O que você faria por um filho? Dedicação, cuidado e busca pela melhor qualidade de vida possível não são exclusividade das mamães e papais de humanos. Há tutores que se entregam na mesma medida aos seus animais de estimação, ou melhor, filhos de quatro patas. O mercado de cuidados para pets e o seu crescimento, mesmo em meio à crise, são uma prova disso.
O Brasil é o terceiro maior mercado de produtos pets no mundo, ficando atrás apenas da China e Estados Unidos. Em 2020, ano em que a maioria dos setores comerciais se viu em desespero, o mercado pet teve um crescimento de 13,5% em relação ao ano anterior, segundo o Instituto Pet Brasil. Em Salvador, empreendedores têm apostado nessa tendência, impulsionados pela própria experiência de amor aos seus bichinhos. É o caso de Nelber Bulcão, 23. Formado em design de interiores, mas atuando na área administrativa, Nelber viu uma oportunidade no mercado de pets após precisar submeter o seu cachorro, Duque, a uma cirurgia.
Antes de realizar o procedimento, Nelber pesquisou formas de tornar o pós-operatório do animal mais rápido e eficaz. Acabou encontrando a chamada alimentação natural para pets. “Me fez ficar bastante curioso saber que a sua alimentação poderia influenciar nesse processo de cicatrização”, relembra. Duque passou, então, por uma transição alimentar, deixando a comida industrializada de lado – a ração – durante o seu pós-operatório.
A partir de posts no Instagram, mostrando a sua rotina com Duque, os seguidores de Nelber passaram a se interessar pela tal alimentação natural, também conhecida como AN. “A AN nada mais é que uma dieta balanceada composta por nutrientes. É uma refeição saudável que promove melhor qualidade de vida”, explica Nelber. O designer aproveitou estar tão comprometido com as refeições do seu animal que decidiu se lançar nesse novo ramo. Convidou um veterinário nutrólogo para montar um cardápio para pets e, assim, há menos de um mês, nasceu a Duque Food.
Ele está iniciando o processo de prospecção de novos clientes, para além daqueles seguidores que já o conheciam e se interessaram espontaneamente pela alimentação natural para pets. Para isso, está investindo nas redes sociais e vendas online.
Mundo animal
Outro caso de amor por animais que está se tornando um negócio é o do jornalista Luís Fernando Pereira, 40. Desde 2012, ele está envolvido com o mundo animal, trabalhando como voluntário em abrigos. Logo no ano seguinte, tornou-se diretor em uma ONG, onde permanece até hoje. Envolveu-se de imediato com a área de adoção, em que, depois de encontrar um lar para cães e gatos, fazia também acompanhamento com os tutores.
A partir de então, Luís Fernando foi adquirindo traços de um adestrador, sendo até chamado assim por alguns amigos. Mas prefere se descrever como um “estudioso em comportamento animal”. Sempre que dava, se dispunha a ajudar tutores a lidar com seus bichinhos. Mas essa atividade nunca foi para ele um comércio. Apenas neste ano, em 2021, é que o jornalista decidiu, junto com sua amiga e também jornalista Camila Botto, abrir uma creche canina.
Inaugurado na última terça-feira, 13, o Club do Focinho já foi um sucesso mesmo antes de abrir as portas. A partir do anúncio do novo empreendimento, dezenas de pessoas se interessaram e se inscreveram na fila para matricular seus cães. “Antecipamos a inauguração por conta de toda essa demanda que a gente não achou que ia ter”, conta Luís Fernando.
Para matricular o animal na creche, os donos precisam passar por uma entrevista e o cão por uma análise comportamental. O objetivo é entender o perfil daquele animal para que a experiência não se torne frustrante para ele. Luís Fernando explica que essa análise tem a função de responder duas questões: o cão lida bem com a ausência do tutor? E como ele reage a pessoas estranhas?
O sucesso já anima Luís Fernando, que vê esse empreendimento para além da perspectiva empresarial. Junto com Camila, buscou um conceito que desse à creche um motivo de ser. “Não adiantaria começar um trabalho por começar, só pelo comércio mesmo. A gente quer uma creche canina que tenha essa conexão com a natureza e não um espaço de concreto, onde vamos colocar brinquedos e fazer os cães terem exercício físico”.
Zen
Uma outra prática já conhecida dos humanos, mas que tem ganhado destaque no mundo animal é a acupuntura veterinária. O cantor e compositor Alex Góes, 51, a conhece bem. Já realizou o tratamento em duas cadelas, com problemas distintos.
A primeira, Bailarina, morreu em dezembro do ano passado, aos 14 anos. Após desenvolver artrose em uma das patas, ela sentia dores e tinha dificuldade para andar. A acupuntura lhe dava alívio. “Quando você conhece o seu cão, você percebe mais disposição quando ele está sentindo menos dor, mais vontade de se locomover, mais apetite, todo o jeitão geral melhora”, considera Alex.
Agora, poucos meses após a passagem de Bailarina, ele está cuidando de outra cadela sua com o tratamento da acupuntura. A cadela se chama Irmã e desenvolveu epilepsia. Coincidentemente, a neurologista de Irmã acabou prescrevendo a acupuntura veterinária para auxiliar no tratamento da doença. Alex, então, acionou novamente a veterinária Vânia Dantas, que já o acompanha desde Bailarina, há mais de um ano.
Vânia, assim como Nelber, foi motivada por uma experiência pessoal a seguir pelo caminho da acupuntura veterinária. Ainda na graduação, uma cadela de sua família, chamada Pink, foi diagnosticada com hérnia de disco na cervical. Ela, que já conhecia a acupuntura em animais, chamou um veterinário acupunturista para cuidar de Pink. Vendo a prática de perto, se apaixonou.
Hoje, Vânia atende em média 15 animais por mês, sendo essa quantidade bastante variável. Dentre os pacientes, predominam os cães e gatos mais idosos, com problemas articulares ou com câncer. Mas há momentos em que surgem jiboias, equinos e aves, encaminhados por outros profissionais, para movimentar a rotina de Vânia. “Pode-se dizer que todos os animais podem se beneficiar com a acupuntura. A maioria se beneficia muito, contanto que a gente respeite até onde conseguimos manipular esses animais, a forma de tratamento é tranquila”, explica a veterinária.
Foto: divulgação