O livro “A Organização”, da jornalista Malu Gaspar, traz novas revelações sobre a guerra de versões entre Marcelo Odebrecht e de seu pai Emílio Odebrecht na condução da delação premiada da empresa. O livro descreve depoimentos nos quais Marcelo acusa o pai de receber R$ 5 milhões em dinheiro vivo todo fim de ano. Esses recursos eram entregues pelo departamento que controlava o caixa dois da empresa e nunca foram declarados aos procuradores que negociaram a delação da Odebrecht.
Marcelo soube dos termos da delação negociada por seu pai, Emílio Odebrecht, quando estava na cadeia e escreveu uma longa carta, endereçada à sua mulher e a dois irmãos, para dizer que o patriarca da família estava mentindo aos procuradores. Segundo Marcelo, o pai se recusava a contar tudo que sabia sobre as relações da Odebrecht com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outros políticos com quem lidara.
A jornalista aponta pelo menos três executivos que participaram da distribuição de recursos do caixa dois da empresa e aproveitaram para desviar milhões de reais para contas pessoais, sendo o caso mais notório o do ex-diretor jurídico Maurício Ferro, cunhado de Marcelo e que hoje responde a processo na Justiça. Marcelo se considera traído por todos e rompeu com o pai durante o processo e eles não se falam pessoalmente desde o fim de 2016.
Marcelo foi demitido da empresa e a Odebrecht passou a acusá-lo de chantagem e foi à Justiça questionar um pacote de benefícios no valor de R$ 143,5 milhões que lhe foi concedido. Com o dinheiro bloqueado e sem ter como pagar despesas pessoais, Marcelo pediu ajuda a amigos para não ter que recorrer ao pai, que chegou a dirigir um apelo ao filho, segundo Gaspar. “Desça do pedestal e peça a seus pais as necessidades de sobrevivência da família”, escreveu Emílio a Marcelo. Segundo Gaspar, o empresário não se arrepende de ter rompido com os pais. “Para mim, eles estão mortos”, diz Marcelo. Com informações da Folha de São Paulo.