Segundo o ex-sócio do doleiro Dario Messer, Vinícius Claret, a falta da fiscalização do Banco Central e da Receita Federal transformou o Brasil na “maior lavanderia de dinheiro do mundo”. “Enquanto não sair uma lei proibindo o pagamento de boletos por terceiros, a lavanderia vai continuar solta”, afirma.
Ainda de acordo com Claret, doleiros e todos os tipos de “lavadores” estão mandando mais do que nunca recursos para o exterior por meio de importações falsas. “Como não há um ‘compliance’ [checagem sobre conformidade das regras] nessas empresas, o dinheiro vai e a mercadoria nunca chega”, disse o ex-doleiro.
O ex-doleiro assinou a colaboração premiada com o MPF (Ministério Público Federal) que originou a operação “Câmbio, Desligo”, da Lava Jato. Ele residiu no Uruguai, considerado um país que protege bastante as contas bancárias no anonimato, ligadas a empresas chamadas “Safi” (Sociedades Anônimas Financeiras de Investimento). Ele disse que a situação no Brasil não se compara com a do país vizinho. “No Uruguai, apesar de o país permitir a abertura de contas offshores [protegidas pelo sigilo] a fiscalização é muito mais rígida.”
Claret, que ficou mais de um ano preso no Uruguai, disse que foi traído por Messer, que fugiu para o Paraguai deixando-o sem dinheiro sequer para contratar advogado. Ele disse ainda que se arrepende de ter assinado o acordo de colaboração premiada. “Me arrependo por ter entregue pessoas amigas. Mas não estou nem aí por ter ajudado a colocar o Cabral na cadeia.
O ex-doleiro defendeu, ainda, uma fiscalização mais rígida sobre os sócios das empresas de importação sediadas no Brasil. Ele lembrou que o principal doleiro delator da Operação Lava Jato, Alberto Youssef, se “apropriou” de uma empresa de importação em São Paulo só para mandar dinheiro ao exterior.
Essas supostas empresas de importação são usadas, conforme apurado pela Lava Jato, apenas para remeter o dinheiro para empresas supostamente sediadas no exterior. Ao chegar lá, o dinheiro transita por outras contas controladas por doleiros.
De acordo com o Ministério Público Federal, a Receita argumentou que todas as cargas das empresas novas ou que envolvem grandes valores, supostamente com o material da importação, são fiscalizadas na chegada ao Brasil. O argumento não convence Claret. “Essas pequenas empresas, mediante o pagamento de uma taxa, na verdade importam por meio de empresas que têm uma cota maior de importação”, disse o ex-doleiro.
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