUA. Desde maio de 2020, por causa da pandemia, o governo americano proibiu a entrada direta de passageiros procedentes do Brasil, a não ser que sejam cidadãos americanos, residentes no país ou que viajem por motivos familiares, como no caso de Rubia. Na semana passada, foi aberta outra exceção, para estudantes procedentes do Brasil e matriculados em cursos nos EUA que comecem a partir de 1º de agosto.
No caso de Daniel, que também não quis dar o sobrenome, ele voou de Cancún para Orlando, onde tem casa. Lá, decidiu prolongar sua estadia para tomar a vacina. — Eu estava nos EUA a trabalho, mixando a gravação de uma banda que produzo. Vi que, se voltasse para o Brasil, não seria vacinado tão cedo. Fui ficando por causa da vacina — explicou o produtor. Daniel também tomou as duas doses da Pfizer, apresentando sua carteira de motorista da Flórida. Ele não agendou a data da vacinação: uma amiga disse que havia fila por ordem de chegada em um hotel. — Fui imediatamente, com um grupo de brasileiros. Esperamos aproximadamente cinco horas. Nos revezamos na fila para sair para comer e usar o banheiro. Senti alívio, com certeza — conta ele, que não tem amigos vacinados no Brasil.
Segundo o advogado de imigração brasileiro-americano Felipe Alexandre, da AG Immigration, Brasil e México são os países que mais têm movimentado o turismo de vacinas nos EUA. Milhares de mexicanos vêm atravessando a fronteira atrás das doses. A associação de empresas de turismo do México, citada pelo jornal El País, informou que as viagens para os EUA com o objetivo de tomar o imunizante aumentaram 70% no último mês.
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