A corrida para imunizar o maior número de pessoas contra a covid-19 segue intensa em Salvador. A expectativa da prefeitura é a de vacinar mais de 30 mil idosos, acima de 80 anos, até o próximo domingo (14) – número mais de 4 vezes maior que o da semana passada, quando 7.150 dos 7.816 idosos maiores de 90 anos foram imunizados, segundo o secretário de Saúde de Salvador, Leo Prates. Ainda de acordo com ele, existem 20 mil idosos entre 80 a 84 anos na cidade e 10 mil entre 85 e 90 anos. Até às 14h de ontem, pouco mais de 75 mil pessoas foram vacinadas na capital baiana, segundo dados da Secretaria de Saúde da Bahia.
Desde que começou a imunização, no dia 19 de janeiro, a média é de 3.600 pessoas vacinadas por dia na capital. Se continuar assim, a capital baiana levará quase dois anos para vacinar toda a sua população. Mais precisamente, 801 dias. Ou seja, só em novembro de 2022 que todos 2.866.698 soteropolitanos estarão imunes da covid-19. Mas não é que falte logística para vacinação. O que falta, na verdade, é vacina. O prefeito de Salvador, Bruno Reis informou que, até domingo (7), Salvador tinha usado 96% do seu estoque. Como o município recebeu mais 18 mil doses do governo estadual, o percentual voltou a baixar – estava em 81,4% até a tarde desta segunda-feira. Essa, inclusive, é a orientação da Secretaria Municipal de Saúde (SMS): nada de deixar vacina guardada.
“Nosso problema, graças a Deus, não é de logística. Temos os profissionais, temos os insumos, temos os freezers de armazenamento e os veículos para transportar as vacinas. O problema de Salvador que é o problema de todas as cidades do mundo: as vacinas”, garante Bruno Reis. O prefeito relembrou a capacidade de vacinação do município em outras campanhas de vacinação, como da grupe. “Com a estrutura que tínhamos na influenza, chegamos a vacinar 70 mil pessoas em um dia. Quando apresentei o plano de imunização, tínhamos condições de montar pelo menos 9 drives. Nos só estamos funcionando com 6. Tínhamos condições de vacinar nas 153 unidades de saúde da prefeitura, mas só estamos vacinando em 16. Tínhamos 23 pontos de vacinação, mas só montamos dois, na Bahiana e na FTC. Então se despreocupem e não façam futurologia”, tranquiliza.
O prefeito admitiu, no entanto, que se continuar com a mesma disponibilidade de doses da vacina para o novo coronavírus, a imunização em massa vai demorar de chegar. Só que ele acredita que o cenário melhore nos próximos meses com a compra de novas doses pelo governo federal, como a Sputink V, da Rússia, a Covaxin, do consórcio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Jansen, da Johnson & Johnson. “Vai ocorrer um fornecimento maior de vacina, mas, nesse início, é nesse ritmo. O que vai determinar o tempo para finalizar a vacinação em massa em toda a nossa cidade e as fases é o fornecimento de vacinas. Ao longo do tempo, a gente vai poder acelerar esse fluxo, porque outras vacinas vão ser autorizadas”, argumenta Reis.
É justamente por conta da baixa quantidade de doses recebidas que nem todas as unidades de saúde estão aplicando as vacinas. “Não adianta eu pegar 20 mil doses e dividir por 150 postos de saúde, vai dar quase nada. Corre o risco de uma pessoa chegar no posto e não ter dose. Fora isso, quanto mais você reduz o público a ser vacinado, mais controle e segurança nós temos”, esclarece Prates. A ampliação de novos postos de vacinação dependerá, portanto, da quantidade de vacinas que serão recebidas pelo Ministério da Saúde.
O secretário ainda disse que a vacinação é facultativa, tanto para idosos quanto para trabalhadores de saúde, e que quem perdeu a data de vacinação, ainda pode receber o imunizante com o avanço das fases. “A gente começa no público-alvo, mas as pessoas podem se vacinar em qualquer etapa, ou seja, se um trabalhador da saúde não se vacinou na primeira fase, ele ainda pode se vacinar na segunda ou terceira fase, continua aberto para eles”, explica o secretário. A ideia, segundo ele, é vacinar pelo menos, até sábado, 91% do público acima de 85 anos.
