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NEGROS GANHAM 17% MENOS DO QUE BRANCOS DA MESMA ORIGEM SOCIAL, APONTA ESTUDO DA PUCRS

Redação - 20/11/2020 06:54

Um trabalhador negro ganha cerca de 17% a menos do que um branco, mesmo que ambos tenham origens sociais semelhantes. A conclusão é de um estudo do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS juntamente com a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (Rede ODSAL), publicado na revista científica Dados, do Rio de Janeiro. O artigo pode ser conferido no site da publicação.

A diferença salarial entre negros e brancos, de um modo geral, já é conhecida. Em 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou pesquisa que apontou que brancos ganham 68% a mais do que os negros. O que o estudo da PUCRS mostra é como as origens sociais também impactam nos ganhos. Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) de 2014, o grupo de pesquisadores projetou estimativas de renda para trabalhadores pretos e brancos que tenham origens sociais parecidas.

Os indivíduos foram divididos em dois grupos: os que vêm de família com o chamado “perfil branco” e o chamado “perfil negro”. Para estabelecer as características destes perfis, para fins de classificação de pesquisa, o grupo levou em conta itens que revelem a origem do indivíduo, como formação e ocupação dos pais, se houve migração entre estados ou não, entre outros dados verificados no bloco de mobilidade social da PNAD.

Para a pesquisa, foram usados os dados de pessoas com idades entre 20 a 64 anos e que estavam inseridas no mercado de trabalho. Dentro de cada grupo, os pesquisadores aplicaram variáveis, com base em dados da realidade, para estimar a renda de pessoas brancas e negras. A projeção resultou em uma diferença de 17% nos rendimentos de um indivíduo negro com as mesmas origens sociais do que um trabalhador branco. E isso vale tanto para o grupo social de perfil branco quanto para o grupo de perfil negro.

“Se você pega dois indivíduos com a mesmíssima origem social, com as famílias de origem exatamente iguais, um negro e outro branco, lá na ponta os negros vão sentir uma desvantagem pura e simplesmente pelo fato de serem negros”, afirma o coordenador da pesquisa, André Salata. Salata explica o dado com uma analogia: se você tem uma corrida de 100 metros, é como se o indivíduo negro largasse mais atrás, em função de sua origem social, carregando uma mochila pesada, que é a discriminação racial.

Na análise do pesquisador, a desigualdade racial é estrutural, e não se modifica rapidamente, já que está ligada à desigualdade social. É isso que explica a dificuldade dos cidadãos negros de migrarem socialmente, mesmo que tenham contextos semelhantes aos brancos. “O efeito raça, em si, parece bastante estrutural. Até tem indicações que poderia estar caindo, mas se existe, ela [a queda] é lenta”, observa o pesquisador.

Efeitos da raça nos rendimentos

Além do impacto do contexto social, a pesquisa também analisou em que períodos da trajetória dos negros a raça acaba sendo determinante. Para esta variável, os pesquisadores avaliaram o efeito da raça, ou seja, em quais momentos as consequências de ser negro ou branco são mais fortes. O mercado de trabalho e a definição salarial correspondem a 41,6% do efeito que a raça tem nos ganhos dos trabalhadores.

A escolaridade, por sua vez, corresponde a 41,3% do impacto que o efeito da raça nos rendimentos dos negros. E a alocação ocupacional corresponde a 17,1% desta estimativa. “Mesmo quando comparamos indivíduos com características semelhantes, os negros tendem a alcançar menor escolaridade, o que acarreta em rendimentos menores no mercado de trabalho”, observa Salata.

“É necessário ter uma visão mais abrangente no combate às desigualdades raciais. Elas começam na própria origem social, passam pela escola e se reforçam no mercado de trabalho. Como resultado, mais de 130 anos após a abolição da escravidão, ainda convivemos com uma sociedade onde a desigualdade racial é gigantesca”, conclui o professor da PUCRS.

Foto: Reprodução/RBS TV

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