A desigualdade racial no mercado de trabalho brasileiro é histórica e se acentuou diante da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. É o que apontam dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Economia. Os principais indicadores mostram que os pretos e pardos, que representam mais da metade da população do país (56,8%) foram os mais prejudicados pelos efeitos da crise no mercado de trabalho, sobretudo os pretos. Os dados apontam que:
“Sempre que saem os relatórios, os indicadores sociais relacionados à população negra dão conta de uma condição pior. A crise não traz uma nova causa, um novo motivo em si mesmo. Mas ela escancara mais essa precarização a qual está submetida, historicamente, a população negra”, afirma o diretor do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, Daniel Teixeira. O desemprego avançou entre todos os seguimentos da população brasileira, mas foi entre os pretos que houve o maior salto.
De acordo com o IBGE, na passagem do primeiro para o segundo trimestre de 2020, que correspondem aos três primeiros meses de pandemia, a taxa de desemprego entre os pretos aumentou em 2,6 pontos percentuais (p.p.) e a dos pardos, 1,4 p.p. Já entre os brancos a alta foi de apenas 0,6 p.p.. A taxa de desemprego entre os pretos ficou em 17,8%, e entre os pardos, em 15,4%. A dos brancos, por sua vez, ficou em 10,4%, 2,9 p.p. abaixo da taxa geral do país, que ficou em 13,3%.
Assim, a diferença da taxa dos pretos em relação à dos brancos foi de 7,4 p.p., à dos pardos de 2.4 p.p., e de 4,5 p.p. em relação à média geral do país. Além do avanço mais expressivo do desemprego entre pretos e pardos, o nível de ocupação destes grupos ficou abaixo do de brancos no 2º trimestre. Na comparação com o 1º trimestre, o nível de ocupação dos pretos teve queda de 6.9 p.p. e o dos pardos de 6.1 p.p.. Já entre os brancos a queda foi de 4.9 p.p.. Apesar de os pretos terem o maior percentual de participação dentro da força de trabalho (que inclui pessoas em idade de trabalhar, ocupadas ou não), a queda na taxa de ocupação deles foi mais intensa que entre os pardos e brancos, tanto na comparação com o 1º trimestre deste ano quanto com o 2º trimestre do ano passado.
Na comparação com o 1º trimestre, a queda da taxa de ocupação entre os pretos foi de 2.9 p.p. e entre os pardos, de 1,7 p.p.. Já entre os brancos, o recuo foi de 1,1 p.p.. Segundo o economista da Fundação Getúlio Vargas Marcelo Neri, que é diretor do FGV Social, o maior aumento do desemprego e a maior queda da ocupação de pretos e pardos durante a pandemia podem ser explicados pelos efeitos do isolamento social sobre os setores de comércio e serviços, que foram os mais impactados.
“São setores heterogêneos, principalmente o de serviços. Esses setores tendem a ser mais intensivos para pretos e pardos que outros setores como a indústria, que é mais branca. Isso pode ter relação com a escolaridade também, mas são várias dimensões que se sobrepõem”, apontou o pesquisador. Neri enfatizou que a informalidade no mercado de trabalho também pode explicar os efeitos mais negativos para pretos e pardos no que se refere ao desemprego e à ocupação. Ele destacou que estes grupos formam a maioria entre os trabalhadores informais no Brasil.
Dados consolidados pelo IBGE em 2019 mostram que enquanto a taxa de informalidade entre os brancos foi de 30,1%, chegou a 39,9% para pretos, e a 43,5% para os pardos. Já os dados mais recentes do IBGE, que avaliou os efeitos da pandemia no mercado de trabalho, mostraram que o número de trabalhadores informais no país teve queda de 9,4% em cinco meses de pandemia. “Essa é uma recessão atípica em termos de informalidade, que geralmente funciona como colchão que amortece as quedas trabalhistas. Mas, desta vez a informalidade caiu porque o isolamento social foi mais impactante para esse setor, que emprega mais pretos e pardos”, enfatizou Neri.
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