A assistente social Iandra Lira, 46, aluga casas em Imbassaí, no Litoral Norte da Bahia, há quatro anos consecutivos, sempre durante o verão. Este ano, no entanto, o veraneio ficou mais caro, em torno de 25%. “Geralmente todo ano aumenta, mas esse ano acredito que aumentou um pouco mais por conta da pandemia. É a velha procura e demanda. A procura está sendo muito maior e, por isso, eles aumentaram mais do que o normal”, estima Iandra. Geralmente, Iandra encontrava casas com quatro suítes em Imbassai por R$ 650 a diária. Hoje, o mínimo é R$ 800. O aumento no valor da diária, no entanto, chegou até 70% em Guarajuba, praia a cerca de 70 quilômetros de Salvador.
A tese da assistente social está correta. De acordo com corretores ouvidos pela reportagem, o número de interessados cresceu, o que fez os preços subirem. “Os preços subiram bastante e realmente a procura foi muito grande. Tem muita gente fugindo da pandemia. Então o movimento foi bem acelerado, ficou bem acima do ano passado”, revela o corretor Júlio César, 55, que mora em Guarajuba.
Segundo o diretor Noel Silva, do Conselho Regional de Corretores de Imóveis Bahia (Creci-BA), a demanda para o aluguel de casas de temporada teve alta de 50%. “A demanda aumentou exponencialmente. Principalmente nesse período de alta temporada, as pessoas estão cansadas de ficar em casa, apesar de necessário. Quem tem condição de alugar um imóvel desse não está pensando duas vezes”, explica o diretor.
Silva também pontua que dois novos tipos de veranistas surgiram esse ano: o que quis ter a praia no quintal de casa estando de home office e aquele que deixou de viajar para o exterior. “As pessoas estão alugando não só para efeito de lazer, mas também a trabalho. Tem gente vindo trabalhar, já que home-office virou uma coisa normal, principalmente entre empresários. Exatamente para essa finalidade de ficar perto do mar e ter mais conforto. Já que não pode aglomerar nem ter festa ou carnaval, as pessoas estão partindo para isso”, afirma o diretor.
Com as restrições sanitárias em meio a pandemia do novo coronavírus, o jeito foi trocar a viagem para o exterior pela Bahia. “A classe média alta e a classe alta, que todo ano viaja para a Europa e Estados Unidos, não está podendo por conta das restrições. Então praia é uma forma de eles buscarem lazer, e, no Brasil, praia é na Bahia”, conclui o diretor do Creci-BA. Particularmente, Noel esteve à procura de imóveis para passar o réveillon em Guarajuba, e ficou “assustado” com o aumento de preços: “Casa que alugava há um ano, um ano e meio, de alto padrão, por R$ 1 mil a diária, está hoje R$ 3 mil. Até eu que sou do mercado, fiquei assustado”.
Além disso, muitos dos proprietários que colocavam as casas para alugar não o fizeram este ano, para poder usufruir do imóvel. Com menos casas para ofertar, Juarez Rabelo, 43, basicamente dobrou o preço das diárias. Ano passado, encontrava-se a mesma propriedade por esse mesmo valor, porém, para o dobro da estadia, ou seja, 10 dias. Em novembro, uma diária chegou a custar R$ 10 mil, em uma casa na frente do mar de alto padrão e sete suítes. A mais barata, no período do Réveillon, por exemplo, foi R$ 14 mil por cinco dias. O crescimento no valor da estada foi de R$ 15 mil para R$ 18 mil, e de R$ 20 mil para R$ 25 mil.
“Esse ano houve uma diminuição nas casas que estavam para alugar, porque muitos proprietários desistiram de alugar e ficaram nas casas. A diária aumentou e não sobrou casa. Alugou tudo”, relata o corretor, proprietário da Guarajuba Imóveis, e que trabalha com imobiliária há 20 anos. Em todo o Litoral Norte, são 200 casas que ele tem disponível para alugar. Porém, em torno de 55 ficaram impossibilitadas para aluguel porque os donos as ocuparam.
A corretora Priscila Sastre, 41, dona da imobiliária Guarajuba Negócios há 10 anos, foi quem pontuou que seus imóveis tiveram aumento de 70%. Todos os anos, há um reajuste, e, por conta da procura, ele foi mais expressivo neste verão. “Esse ano teve mais por conta da procura, em torno de 70% em relação ao ano passado. Ainda está tendo muita procura, porque as aulas das crianças ainda não começaram. Porém, tivemos alguns cancelamentos”, afirma Priscila, que faz locação de 15 casas em Guarajuba.
Ela ressalta que o consumidor mudou um pouco de gosto: a busca pelos apartamentos, ao invés de casas, cresceu. Isso porque o público também se alterou. Se antes iam mais casais e amigos, hoje são mais famílias que alugam. “A procura maior é por apartamento, à beira mar ou à beira lago, e são famílias que vão com os filhos. A procura por casas deu uma reduzida. Antigamente, as pessoas preferiam mais casas, por irem em casais ou com amigos. Mas agora o apartamento virou um local de lazer para a família, porque o condomínio é quase um resort, com piscina, academia e restaurante”, esclarece a corretora.
As maiores diárias, segundo ela, são entre dezembro e fevereiro. Na alta estação, os preços variam de R$ 800, para um quarto e sala, a R$ 3 mil, em um apartamento de luxo, com cobertura. Já na baixa estação, os valores para os mesmos imóveis ficam entre R$ 450 e R$ 2 mil. Há quem não sentiu o aumento, como a empresária Sandra Borges, 52. Ela achou o custo-benefício em Guarajuba este ano melhor do que em 2020, quando alugou uma casa em Barra do Jacuípe.
“Sempre alugava em Barra do Jacuípe, mas, esse ano, consegui uma casa muito boa em Guarajuba e por um preço que consegui pagar, porque nos anos anteriores eram muito fora do meu orçamento”, conta a empresária. Ano passado, a casa em Jacuípe, com dois quartos e sem piscina custou R$ 5 mil por 10 dias. Já em Guarajuba, este ano, saiu por R$ 12 mil, 15 dias, uma casa com quatro suítes, ar condicionado em todos os quartos e piscina. “Achei bem mais em conta”, avalia.
O segredo foi alugar por mais tempo, pois o valor é diferenciado para quinzenas e para o mês. A escolha por Guarajuba foi por conta das praias. “Gosto das praias e por ser mais perto que a ilha. Aluguei um tempo em Itapatica, mas, como ficou perigosa e abandonada mudei para o Litoral Norte. A diferença esse ano foi que praticamente não fui à praia, ficamos mais na piscina e caminhadas pelo condomínio”, narra Sandra.
Já Iandra optou por Imbassai por conta da segurança e distância. “Sempre alugamos casa em Imbassai pela segurança, porque é condomínio fechado. E, por ser no Litoral Norte, fica perto de Salvador, então mesmo que a gente precise retornar pelo trabalho, a distância é pequena”, explica a assistente social. Este ano, assim como Sandra, o veraneio vai ser mais recluso. “O intuito é aproveitar mais a casa mesmo. Não tem muita badalação por conta da pandemia e só fica na casa pessoas da família, sem convidados”, narra Lira, que ficará com o esposo, a filha, os sobrinhos e a mãe deles. A estadia começou ontem e durará três semanas.
Foto: divulgação