O apoio em massa dos deputados do Democratas ao líder do centrão na disputa pelo comando da Câmara Federal, Arthur Lira (PP-AL), é interpretadas por apoiadores de Baleia Rossi (MDB-RJ) como uma sinalização do avanço da candidatura do pepista sobre a base de apoio do candidato à sucessão do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Baleia é o candidato oficial do Democratas, segundo informa o presidente nacional da legenda, ACM Neto. Irritado com o apoio de seus correligionários a Lira, que tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Maia afirmou, em uma reunião fechada no Rio de Janeiro, na última terça-feira, 27, que teme que decisão dos parlamentares contra recomendação partidária possa passar a imagem do DEM como o “partido da boquinha”.
No mesmo dia, ACM Neto, em entrevista ao site Congresso em Foco, disse que não poderia “fuzilar uma pessoa que está votando no Arthur Lira” e reforçou que o apoio ao candidato do PP “não é a posição do partido”. Em Salvador, ao ser questionado pelo A TARDE se o apoio dos parlamentares do Democratas estava ligado a um acordo com ACM Neto para 2022, quando deve tentar uma candidatura ao governo, Lira disse que o DEM não tinha oficializado o apoio à Baleia Rossi. “Essa costura faz parte do que venho pregando, já que oficialmente o Democratas não está com Baleia. Estaria se estivesse 50% das assinaturas mais uma. Uma sinalização tudo bem, mas não confirmou. Essa eleição do segundo biênio ela tem mais haver com os relacionamentos pessoais, a escolha do perfil do candidato, do que muitas vezes das escolhas dos partidos ou blocos”, destacou Arthur Lira.
O prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), comentou nesta quarta o posicionamento do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM). “Ninguém manda em voto de ninguém. Com todo respeito ao presidente e líder de partido, os deputados votam conforme a sua convicção”, disse. Na última segunda-feira, 25, Arthur Lira esteve em Salvador, onde se encontrou com o governador Rui Costa (PT) e ACM Neto. Em um almoço, os deputados baianos do DEM declararam apoio para Lira. “Em uma relação de parlamento existe muita relação pessoal e a bancada da Bahia sempre teve uma relação muito pessoal com Arthur Lira. Óbvio que como prefeito, vou buscar o entendimento, mas não é bem assim”, afirmou Reis.
Racha no PSL
Nesta quarta, o candidato do MDB à presidência da Câmara pode ter sofrido outras baixas. O presidente Jair Bolsonaro, durante conversa aos apoiadores na porta do Palácio do Planalto, após se reunir com 30 parlamentares do PSL – partido de Luciano Bivar que apoia Baleia Rossi -, declarou que irá “influir” na eleição. “Viemos fazer uma reunião com 30 parlamentares do PSL e vamos, se Deus quiser, participar, influir na presidência da Câmara com esses parlamentares, de modo que possamos ter um relacionamento pacífico e produtivo para o nosso Brasil”, afirmou o presidente da República. Procurada pelo A TARDE, a presidente do PSL Bahia, a deputada federal Dayanne Pimentel (PSL) reforçou que irá “seguirá o que for decidido pela Executiva Nacional do partido”.
Ofensiva
O vice-líder do PT na Câmara, o deputado federal Afonso Florence , vê com estranhamento o fato de todos os parlamentares do Democratas Bahia estarem apoiando o candidato de Bolsonaro, indo contra recomendação da sigla e do próprio presidente da legenda, que é o líder dos partidos de oposição ao governador Rui Costa (PT) no estado. “É óbvio que há um crescimento candidatura de Arthur e o caso da Bahia é um exemplo. Baleia é o candidato apoiado pelo DEM e a bancada do partido vai toda para Arthur? É difícil acreditar que isso tenha ocorrido sem um aval do presidente do DEM. Ao Rodrigo ir à público dizer que o partido dele estava virando o da “boquinha”, é porque está sabendo de alguma coisa após tomar esse golpe de ACM Neto.
