A economia circular tem o potencial de transformar cadeias de valor e atender as expectativas de mudanças por práticas sustentáveis advindas de consumidores, lideranças globais e investidores. Com isso, a perspectiva é que a circularidade apresente oportunidades de negócios globais da ordem de US$ 4,5 trilhões até 2030. As informações são de Mathew Govier, diretor da Accenture, em palestra no Núcleo Economia Circular, da BW Expo Summit e Digital 2020, que termina nesta quinta (19). Para participar do evento ou rever as apresentações, basta clicar aqui.
A continuidade do atual modelo linear de economia é ruim para os negócios, segundo Govier, porque existe um desperdício em diversos pontos, desde o consumo; passando pela capacidade, no qual os produtos não são usados em sua total capacidade; pelo ciclo de vida, com os produtos atingido o fim da vida de forma muito rápida por falta, por exemplo, de design; até o desperdício no valor integrado, quando os componentes, energia e materiais não são recuperados porque os resíduos são simplesmente descartados.
Nesse sentido, novos modelos de negócio têm surgido para aumentar a circularidade dos materiais, como a oferta de produtos como serviços, as plataformas compartilhadas, ou seja, o uso de ativos por meio de compartilhamentos e a extensão da vida útil dos produtos através de upgrades e recondicionamentos. Somado a isso, há também a valorização do uso de energia renovável, de material reciclado e a recuperação de recursos e de materiais. “Outro fator importante para a economia circular será a mistura da tecnologia digital, com a inovação biológica e o desenvolvimento das tecnologias físicas, por exemplo, o uso de nanotecnologia, engenharia genética e robótica”, disse Govier.
Na sequência, Denise Braun, fundadora da All About Waste, falou sobre a importância da Certificação TRUE Zero Waste, que estabelece metas de desperdício zero para empreendimentos, reduzindo a pegada de carbono e apoiando a saúde pública. “Espaços certificados TRUE são ambientalmente responsáveis, mais eficientes no uso de recursos e ajudam a transformar resíduos em economia e fluxo de renda adicional”, explicou. Além de promover a economia circular, a certificação envolve todos os stakeholders em práticas e políticas que vão além da sustentabilidade ambiental, uma vez que também atendem questões econômicas e sociais. “Uma estratégia de lixo zero melhora os processos de produção e estratégias de remediação ambiental, que podem levar a patamares maiores e mais inovadores”, acrescentou Denise.
Logo após, o curador do Núcleo Economia Circular, Ian McKee, trouxe três cases brasileiros que valorizam a economia circular. Marcelo Ebert, CEO da YVY, empresa que atua no mercado de limpeza, comentou sobre maneira que foi estruturada a oferta de seus produtos. “Quando a circularidade já está na concepção do negócio, é mais fácil desenvolver uma estratégia para atender seus requisitos”, ressaltou. Com isso, a YVY conseguiu unir um design que usa apenas 1/3 do plástico em sua embalagem ante aos produtos convencionais de limpeza, reduzindo, desse modo, em 2/3 do consumo de plástico da cadeia, com logística reversa e experiência do consumidor, que faz uma assinatura para receber o produto em casa, devolvendo as cápsulas da embalagem para serem reutilizadas em novos produtos. “É uma mudança de mentalidade. Saímos da venda de produto para gerenciamento de lealdade. Isso porque quando se faz a venda de assinatura, a jornada com o cliente está começando e precisamos nos preocupar e nos esmerar para que essa jornada seja infinita”, ponderou Ebert.
O segundo caso foi do Programando o Futuro, uma ONG, liderada por Vilmar Simion Nascimento, que possui o programa Metarreciclagem, no qual se realiza o tratamento do lixo eletrônico, o recondicionamento de equipamentos, gerando inclusão digital, por meio de qualificação profissional. “Os equipamentos recondicionados voltam para escola, postos de saúde, comunidades quilombolas, telecentros, serviços públicos e delegacias”, comentou. Segundo Nascimento, o lixo eletrônico é um dos maiores problemas do mundo e o Brasil está entre o 6º ou 7º maior produtor do mundo. “O desafio só não é pior porque o brasileiro tem o costume de reutilizar o eletrônico, por exemplo, dando para pessoas próximas ou revendendo”.
Ele explica que o lixo eletrônico é um composto de vários resíduos, podendo ser feita a segregação de todos os materiais, que são encaminhados para a concepção de novos produtos. “Um fator positivo é que existe um rastro de onde ele veio e para onde ele foi, o que permite fazermos um cadastro da origem do material”. Esse tipo de lixo é formado desde por eletrodomésticos de grande porte, passando por eletroportáteis, eletroeletrônicos, produtos de informática e telefonia. “É um ciclo contínuo, onde nada se perde”.
Por fim, o terceiro exemplo foi trazido por João Carlos Godoy, presidente da Oeko Bioplásticos, fabricante de produtos compostáveis de bioplásticos feitos a partir de fontes renováveis agrícolas e resíduos agroindustriais. “Produzimos dentro do ciclo biológico da economia circular visando justamente a regeneração dos sistemas vivos, e da conservação da água e do solo, promovendo a produção e consumo sustentável”, ressaltou. Godoy comentou que um dos benefícios desses produtos é o potencial de sequestrar carbono na produção, enquanto o plástico derivado do petróleo vai emitir carbono ao ser produzido. Isso porque as plantas que deram origem aos materiais podem realizar a fotossíntese, no qual existe o sequestro do carbono.
Na avaliação dele, esse é um mercado que está escalando de maneira rápida, como alternativa à indústria de petróleo e, também, porque existe a visão de fechar o ciclo de vida das embalagens nos dias atuais, diminuindo a poluição dos mares e o impacto ambiental. Totalmente virtual, com transmissão pelo site oficial, a BW conta com mais de 100 horas de conteúdo, atividades interativas, ações de relacionamento e de negócios e exposição de produtos, serviços e tecnologias. A programação tem palestras, webinars e debates relacionados ao nove Núcleos Temáticos: Agronegócio Sustentável, Conservação de Recursos Hídricos, Construção Sustentável, Economia Circular, Reciclagem de Resíduos na Construção, Resíduos Sólidos, Transformação Energética – Hidrogênio, Valorização de Áreas Degradadas e Waste-to-Energy.
Foto: divulgação