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MAGISTRADOS TENTAM EVITAR DELAÇÃO DE DESEMBARGADORA

Redação - 19/04/2021 15:02 - Atualizado 19/04/2021

A possibilidade de homologação da delação de Sandra Inês movimentou um grupo de magistrados, incluindo a juíza Nartir Weber, presidente da Amab (Associação de Magistrados da Bahia), entidade que representa os juízes do estado –entre os representados está a própria desembargadora que propôs a delação.

O advogado de Sandra e de Vasco, Pedro Henrique Duarte, não nega nem confirma que seus clientes tenham firmado colaboração. Mas ele também virou alvo das ações judiciais. E agora pede investigação contra a presidente da Amab por suposta obstrução de Justiça.

O motivo dos atritos é que, no ano passado, começaram a circular supostas versões da colaboração em grupos em um aplicativo de mensagens, com menções a outros juízes e desembargadores, relacionando-os a suspeitas de irregularidades.

Essas versões da delação nunca foram reconhecidas como autênticas e têm sido rechaçadas pela defesa de Sandra Inês, mas geraram pedidos de investigações sobre o suposto vazamento e contatos feitos à família da desembargadora.

Em áudios enviados a uma pessoa da família de Sandra Inês em 2 de setembro de 2020 e obtidos pela Folha, a presidente da Amab afirma que as negativas de soltura da desembargadora advinham do desejo de que ela delatasse. Também afirmou se preocupa com Sandra “porque a reação dos colegas em relação a ela foi muito, muito dura”.

“As pessoas ficaram muito chateadas, e a gente não sabe [os motivos], porque envolve muitos advogados, muita gente, é uma lista imensa, e fico até preocupada com a segurança dela”, afirmou a presidente da Amab, que disse ainda a ambas apagarem suas conversas no aplicativo de mensagens.

A presidente da Amab ainda afirma que gostaria de visitar Sandra Inês, que na época estava presa em regime fechado, mas disse achar que o encontro seria inoportuno e poderia ensejar suspeitas de que ela estaria tentando “convencê-la de alguma coisa”.

No mesmo áudio, a juíza Nartir afirma que no dia anterior, 1º de setembro, teria encaminhado um ofício à procuradora e à delegada responsáveis pelo caso para avisar sobre o vazamento da suposta lista da delação.

De janeiro a março deste ano, houve uma série de pedidos de providência tanto de sete magistrados mencionados na suposto termo de colaboração premiada quanto da presidente da Amab.

As petições dos magistrados foram enviadas ao STJ, com pedidos de consideração a respeito de eventuais vazamentos quando o ministro Og for decidir sobre a homologação. Também pedem acesso integral à delação.

Já as da juíza Nartir foram enviadas à subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo, responsável pela operação no Ministério Público Federal, pedindo que investigue eventual vazamento de informações e afirmando que havia possível quebra de sigilo.

Além dos pedidos de providências, os sete magistrados, representados formalmente pela Amab, ingressaram com uma representação na Justiça baiana em março deste ano contra o advogado Pedro Henrique Duarte, que representa a da desembargadora e seu filho.

Na interpelação, eles citam o suposto protótipo da delação que circulou em redes sociais e afirmam considerar o conteúdo “altamente ofensivo à honra e imagem”, dos magistrados e permeado por calúnias, injúrias e difamações.

Nesta segunda-feira (12), foi a vez do advogado Pedro Henrique Duarte ingressar com uma petição na PGR acusando a presidente da Amab, juíza Nartir Weber, de obstruir o desenrolar das apurações da Operação Faroeste, “envidando esforços no sentido de desmoralizá-la e quem quer que com ela colabore”.

Ele cita o áudio enviado à família da desembargadora, classifica o seu teor como estarrecedor e acusa a presidente da Amab de ameaçar Sandra Inês.

“Ao invés de apoiar as investigações […], a presidente da Amab prefere enveredar pelo caminho da impunidade, do acobertamento, da dissimulação”, afirma o advogado na petição.

Em nota à Folha, a presidente da Amab informou que, diante da circulação do que parecia ser uma delação premiada que expunha nomes de magistrados, foi instada pelos associados atingidos a tomar providências, o que motivou o pedido de abertura de investigação à PGR.

Sobre o áudio encaminhado à família de Sandra Inês, a juíza Nartir Weber diz que a desembargadora sempre buscou apoio da Amab e, após ser presa, seus familiares passaram a entrar em contato com ela buscando apoio institucional.

“A preocupação externada decorreu da exposição que naturalmente ela se submeteria, externada em um contexto de naturalidade e diálogo com alguém que buscava auxílio institucional”, afirma.

Sobre a petição da defesa de Sandra Inês que a acusa de obstrução de Justiça, a presidente da Amab disse desconhecer o seu teor, razão pela qual não iria se pronunciar.

A guerra de narrativas e versões tem sido uma marca da Operação Faroeste, que envolveu produtores rurais, magistrados políticos e até um falso cônsul.

Com a primeira fase deflagrada há menos de um ano e meio, a operação teve origem em uma disputa de terras na divisa da Bahia com o Piauí e o Tocantins e se expandiu com a ajuda de delações premiadas.

Foto: divulgação

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