Candidato derrotado à prefeitura de São Paulo pelo Psol, Guilherme Boulos avaliou como positiva a campanha realizada por ele nas eleições deste ano. Após largar com pouco tempo de televisão e sem grandes recursos, ele chegou ao segundo turno com apoio dos principais partidos opositores ao grupo político do presidente Jair Bolsonaro. Na visão de Boulos, o principal resultado da campanha não pode ser medido avaliando somente os números finais do segundo turno. “Uma eleição e um processo histórico qualquer a gente não mede por uma foto, pelo dia da eleição e da apuração, com quantos votos cada um teve. Um fato histórico a gente mede por um filme, de onde a gente estava antes e onde sinaliza que a gente vá estar depois”, disse, em entrevista a Rádio Metrópole.
“Se a gente olhar o que foi 2018, ganhou a eleição a antipolítica, o sentimento de ódio e do medo. Foram esses os mobilizados para a vitória eleitoral do Bolsonaro. São esses sentimentos, sobretudo o ódio, que têm marcado a maneira como o Bolsonaro tem governado o país. Agora na pandemia há o desprezo à vida das pessoas, o ‘e daí’ e a ‘gripezinha’, com o Brasil chegando a 177 mil mortos, uma tragédia sem precedentes. Dificilmente em 2018, quando eu tive aí no estúdio, a gente conseguiria vislumbrar naquele momento que, menos de dois anos depois, na maior cidade da América Latina, a gente conseguiria fazer um contraponto tão forte ao bolsonarismo”, afirmou Boulos.
Guilherme Boulos também citou o tom da campanha no segundo turno. O embate entre ele e Bruno Covas (PSDB), prefeito eleito de São Paulo, teve tom ameno e sem ataques pessoais. “Não fizemos isso na lógica de destruição do adversário. Isso faz toda a diferença. Não fiquei a campanha inteira apontando que eu sou o anti-Doria e o anti-PSDB. Fiquei a minha campanha apontando qual é o projeto que a gente tem para São Paulo, para o país, para os valores, sociedade e combater a desigualdade social. Essa eleição mostrou que é possível, sem abrir mão de princípio, daquilo que a gente acredita e da coerência, fazer política de forma competitiva e voltar a mobilizar paixões a partir de uma luta política-eleitoral. Esse é o maior saldo e me fez sair com sentimento de missão cumprida”, destacou o candidato do Psol.
Questionado por Mário Kertész sobre o futuro da esquerda para 2022, Boulos defendeu que seja necessário união para enfrentar as forças políticas que cercam o bolsonarismo. “Se a esquerda, quem quer combater a desigualdade social e tem compromisso forte com a democracia e com o povo, tiver juízo, ela vai aprender as lições de 2018 e 2020. Essas lições mostram para a gente que ninguém sozinho é capaz de derrotar o atraso. Temos lideranças importantes na esquerda e respeito todos eles. Tenho o meu partido, sou do Psol, construo o Psol e acho que saiu mais forte dessa eleição, capacitado também para ter um papel maior de aglutinação. Mas com muita consciência e pé no chão de que ninguém, nem o Psol, nem o PT, o PDT, PCdoB ou PSB, nenhum desses partidos desse campo é capaz de, sozinho, derrotar o atraso”, disse.
“Não é possível sem unidade. A questão da unidade ser possível, eu vou além, é necessária. Vou dedicar a força política com que a gente saiu dessa eleição a ano que vem andar pelo país, conversar com lideranças, com forças partidárias para ajudar a costurar essa unidade. É uma unidade que pode chegar e eu espero que chegue em 2022 em termos mais avançados para eleição. Mas que também não pode ser costurada à véspera de eleição apenas com arranjo de nomes. Temos que falar de unidade de projeto e o que temos a oferecer ao povo brasileiro do termo de futuro e proposta”, acrescentou o membro do Psol.
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