O resultado da taxa básica de juros (Selic), que será divulgado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central nesta quarta-feira (28), deve permanecer em 2% ao ano, segundo análise do professor da Fipecafi, Samuel Durso. Esta é a penúltima reunião do Copom deste ano e para o especialista a Selic deve se manter em 2% até o fim de 2020.
Para Durso, isso acontece porque os dados econômicos divulgados recentemente mostram que o país ainda sente os efeitos negativos da Covid-19. “Com a manutenção dos juros em patamares tão baixos como o verificado atualmente, estimulamos o consumo no mercado e, consequentemente, combatemos os efeitos negativos da crise. Além disso, os dados para o IPCA sinalizam que a inflação, principal problema do incentivo ao consumo, ainda está dentro dos limites definidos pelo governo para 2020”, explicou.
Uma possível alta no resultado deve ser observada apenas no início de 2021. “Considero provável que não haja uma nova redução em 2020. Se a economia continuar respondendo gradativamente aos incentivos governamentais, o esperado é terminar o ano com os mesmos 2% de taxa básica de juros. Não obstante, é bem provável que no início de 2021, assumindo uma recuperação econômica gradativa, o Copom volte a subir levemente a meta Selic buscando controlar os possíveis efeitos negativos de uma taxa de juros baixa”, ressaltou.
O professor da Fipecafi explica ainda quais medidas seriam necessárias para que tenhamos um crescimento sustentável da economia. “O atual momento demanda políticas governamentais de incentivo à economia, como a transferência de renda realizada pelo auxílio emergencial e a redução da taxa de juros. Essas medidas possuem um preço e demandarão outras ações no longo prazo. Para o período pós-pandemia, o governo precisará de remédios para as consequências econômicas desse cenário”, destacou.
O cenário de incertezas gera consequências negativas para as famílias de baixa renda e também para o governo, que precisará adotar medidas para se recuperar. “Já estamos percebendo, por exemplo, um aumento no preço de produtos alimentícios, tanto em função do aumento do consumo quanto da desvalorização cambial que incentiva a exportação. Como consequência, a população menos favorecida economicamente tende a ter uma maior parcela da renda comprometida com os alimentos-base. Os gastos governamentais que foram mais significativos nesse período também trarão consequências negativas no futuro. O governo precisará de novas fontes de receita, o que, ao que tudo indica, deverá ocorrer pela criação de novos tributos e/ou pelas privatizações de estatais existentes”, disse o professor.
Com a Selic baixa, educação financeira é essencial para os investidores
A queda no resultado da Selic pode afetar diretamente o mercado financeiro, mudando o perfil e preferência dos investidores. “As reduções realizadas na Selic ao longo dos últimos anos, saindo de 14,25% em 2016 para 2% em 2020, desestimulou significativamente os investimentos de renda fixa existentes no mercado. Como consequência, observamos uma grande migração de investidores para o mercado acionário. Dados da B3 indicam que em 2016 existiam 564.024 investidores individuais negociando na principal bolsa de valores da América Latina. Em 2019, portanto, antes da pandemia, esse número saltou para 1.678.754”, apontou.
Além disso, a falta de conhecimento sobre a educação financeira pode gerar um impacto negativo para os novos investidores. “Para ter uma renda mais significativa neste momento, o investidor precisará assumir maiores riscos. Isso pode ser um problema no país, tendo em vista que a educação financeira no Brasil é pouco difundida. Ter muitos investidores individuais no mercado acionário sem uma correta preparação para as negociações pode gerar ruídos nos investimentos, além de possíveis perdas financeiras para esses agentes”, finalizou.