A expectativa e ansiedade marcou o primeiro dia de vacinação de idosos acima de 85 anos em Salvador. Para garantir a dose, muitos idosos chegaram cedo na fila em alguns dos pontos de vacinação na manhã de ontem (8) – teve gente que às 6h da manhã já estava batendo na porta, antes mesmo do posto abrir, às 8h. “A gente termina abrindo antes, pensando neles, que saíram de casa para vir até aqui. Se tiver com tudo organizado e equipe para atender, a gente abre antes de 8h”, conta uma agente comunitária do posto do 5º Centro de Saúde Clementino Fraga, nos Barris. A fila do drive-thru, na mesma unidade, chegou até o Shopping Barra e teve fila de espera de 3 horas. Já para quem vinha a pé, o caminho estava livre.
Foi o caso da aposentada Erenice Suffi, de 84 anos. Todo o processo não durou nem 20 minutos. “Desde quando começou a falar na TV eu espero chegar meu dia. Deus é bom e agradeço a Ele. Pra mim, isso aqui que é saúde”, relatou Erenice, que veio acompanhada da amiga. Com isolamento rigoroso em casa, a aposentada estava nervosa dentro de casa, sem poder e querer sair. Agora, já pode comemorar, apesar de ainda faltar a segunda dose do imunizante.
Eufrozina Ramos, de 86 anos, também estava em severo isolamento. Com ajuda da filha, Ivone, de 63 anos, ela veio se vacinar no 5º Centro na manhã de ontem (8). Ivone e a sobrinha, que mora no andar de cima de seu apartamento, fazem as compras do mercado para que a mãe não precise sair de casa. Eufrozina, inclusive, já foi detectada por covid-19, em dezembro do ano passado, quando foi passar o réveillon na Ilha de Itaparica. Felizmente, ela não apresentou sintomas. “A gente nem sabia que ela tinha pego e ela pegou dentro de casa, mas ninguém sabe como”, conta a filha de Eufrozina, Ivone Ramos. Ao ver a mãe receber a dose da Coronavac, ela não deixa de esconder a alegria e o desejo de ser a próxima da fila: “Pelo menos a gente sabe que ela está imunizada e agora é ver se chega para a gente também”.
Já Joselita Barbosa, de 83 anos, fez questão de vir sozinha para o ponto de vacinação. O imunizante, para ela, é a fonte da juventude: “Essa vacina que estou tomando é para chegar até os 100”. Grupo de risco duas vezes por ser idosa e hipertensa, ela disse que vai comemorar quando chegar em casa com um bom prato de feijão. “Fiz arroz e feijão já ontem e tem um franguinho já ajeitado para quando chegar empanar no fubá de milho. Vou comer, tomar banho e assistir minha novelinha”, planeja a aposentada, que veio andando de Massaranduba. O isolamento também estava rigoroso, até começar o verão. “Só ia do quarto para a cozinha, da cozinha para a sala”, confessa. Agora, ela já vai ao mercado de vez em quando.
Outra pessoas que recebeu a primeira dose foi Guajarina Pantoja, de 89 anos. Acompanhada da filha em um braço e do neto em outro, ela não esconde o sorriso por trás da máscara. “Estou muito tranquila e temos a esperança de superar essa pandemia”, narra Guarajina. Ninguém de sua família pegou o Sars-Cov-2 e ela está isolada em casa. Após terminarem a vacinação dos idosos acima de 85 anos, o público-alvo da prefeitura serão os idosos com mais de 80 anos, a partir da próxima quinta-feira (11). Agentes comunitários de saúde do 5º Centro informaram que não é obrigatório apresentar o cartão do SUS para se vacinar, ao contrário do que foi divulgado pela prefeitura. Ninguém será impedido por isso. Também não é imperativo que a pessoa esteja cadastrada na unidade de saúde que tomará a dose. O cadastramento não está sendo feito no 5º Centro, e sim no posto da avenida Carlos Gomes e nas prefeituras-bairro do município. É preciso levar o documento de identificação e estar atento aos postos exclusivos para trabalhadores de saúde. Os idosos, segundo Leo Prates, podem se vacinar em qualquer ponto de vacinação.
Confira quais são os pontos de vacinação em Salvador:
(Correio)