Ao contrário do que desejam os milhares de desempregados pelo fechamento da fábrica da Ford em Camaçari, a solução para crise causada pela decisão da montadora norte-americana vai demorar de ser superada. Ainda que a notícia de que quatro montadoras chinesas estariam interessadas em assumir a operação – divulgada pela rede de televisão CNN – dificilmente a operação da fábrica seria retomada ainda este ano. E muito provavelmente em um patamar bem distante da capacidade atual de produção de 250 mil veículos por ano.
No comunicado em que anunciou às suas concessionárias a decisão de abandonar a produção de veículos no Brasil, a montadora sinalizou que tentou encontrar um parceiro para a operação, ou mesmo um comprador, antes de se decidir pelo encerramento das atividades. Segundo o comunicado, não houve interessados. “Num mundo ideal, a melhor solução seria encontrar um outro grande player disposto a ocupar o espaço”, explica Vladson Menezes, diretor-executivo da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). Como ponto positivo para uma eventual solução neste sentido, ele destaca a modernidade da estrutura, com equipamentos de última geração e um sistema de produção integrado a um porto, que facilita tanto o escoamento dos produtos, quanto operações de importação e exportação.
Por outro lado, o momento do mercado automotivo no país indica dificuldades para o plano de fazer a maior fábrica de automóveis da América do Sul retomar suas atividades de produção, pondera Vladson Menezes. Ele calcula que mesmo com uma definição rápida, o mais provável é que a retomada do processo de produção dificilmente se dê ainda este ano. “Eu vejo uma situação muito difícil de se reverter em 2021 porque a nova empresa não vai chegar hoje e começar a operar amanhã”, destaca.
“Quanto houver uma manifestação clara de interesse ainda será necessário que aconteça um processo de negociação com a Ford pelos equipamentos e com os governos, em relação aos incentivos fiscais”, calcula. Ele ainda acrescenta que existe a possibilidade de uma eventual empresa interessada ter planos de realizar uma operação menor que a tocada pela Ford até a última sexta-feira e, consequentemente, trazer menores impactos econômicos e gerar um número menor de empregos.
Empresas interessadas?
A rede de televisão norte-americana CNN informou que existem quatro empresas chinesas interessadas em assumir a operação da Ford em Camaçari. Seriam elas: Great Wall Motors, Changan Auto, Gelly e GAC. O Grupo Caoa, do empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, estaria por trás para trazer alguma dessas marcas ao país, de acordo com informações publicadas pela emissora. Procurada, a Ford afirmou que facilitará “alternativas possíveis e razoáveis para partes interessadas adquirirem as instalações produtivas disponíveis”. As montadoras chinesas não responderam os questionamentos da emissora sobre o assunto e o grupo Caoa afirmou que não iria comentar. Questionada, a assessoria do governo da Bahia informou que tomou conhecimento do suposto interesse das empresas chinesas através de notícias divulgadas pela mídia.
Na última terça-feira, o governo estadual realizou a primeira reunião de um grupo de trabalho criado para buscar soluções para o problema. A intenção é encontrar uma nova montadora para operar a fábrica em Camaçari. “Esse grupo irá trabalhar para apresentar o que a Bahia tem a oferecer para esses investidores, que é uma belíssima estrutura, já que temos a maior planta industrial automotiva da América do Sul, estrutura portuária, o parque tecnológico do Senai Cimatec Industrial, inclusive com campo de prova”, destacou o governador Rui Costa. Segundo ele, já foram enviados documentos para embaixadas de outros países, em busca de auxílio para encontrar uma empresa interessada em assumir a estrutura.
O governador também fez questão de reforçar que o estado vai dar todo o suporte necessário aos trabalhadores, inclusive com a elaboração de um banco de dados para servir de subsídio para empresas que possam vir a empregá-los. Além do governador Rui Costa e de trabalhadores da Ford, participaram representantes da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), do Sindicato dos Metalúrgicos da Bahia, da Casa Civil e das secretarias estaduais da Fazenda (Sefaz), Desenvolvimento Econômico (SDE) e Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre).
“Nesse momento, toda ajuda é significativa e esse grupo já está discutindo como trazer uma nova empresa para ocupar o parque em Camaçari, um pátio que com certeza não deve ser desperdiçado”, avaliou Júlio Bonfim, presidente do sindicato. Vladson Menezes lembrou que a fábrica de protótipos do Cimatec Park foi inaugurada em conjunto com a Ford e que o centro de pesquisas do Sistema Fieb deve ser o destino dos engenheiros que a Ford mantiver em seu centro de desenvolvimento na Bahia. Segundo ele, há um interesse por parte da Fieb em ampliar a parceria com a Ford na área de pesquisa e desenvolvimento de produtos. “Depende apenas dos planos da empresa”, diz.
O governo ainda está verificando a situação do terminal de uso privativo do estado, que está cedido à Ford em regime de comodato. Após o anúncio da empresa, o estado passou a avaliar os documentos relacionados à estrutura. Questionada sobre os planos para o porto, a Ford, por sua vez, informou não ter nada a comentar sobre o assunto.
Foto: divulgação