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CAMINHONEIROS FICAM À DERIVA NO PÁTIO DA FORD APÓS FECHAMENTO

Redação - 17/01/2021 11:00

Debaixo de uma lona improvisada na lateral de um dos veículos, cinco homens se amontoavam na espera do café feito na modesta caixa de cozinha para se proteger da forte chuva que caía na manhã desta sexta-feira, 15, em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador. Ao longo do pátio da Ford, muitos outros, vindos das mais diversas partes do Brasil, se dedicavam às mais variadas tarefas para vencer o tédio e a incerteza da volta para casa e do recebimento do suado salário, já que recebem por comissão apenas no ato de entrega das mercadorias.

O anúncio do encerramento das linhas de produção da empresa no Brasil pegou cerca de 90 caminhoneiros que prestavam serviços para a montadora de surpresa. Em condições beirando a insalubridade, já que não possuem estadia, fornecimento de alimentação ou até mesmo acesso à água, captada das torneiras de um banheiro destinado para os vigias da planta da montadora, alguns já acampam nas boleias dos seus veículos desde o último domingo, 10, quando chegaram para realizar a descarga dos materiais no local.

“Cheguei no domingo aqui e só tinham dois caminhões. Aí nos disseram que só iam descarregar na terça-feira pois na segunda era folga da empresa. Quando chegou na segunda veio a notícia e desde então estamos nessa situação aí”, afirmou o motorista Denilson Santos, residente de Camaçari e que buscou a carga em Limeira, a 134km de São Paulo e 1964km de Camaçari.

De acordo com ele, que fazia a linha de transporte de carga da montadora desde 2018, a empresa não deu nenhuma satisfação que justificasse o não-recebimento das cargas, o que tem atrapalhado a vida de muitos dos trabalhadores já que não estão recebendo as diárias relativas ao tempo parado como era de praxe durante a atividade da fábrica. “A Ford não fala nada. Só tem um preposto nosso que tá tentando conseguir um local pra gente descarregar para que possamos ir embora. A maioria é pai de família e não é daqui. Aí tamo tudo garrado aqui desde segunda-feira, alguns desde domingo e até agora não se resolveu nada”, desabafou.

Ilhado desde segunda-feira, 10, Adriano ressalta saudade da família: ‘Nunca ficamos tanto tempo aqui’Ilhado desde segunda-feira, 10, Adriano ressalta saudade da família: ‘Nunca ficamos tanto tempo aqui’. Com 38 anos de estrada, o mineiro Adriano Souza, 63 anos, também lamentou o ocorrido e disse que jamais viu situação semelhante mas que, apesar das dificuldades o ânimo entre os motoristas tem estado controlado e a principal dificuldade têm sido a saudade da família. “A gente fica sabendo através do Whatsapp e do telefone né? Dá saudade. Até por nunca termos ficado esse tempo por aqui nessa linha. De vez em quando chegava cedo e voltava até no mesmo dia, era só descarrega. Agora, estamos tendo essa surpresa desagradável”, afirmou.

A incerteza do desemprego após o fechamento de uma linha de transporte tão produtiva, onde muitos dos entrevistados afirmaram ser sua maior renda, também tem sido uma fonte de preocupação entre os trabalhadores. “A gente carregou o caminhão lá [São Paulo] e tava tudo bem. Nem imaginaria uma situação dessa. Quando chegamos aqui, escutando pelo rádio é que ficamos sabendo. Foi uma decisão muito rápida, uma surpresa. Não está sendo fácil. Não sabemos o que vamos fazer, todos esses empregos ninguém sabe o que vai ser, é um desastre”, lamentou.

Foto: divulgação

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