O problema não foi a demissão do presidente da Petrobras, afinal essa é uma prerrogativa do Presidente da República. O problema não foi a queda de 20% no preço das ações da empresa no dia seguinte, pois na bolsa as ações caem num dia e sobem no outro. O problema foi a forma intempestiva com que o Presidente demitiu o gestor da maior empresa do país, gerando incertezas no mercado, afugentando investidores, fazendo alguns operadores ganharem milhões e deixando no ar a dúvida quanto a manutenção ou não da política de preços da Petrobras.
Essa política depende da cotação do dólar e do preço do barril de petróleo. E, embora o governo não controle a última variável, é o responsável pelo câmbio. Quando Jair Bolsonaro assumiu a presidência, a cotação do dólar estava em R$ 3,20. Um ano depois era 30% mais alta e atualmente custa R$ 5,45. Reduzir a incerteza econômica e a cotação do dólar faria com que os reajustes dos combustíveis fossem menos acentuados. E falar que vai reduzir impostos é conversa pra boi dormir. O governo não pode reduzir impostos sem indicar a fonte que vai cobrir o rombo.
Assim, a retirada do imposto federal no diesel e na gasolina por dois meses foi jogo de cena e terá de ser coberto, sob pena do presidente cometer uma pedalada fiscal. E o mesmo se dá com o bolodório sobre a redução do ICMS dos combustíveis com o qual o presidente quer jogar o problema no colo dos governadores. Imposto sobre combustíveis representa cerca de 25% da arrecadação dos Estados, uns mais outros menos, e para retirar esse imposto sem uma revolta de governadores será necessário encontrar uma fonte de arrecadação para substituí-la, o que parece impossível num país cujo déficit público explodiu e a dívida interna já representa 100% do PIB.
E mesmo que fosse possível reduzir o ICMS dos combustíveis isso não mudaria a essência do problema, pois, embora os preços caíssem num primeiro momento, eles continuariam sendo reajustados duas, três, ou quantas vezes fossem necessárias de acordo com o preço do barril do petróleo e a cotação do dólar. Sem mexer nisso, não há grito de caminhoneiro ou rompante de presidente que resolva o problema. Eventualmente, poderia ser criado um fundo, uma espécie de amortecedor, para que os reajustes não fossem tão frequentes, mas isso já foi tentado com a famigerada “conta petróleo” e o resultado foi a União subsidiando a Petrobras, o que resulta em pedalada fiscal ou rombo na empresa.
Frente a esse cenário, o que Bolsonaro fez foi buscar um culpado e assim dar uma satisfação aos caminhoneiros. É como aquele técnico de futebol que, ao perceber que o time está perdendo, culpa o jogador ao invés de mudar a tática de jogo.
PRESIDENTE BIPOLAR
O caso da Petrobras fez muitos economistas aventarem a hipótese do Presidente Bolsonaro ser bipolar. A bipolaridade é um transtorno psicológico que tem uma fase de euforia na qual o ego age de forma agressiva e confiante e subestima os riscos. Confrontado com os erros, vem a remissão, ele se arrepende e tenta consertar. No dia a dia a bipolaridade de Bolsonaro é óbvia, mas na economia ela era contida pelo superego, Paulo Guedes, que, infelizmente, se tornou servil ao chefe. Demitir o presidente da Petrobras foi um arroubo bipolar, mas o mercado reagiu e Bolsonaro entrou em remissão. Então foi a pé ao Congresso garantir a privatização da Eletrobrás. Será que haverá novos surtos?
OTTO NA COMISSÃO DE ECONOMIA
O senador Otto Alencar, presidente do PSD na Bahia, foi eleito por aclamação presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. É o colegiado mais importante da casa, junto com a Comissão de Constituição e Justiça. A CAE discute e dá parecer sobre projetos econômicos e sabatina os dirigentes de instituições econômicas, como o Banco Central. Otto tem se destacado pela discussão dos problemas econômicos e já afirmou que não há solução para a economia sem vacinação em massa e se posiciona contra a revogação do gasto mínimo em saúde e educação proposta na PEC Emergencial. E na CAE disse que vai buscar um caminho para carrear recursos para o estado e para os municípios.