Anunciado ontem como novo ministro da saúde, o médico Marcelo Queiroga tem algumas características importantes para apresentar em seu currículo. Dentre elas a sua clara aversão ao lockdown e seu pensamento de debate sobre a questão da medicina e da covid com a academia.
Centrão frustrado com amigo de Bolsonaro na saúde: Políticos aliados ao governo Bolsonaro, principalmente do Centrão, descartam a concessão de carta branca ao novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na condução dos protocolos para combate à pandemia. A decisão de indicar Queiroga – e não Ludhmila Hajjar – frustrou o Centrão e também ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que pediram ao presidente nos últimos dias uma guinada no Ministério da Saúde com a escolha de um nome técnico, como o da médica, que defende posições contrárias ao negacionismo do governo.
Eles dizem que Queiroga é uma escolha pessoal do presidente – nas palavras de um auxiliar direto, “uma escolha familiar”, já que Queiroga é ligado ao senador Flavio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Por conta da proximidade de Queiroga com a família, esses aliados avaliam que o novo ministro seguirá ordens do presidente, fazendo uma gestão de continuidade. Observam, como termômetro, se ele conseguirá nomear uma equipe diferente da de Pazuello, por exemplo, ou se terá de manter assessores que agradam ao presidente.
Parlamentares afirmam que, em um primeiro momento, a troca na Saúde servirá para dar impressão de que há uma “nova roupagem” para o discurso sobre a Saúde, pois vai “zerar” a discussão sobre a vacina – ou seja, diferentemente de Pazuello, que coleciona passivos menosprezando a vacinação em linha com o discurso do presidente, o novo ministro vai adotar a tônica de que a vacinação é prioridade. No entanto, acreditam parlamentares, Queiroga dificilmente irá contrariar o presidente publicamente a respeito de tratamento precoce – bandeira de Bolsonaro sem comprovação científica –, isolamento e lockdown.
Debate na academia: o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) determinou um “amplo debate com a comunidade médica” para lidar melhor com a pandemia da Covid-19. O presidente confirmou ontem (15) que o atual comandante da pasta, Eduardo Pazuello, deixará o cargo e, para o substituir, foi convidado o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Queiroga. O médico aceitou o convite e será o quarto ministro da Saúde da gestão Bolsonaro. “O presidente determinou que se fizesse um amplo debate com a comunidade médica para que a gente harmonize mais as relações e tenhamos um resultado melhor diante da pandemia”, declarou Queiroga. A orientação difere do que vem sendo feito pelo chefe do Executivo e pelo até então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Desde o início da pandemia, o presidente contraria as recomendações de especialistas e de autoridades sanitárias.
Perfil: Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcelo Queiroga será o quarto ministro da Saúde desde o começo da pandemia de Covid, há pouco mais de um ano. O Brasil acumula mais de 278 mil mortes em razão da doença. Antes de Queiroga, comandaram o ministério o médico e ex-deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS); o médico Nelson Teich; e Pazuello. Queiroga é defensor da vacinação contra Covid. Em um vídeo na página da Sociedade Brasileira de Cardiologia, ele fala da importância da imunização para combater a pandemia. Em 20 de janeiro, ele aparece em outro vídeo tomando a vacina.
Em maio, a Sociedade Brasileira de Cardiologia, presidida por Queiroga, recomendou que a cloroquina, a hidroxicloroquina e azitromicina não fossem usados contra o novo coronavírus. Os medicamentos são defendidos até hoje por Bolsonaro mesmo sem ter efeito contra a Covid-19. Depois da repercussão da nota, a entidade recuou e divulgou nova nota, em parceria com o Ministério da Saúde, em que abria a possibilidade de pacientes receberem cloroquina e hidroxicloroquina após assinarem termo de consentimento.
O cardiologista é muito próximo da família Bolsonaro, principalmente do senador Flávio Bolsonaro. Depois da eleição de Jair Bolsonaro, Marcelo Queiroga participou da equipe de transição de governo, dando opiniões na área de saúde. Em abril de 2020, em entrevista à GloboNews, Marcelo Queiroga falou sobre a importância do isolamento social: “O isolamento social visa a reduzir aquele pico de pessoas que precisam de internação hospitalar. É uma medida recomendada pelas autoridades sanitárias de uma maneira homogênea”. E também defendeu o Sistema Único de Saúde: “Fortalecimento do SUS – esse é o recado que essa pandemia traz para todos nós brasileiros”.
Formação
Marcelo Queiroga é natural de João Pessoa. Formado em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba, fez residência em cardiologia no Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro. Tem especialização em cardiologia, com área de atuação em hemodinâmica e cardiologia intervencionista. Em dezembro do ano passado, Queiroga foi indicado por Bolsonaro para ser um dos diretores da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A indicação ainda não foi votada pelo Senado Federal. No currículo enviado ao Senado, Queiroga informou ser diretor do Departamento de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (Cardiocenter) do Hospital Alberto Urquiza Wanderley, em João Pessoa, e cardiologista do Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, em Santa Rita (PB).
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