Se o DEM da Bahia, que é o estado do presidente nacional, traiu como traiu, e ainda é chamado de partido da “boquinha” por Maia, isso é um sinal muito forte da ofensiva da candidatura de Arthur”, destacou Florence. Em anonimato, um parlamentar que integra um dos partidos que apoiam Arthur Lira no Bahia reforçou o discurso de Florence: “Os seis deputados da copa e cozinha de ACM Neto apoiando Lira sem ele ter dar o aval, porque agora se tornou democrático e esqueceu as lições do avô? Acredita mesmo que Neto vai botar areia na caçamba do MDB? Nunca”.
O vice-líder do PT acredita que o bloco de oposição, formado por partidos de esquerda e centro-esquerda, que declarou apoio ao candidato à sucessão de Maia no comando da Câmara, acredita que traições serão pontuais. Ele sinaliza que o crescimento da candidatura de Lira está sendo em cima da candidatura de Baleia Rossi. “O crescimento mais recente é em cima do DEM.. O PSL indo para lá. Há ambiente de crescimento da candidatura de Artur, mas vamos ver se a candidatura de Baleia consegue algum movimento para estancar esse processo. Mas acho que ainda é cedo para um prognóstico mais seguro de vitória de um dos lados”.
A deputada federal e presidente do PSB Bahia, Lídice da Mata, acredita que sua legenda deverá ter dissidentes, e sinaliza que isso deve ocorrer até no partido de Lira; mas reforça que a maioria deverá apoiar Rossi. “O PSB não é o único partido [que deve haver traições]. Eu acho que até o partido de Arthur Lira terão deputados que não votarão nele. O processo de formação de chapa em uma eleição com mais de 500 deputados não é uma coisa simples, principalmente com o nível de crise política que o Brasil vive. Acho que teremos gente do PSB que não votará em Baleia, mas a maioria do partido votará em Baleia, tanto é que tivemos maioria para votar o requerimento de integração ao bloco de Baleia”, destacou Lídice da Mata (PSB).
O PDT é outro partido que deve sofrer com dissidentes na eleição. Um parlamentar da legenda afirmou, em anonimato, que a divisão de votos nacionalmente deverá ser de 40% para Lira e 60% para Baleia. Questionado, o presidente do PDT Bahia, o deputado federal Félix Mendonça, reforçou que “o PDT Bahia votará seguindo recomendação do diretório nacional”. O Diretório Nacional da legenda decidiu integrar o bloco de apoio à Baleia Rossi.
Chão de plenário
A relação interpessoal é um dos fatores apontados por parlamentares como uma vantagem competitiva de Arthur Lira (PP-AL) em relação ao candidato Baleia Rossi (MDB-SP). O deputado federal Bacelar (Podemos) destaca que “Artur é o candidato que tem uma identidade muito grande com o legislativo”, uma “história de defesa do legislativo,da boa convivência com os colegas, aceitação da diferença, da discordância e das coisas que são característica de um parlamento”. Bacelar define o candidato do PP como um “homem do chão do plenário”:
“Quando eu quero falar com Arthur encontro no chão do plenário da Câmara. Ele conhece o funcionamento da Casa, os anseios dos deputados. Sabe dar ritmo à sessão, haja visto o grande presidente que foi na CCJ. Não vejo Baleia com essa identidade. Ele não é um homem de plenário, de chão de plenário muito menos. Não é homem de estar no plenário, nas discussões”, destacou Bacelar.
A deputada federal Alice Portugal (PCdoB), defensora do Impeachment de Bolsonaro, avalia que tanto Baleia como Lira são candidatos suscetíveis à pressão popular e que poderão dar início a comissão que poderá analisar um dos mais de 60 pedidos de impeachment contra o presidente da República protocolados na Casa. Uma das pautas do bloco de oposição para fechar o voto de confiança em Rossi passou pela sua promessa de, havendo indício de crime de responsabilidade pelo presidente da República, convocar a comissão de impeachment”.
“Na minha opinião, é possível que em qualquer das suas situações [vitória de Lira ou Baleia], com as ruas se manifestando, conseguir o afastamento do Bolsonaro. Ambos são muito suscetíveis à pressão municipalista, principalmente Lira. Os crimes de Bolsonaro existem e são muitos, fatos certos e determinados para CPI, que poderá ser da vacina, do leite condensado, da rachadinha, é CPI possível para todos os tipos de ações”, destacou Portugal.
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