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JORNAL A TARDE – ARMANDO AVENA: O CAPITALISMO E O DILEMA DAS REDES

Redação - 08/10/2020 07:24 - Atualizado 08/10/2020

Descobri que o algoritmo queria me dominar quando cliquei num aplicativo de música e uma playlist com Frank Sinatra, Tom Jobim, Billy Holliday e Margarete Perroux começou a tocar. O algoritmo conhecia meu gosto musical, mas rebelei-me, apaguei a playlist e, só pra contrariar, passei a ouvir Avalon Jazz Band, Tereza Cristina e Pink Martini. Daí percebi que a Netflix supunha conhecer meu gosto cinematográfico, que a Amazon se dava ao desplante de me sugerir livros, que o Google sabia tudo de mim e que as redes sociais manipulavam minhas postagens.

Mas a certeza de que o algoritmo queria me sequestrar não me assustou, como está fazendo com os milhares de telespectadores que assistem ao documentário “O dilema das redes”, pois eu sabia que ele era apenas mais um súdito do capitalismo, o onipresente deus da modernidade. E esse deus – ou será um demônio? – transforma todas as coisas em mercadorias. Por que com a internet seria diferente? A propaganda na rua, na TV, nos jornais também tenta lhe sequestrar, vendendo prazer, ilusão e felicidade. As lojas comerciais também estão ávidas por seus dados pessoais e fazem cadastros e mais cadastros.

E as empresas, que antes abarrotavam sua caixa de correio, continuam abarrotando seu celular com ofertas e propostas. O sistema inteiro está a serviço de Mammon, o demônio bíblico viciado em riqueza, então por que na internet seria diferente? O documentário diz que nós somos o produto que se vende na WEB, mas isso não faz sentido, somos o que sempre fomos no capitalismo: máquinas programadas pelo sistema para consumir.

Mas nas redes sociais existe um componente adicional, pois o algoritmo tende a fazer interagir quem pensa igual, o que pode limitar o contraditório e estimular a polarização. Mas a polarização nasce na política, e o algoritmo pode no máximo potencializá-la.

Na verdade, a internet é apenas uma imensa plataforma a serviço do capitalismo, e não será restringindo seu uso ou desligando o celular que iremos controlá-la, como sugere o documentário. Para isso precisamos de uma ferramenta mais poderosa: o Estado. Assim, se as redes sociais se prestam a disseminação de discursos de ódio e de notícias falsas, é preciso que isso seja coibido e punido pelo Estado. E se as empresas de tecnologia da informação estão se tornando monopólios que tudo controlam, cabe ao Estado fazer o que sempre fez: limitar seu poder, como foi feito nos Estados Unidos em 1890, quando o Sherman Act, a lei antitruste, limitou as grandes corporações. O Estado é o único poder capaz de conter os excessos da internet e do capitalismo, ainda que, por vezes, ele acenda uma vela a Deus e outra a Mammon.

O último trimestre de 2020

O 4º trimestre do ano vai ser de consumo em alta. A razão disso é que o auxílio emergencial, embora cortado pela metade, ainda vigora até o fim do ano e a classe média – aquela que preservou o salário – fez uma poupança forçada nos meses de isolamento e está ávida por ir às compras. E, embora o consumo digital não tenha pátria, uma parte do dinheiro empoçado vai ser gasto internamente. Mas, atenção, ninguém sabe o que vai acontecer no 1º trimestre de 2020, pois o auxílio emergencial deve acabar e não se sabe se haverá vacina ou uma 2ª onda de contágio. Por isso, os agentes econômicos precisam viabilizar descontos e promoções para aumentar as vendas e chegar capitalizado a 2021.

O destino da Petrobras

Um dos motivos que justificavam a privatização da RLAM – Refinaria Landulpho Alves era a redução na produção que não passava de 50% de sua capacidade em anos anteriores. Mas, desde de meados de 2019, com o aumento da procura internacional pelo óleo bunker, destinado aos navios e produzido pela RLAM, a produção disparou e petróleo e derivados voltaram a liderar a pauta de exportações baiana, atrás apenas das exportações de soja. E, mais que isso, a RLAM foi quem mais processou petróleo no Brasil no 1º trimestre de 2020, superando a Refinaria de Paulínia (Replan), em São Paulo. Mas agora não tem volta, o STF autorizou a venda da RLAM, prevista no plano de desinvestimento da Petrobras.

Foto: Divulgação

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