Entidades produtivas na Bahia emitiram uma nota conjunta, solicitando ao prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), e ao governador da Bahia, Rui Costa (PT), o retorno imediato das atividades da cadeia produtiva em toda a Bahia. Assinam a nota o presidente da Fecomércio, Carlos Andrade, da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Ricardo Alban; o vice-presidente da Federação das Câmaras dos Dirigentes Lojistas (FCDL), Antoine Tawil; e o presidente da Federação das Associações Comerciais da Bahia, Clóvis Cedraz.
O pedido vem um dia após economistas e acionistas de instituições financeiras divulgarem uma carta aberta criticando o modo como o governo federal está conduzindo as ações de combate à pandemia do novo coronavírus e de assistência aos afetados pelas medidas restritivas para evitar a disseminação do vírus respiratório. “A ciência nos mostra que a única saída para o controle da pandemia é a vacinação. Mas até que as vacinas sejam aplicadas em larga escala, o entendimento é que a cadeia produtiva precisa retomar as atividades. A Fieb, a Fecomércio-BA, a FCDL e a Associação Comercial da Bahia e outras representações pleitearam recentemente, tanto ao governo do Estado quanto à prefeitura de Salvador, a retomada gradual das atividades, seguindo todos os protocolos sanitários. Para o retorno das atividades em Salvador, apoiam a criação de um escalonamento para o funcionamento das empresas, de forma a minorar as aglomerações no serviço de transporte público”, destaca o texto.
No documento, as entidades também elencam pleitos de flexibilização fiscal, com parcelamento de tributos e isenções, além da prorrogação automática de licenças, certidões e do prazo de recolhimento do ICMS para fazer face às dificuldades. “São medidas que podem assegurar fôlego até que seja possível superar o pior momento desta pandemia. Temos uma especial preocupação com os pequenos empreendimentos industriais e comerciais, que acabam sendo a parcela mais frágil da cadeia produtiva e que também precisa de um tratamento diferenciado”.
Os dirigentes das federações do comércio afirmam enxergar com “preocupação os contornos que esta situação pode tomar com o aumento do número de desempregados”. Eles lembram que “são as micro, pequenas e médias empresas” as principais empregadoras no país e reforça que “no ritmo que a economia vai elas não vão conseguir sustentar por muito tempo, o que pode colocar no mercado milhares de pessoas em busca de emprego e acentuar ainda mais a crise econômica das famílias brasileiras”. Os presidentes e vice das federações baianas sinalizam no comunicado que a “mobilização recente dos mais importantes players do mercado financeiro” insere-se “neste contexto de insegurança que a pandemia trouxe para a sociedade como um todo” e na defesa de “ações coordenadas para enfrentamento da crise e para garantir o apoio institucional aos mais vulneráveis”.
Mercado Financeiro
Na carta aberta divulgada no último domingo, 21, ex-ministros da Saúde e ex-presidentes do Banco Central criticaram o processo de vacinação no país, que encontra-se em um estado de “atraso” e com um ritmo em que levará ao menos “três anos” para todos serem imunizados. Eles destacaram que não será possível o retorno da economia no país com a pandemia em “estado de descontrole”.
A carta foi subscrita pelos ex-ministros da Fazenda Pedro Malan, Maílson da Nóbrega, Marcílio Marques Moreira e Ruben Ricupero, e os ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga, Affonso Celso Pastore, Gustavo Loyola, Ilan Goldfajn e Pérsio Arida, além de pessoas ligadas ao mercado financeiro, incluindo o conselheiro do Itaú Unibanco, Pedro Moreira Salles, e o presidente do Credit Suisse, José Olympio Pereira.
“Estamos no limiar de uma fase explosiva da pandemia, e é fundamental que, a partir de agora, as políticas públicas sejam alicerçadas em dados, informações confiáveis e evidência científica. Não há mais tempo para perder em debates estéreis e notícias falsas. Precisamos nos guiar pelas experiências bem-sucedidas, por ações de baixo custo e alto impacto, por iniciativas que possam reverter de fato a situação sem precedentes que o país vive”, destacou os membros do mercado financeiro na carta aberta.
Nesta segunda-feira (22), um dia após o manifesto do mercado financeiro, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), disse que o empresariado acredita em sua gestão: “Eu agradeço a todos vocês por acreditarem no Brasil e acreditarem no nosso governo”.
Negligência
O cientista político e professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Cláudio André, avalia que a divulgação de uma carta aberta por membros do mercado financeiro significa uma saída da “zona de conforto” e principalmente uma demonstração do cansaço no “diálogo isolado que tiveram durante a pandemia e até aqui, com o ministro da Economia, Paulo Guedes”. “A avaliação que eles fazem na carta, e que parece correta, é que há um processo de derretimento da economia brasileira e da sua confiança, colocado em um horizonte de instabilidade que resulta diretamente de uma leniência, de um desleixo por parte do Federal no combate à pandemia do novo coronavírus”, destacou André.
Cláudio André insere a nota dos economistas e banqueiros em um momento em que o país enfrenta um cenário de “dificuldade econômica” e de “descontrole da pandemia”, com “aumento de novos casos e de óbitos provocados pela Covid-19”. Ele sinaliza que já é perceptível um “processo de desestruturação de cadeias e segmentos econômicos” no país e o recado do mercado financeiro é que parte dele “se cansou do que Bolsonaro tem feito enquanto líder do país e principal responsável pela gestão da pandemia”.
Sindicato
Já o vereador e presidente do sindicato dos Bancários da Bahia, Augusto Vasconcelos (PCdoB), criticou o presidente, que segundo ele é o responsável por levar o país a um “isolamento internacional sem precedentes”. “Bolsonaro levou o país a um isolamento internacional sem precedentes, ampliando a tragédia sanitária com fortes repercussões econômicas e sociais. Não é à toa que até o sistema financeiro tem se posicionado contra as medidas adotadas pelo governo federal, como a falta de coordenação do MS e a negligência na compra das vacinas e no diálogo com os governadores e prefeitos, o que levou a uma amplificação do número de mortes”, destacou Vasconcelos. ( A Tarde)
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