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JORNAL A TARDE – ARMANDO AVENA: O JARDIM DE VEREDAS QUE SE BIFURCAM

Redação - 29/10/2020 07:19 - Atualizado 03/11/2020

Indagam-me novamente sobre como será o futuro pós-pandemia no mercado de trabalho e na economia. A princípio fico com Victor Hugo: “O futuro é um fantasma de mãos vazias, que tudo promete e nada tem”. Gosto de especular sobre o futuro quando ele já é passado. Como a teoria que diz que a peste negra, que devastou Florença e a Europa no século XIV, foi a responsável pelo Renascimento. Há quem diga que a familiaridade com a morte fez o homem voltar-se para a vida, mas não se pode esquecer que o temor dela (da morte) nos legou obras religiosas maravilhosa, e elas estão na gênese da Renascença.

De concreto mesmo foi a peste negra ter vindo da China, através da Rota da Seda. Será que todas as pestes veem da China?, perguntaria um adepto das teorias da conspiração. Não sei, sei apenas que é cedo para dizer que o homem não será o mesmo após a pandemia, que dará menos valor às coisas materiais, que o home office será entronizado como a nova forma de trabalho e que a recessão vai estruturar as economias sob novos moldes. Tampouco que o distanciamento entre as pessoas será beatificado e que elas só estarão juntas na epifania diária das redes sociais.

Quando se fala em futuro, lembro sempre do conto “O jardim de veredas que se bifurcam”, do escritor Jorge Luís Borges. Nele, Borges nos faz ver que existem inumeráveis futuros e que eles se bifurcam, se cortam, se interpõem e de tal maneira que se desdobram em várias possibilidades. Pois então, pode ser que o home office seja o futuro do trabalho, mas não vamos esquecer que ele só funciona quando existe o imperativo do confinamento, sem o qual a produtividade tende a cair.

Chama atenção, por exemplo, que o Google tenha aproveitado o preço baixo dos imóveis em Nova York para comprar por US$ 2,4 bilhões o famoso prédio do Chelsea Market para ali instalar sua sede. E que o Facebook tenha comprado uma milionária sede na Av. Faria Lima em São Paulo. Ou seja, as big techs não parecem estar apostando no home office. E as reuniões, ora essa, serão substituídas por lives muito mais produtivas. Não sei, eu, pelo menos, fui tomado por uma verdadeira livefobia e sinto falta das plateias de minhas palestras e do olho no olho das reuniões presenciais.

Quanto à economia, o futuro é o inferno dos economistas, e a recessão, que seria brutal, resultou em uma queda de apenas 4%, e as empresas, que quebrariam todas, estão aí, aos trancos e barrancos, mas já de portas abertas enfrentando a pandemia. Por isso, querido leitor, temo que o futuro não seja o home office, nem a livemania, tampouco uma nova economia. O mundo pós-pandemia será um jardim de veredas que se bifurcam e haverá vários futuros.

IMPACTO DO AUXÍLIO EMERGENCIAL

A Bahia foi o 2º estado do país que mais recebeu recursos do auxílio emergencial no Brasil, sendo superada apenas por São Paulo. No frigir dos ovos, a perda da massa de rendimentos causada pela pandemia foi mais que compensada com mais de R$ 10 bilhões injetados na economia baiana. Esse montante representou 5,8% do PIB baiano e foi o que manteve a economia funcionando. Na região Nordeste, o impacto do auxílio emergencial no PIB foi ainda maior de 6,5%, enquanto na média brasileira foi de 2,5%. Um programa como esse beneficia os mais pobres e eles estão deste lado do país, por isso, se for confirmada sua supressão, a economia nordestina vai sofrer muito mais que o restante do Brasil.

BOOM DA CONSTRUÇÃO CIVIL

O mercado imobiliário na Bahia vai de vento em popa, e isso já se reflete no mercado de trabalho. Tirando o setor industrial, em plena recuperação, a construção civil foi quem mais gerou emprego na Bahia no mês de agosto. E uma contagem inicial mostra que só nos bairros de classe média e alta de Salvador –  Barra, Morro do Ipiranga, Stella Maris, Vitória, Graça, Pituba e Horto Florestal – são mais de 20 os novos lançamentos, incluindo alguns em construção. Juros baixos, disponibilidade de crédito, a poupança gerada na pandemia, a vontade de morar melhor, tudo está ajudando até o rendimento baixo da renda fixa.  Mas há problemas, faltam insumos e o dólar está aumentando o custo de produção.

Foto: Divulgação

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