O deputado João Roma, que foi chefe de gabinete de ACM Neto e se dizia seu liderado, foi nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro para o Ministério da Cidadania. Seria, sob todos os aspectos, uma demonstração clara de que o Presidente do DEM havia efetivamente se alinhado ao governo. Mas não, surpreendentemente o ex-prefeito considerou lamentável a aceitação, pelo deputado João Roma, do convite do Palácio do Planalto e o acusou no Twitter de desconsiderar a relação política e a amizade pessoal. E, além disso, ameaçou levar o DEM para a oposição e ainda exonerou alguns nomes ligados a Roma.
Ora, frente a esses fatos só há uma conclusão: o presidente Bolsonaro botou Neto no bolso, como se diz popularmente, não acatou seu apelo para não nomear o seu auxiliar e vinculou seu nome a ele mesmo sem sua autorização. Essa parece ser a única explicação, afinal um deputado desconhecido nacionalmente, com pouca expressão no seu partido e menos ainda no Centrão jamais seria nomeado ministro não fosse sua ligação com Neto.
O esforço dos Republicanos em justificar a escolha de Roma soou até ridículo, pois o deputado jamais teve ligação com o partido e muito menos com suas teses evangélicas. Roma foi nomeado ministro unicamente por ser ligado a ACM Neto e assim fica claro que houve uma traição explícita do deputado, que não atendeu aos apelos do seu mentor para não aceitar o cargo, como o próprio Neto afirmou ao dizer que ele não considerou a “relação política e a amizade”.
Fica explícito também que Bolsonaro fez uma jogada política de mestre, pois quebrou o eixo que sustentava a estratégia do DEM baseada na ideia de que não apoia o governo, mas também não descarta o apoio à reeleição do presidente. Era uma estratégia perfeita que daria tempo ao partido de se posicionar apenas quando o quadro eleitoral estivesse definido, mas Bolsonaro a jogou por terra ao colocar no seu ministério um quadro umbilicalmente ligado ao presidente do DEM.
Então justifica-se o título dessa coluna, pois Bolsonaro foi politicamente mais esperto que Neto, deixando-o sem alternativa política que não seja o rompimento com o governo, o que parece impossível dado os interesses dos deputados e das lideranças partidárias, ou o alinhamento total a Bolsonaro. E João Roma, vamos usar o verbo correto, traiu o ex-prefeito, indo frontalmente contra suas posições. Ou, então, todos nós estamos fazendo papel de bobo e tudo o que aconteceu já estava planejado com a nomeação de Roma sendo o resultado do apoio de ACM Neto à eleição de Arthur Lira para a presidência da Câmara e sua indignação seria apenas jogo de cena para iludir a plateia.
Não parece que seja assim, afinal, as declarações do ex-prefeito foram contundentes e sua indignação com o governo e com o deputado João Roma parecem real. Mas será difícil manter essa indignação tendo no governo um ministro capaz de apoiar os prefeitos baianos, de levar obras aos municípios e assim fortalecer a candidatura dos deputados do DEM e de ACM Neto ao governo do Estado.
Mas a resposta será dada pelos próximos passos do presidente do DEM e pela relação que terá daqui para frente com o governo e com o Ministro da Cidadania, João Roma. Por enquanto, Bolsonaro ganhou o cabo de guerra e trouxe o DEM e seu presidente para ficar juntinho dele. (EP – 15/02/2021)