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PANTANAL: COMISSÃO ATRIBUI ALTA NAS QUEIMADAS A AÇÃO HUMANA

Redação - 10/12/2020 07:02

A comissão externa da Câmara dos Deputados que investiga as queimadas nos biomas brasileiros apresentou nesta quarta-feira (9) o relatório final sobre o Pantanal. O texto atribui o aumento das queimadas na região a “ações humanas criminosas” e “condutas estatais, no mínimo, ímprobas”. Para a comissão, seria “ingênuo” culpar somente as condições climáticas. Dados mostram que a área queimada somente neste ano supera em dez vezes toda a área devastada no Pantanal entre 2000 e 2018.

Isso porque, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas do Pantanal (INPP) e a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), 23 mil km² foram queimados neste ano. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2000 e 2018 foram 2,1 mil km² devastados. O parecer apresentado nesta quarta, de cerca de 300 páginas, foi elaborado pela coordenadora da comissão, deputada Rosa Neide (PT-MT), com base nas audiências públicas realizadas com especialistas nos últimos meses.

O documento traça um panorama da crise ambiental na região e traz recomendações para os poderes Executivo e Judiciário, além de sugestões de propostas legislativas a serem debatidas pelo Congresso Nacional. A comissão ressalta que as condições climáticas, com aumento da seca e das temperaturas e a falta de chuvas, foram um dos fatores que contribuíram para as queimadas, mas não o “único culpado”.

“Se apontássemos o ‘clima’ como o ‘único culpado’, estaríamos sendo mais que ingênuos, seríamos perniciosamente omissos, corroborando com ações humanas criminosas e condutas estatais, no mínimo, ímprobas. Mais que isso, se delegarmos puramente às condições climáticas o controle da situação, não só isentaríamos de culpa aqueles que a tem, como estaríamos dando aval para que situações como as deste ano voltem a ocorrer”, diz o relatório.

“Por isso, sem olvidarmos das excepcionalidades climáticas do ano de 2020 (que tendem a se agravar em razão das ‘mudanças climáticas’ em termos globais), é preciso ‘dar nome aos bois’, pois, se a ‘boiada continuar a passar’, as tragédias socioambientais continuarão a acontecer”, afirma o documento. Esse trecho faz referência indireta à declaração do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em reunião ministerial em abril, que sugeria que o governo aproveitasse que a sociedade e a imprensa estavam focadas na pandemia da Covid-19 para “passar a boiada” e mudar regras ambientais.

O relatório foi aprovado de forma simbólica pelos integrantes da comissão e será encaminhado ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O colegiado continuará em atividade, mas, a partir de agora, irá se debruçar sobre outros biomas brasileiros, como o Cerrado e a Amazônia.

Pecuária

O parecer ressalta que as mudanças climáticas vistas na região, com calor e seca recordes, estão ligadas, “de uma forma mais ampla, ao modelo de exploração econômica”. Segundo o documento, por questões econômicas, a pecuária tradicional, extensiva e sobre a pastagem nativa tem sido substituída por “modelos mais lucrativos de criação de gado”, que demandam pasto plantado, “implicando em desmatamento e no aumento do volume de massa vegetal seca”. “Nesse contexto, o uso de fogo, culturalmente aceito por séculos, ao que tudo indica, está sendo substituído pelo fogo para a abertura de pastagens”, diz o parecer.

O uso do fogo controlado é uma técnica em que se cria um fogo intencionalmente para consumir a maior parte da matéria orgânica. Assim, quando chegar a época da seca, os incêndios, se ocorrerem, são, em tese, menos danosos porque haverá menos matéria para ser queimada. Ao justificar o aumento das queimadas no Pantanal neste ano, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chegou a dizer que a “queima controlada” não havia sido permitida e que, por isso, a região do Pantanal tinha acúmulo de matéria orgânica que ajudou a disseminar as queimadas. Organizações não-governamentais, por outro lado, argumentaram que a destruição foi causada por ação do homem e que resíduos só ajudaram a piorar a situação.

No relatório, a comissão atribui o aumento de fogo causado por ação humana ao “descaso e até mesmo a atuação dolosa do atual governo brasileiro”. Para os parlamentares, o governo, por meio de declarações de autoridades, “incentiva, ainda que de maneira indireta, a atuação inescrupulosa de alguns, formando-se um perigoso círculo vicioso”. “Diante de tamanha inércia, ou melhor dizendo, de premeditada atuação negativa do governo federal, pessoas passaram a acreditar na impunidade e na desnecessidade de proteção ambiental, o que resultou em tragédias socioambientais jamais vistas ou sequer imaginadas”, diz o parecer.

Foto: divulgação

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