O pão nosso de cada dia – aquele francês, mais conhecido como “cacetinho” na Bahia – ficou cerca de 20% mais caro durante os meses da pandemia do novo coronavírus, segundo a Associação dos Proprietários de Padarias da Bahia (APP-BA). A estimativa é ainda maior de acordo com o Sindicato de Panificadoras de Salvador (Sindipan): 35%. Só de julho para agosto de 2020 o aumento foi de 9,78% na capital baiana – o maior índice das 17 capitais do Brasil que participaram da última pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O preço normal do queridinho do café da manhã varia entre R$ 7,50/kg e R$ 14,50/kg em Salvador e Região Metropolitana, mas chegou a ser encontrado por R$ 17,90/kg na delicatessen Almacen Pepe, no Itaigara. O gerente do local não quis comentar a variação de preço. Na panificadora Bola Verde, no Largo Dois de Julho, o preço do quilo do pão aumentou R$ 1 desde março e agora custa R$ 11/kg. “Devido ao alto custo dos produtos a gente teve um reajuste”, explica Santos, auxiliar da padaria.
Uma das principais causas para o incremento do preço do pão tem a ver justamente com a alta dos insumos que são usados para produzi-lo, como a farinha de trigo e o açúcar. A farinha subiu quase 60%, segundo a diretora da APP-BA Maria da Conceição, que comprava o saco de 50kg por R$ 90 para abastecer sua padaria. Agora, a mesma quantidade custa R$ 142. Já o açúcar, que ela adquiria por R$ 1,95/kg aumentou para R$ 2,20/kg, ou seja, 12,8%. O Sindipan calculou um aumento ainda maior, de 22%.
“A gente está sofrendo muito com o aumento do preço dos insumos. Tem sido assustador, e, muitas vezes, temos que passar para o cliente final. Mas temos que ter muita cautela para não ter perda de consumidor, porque, em padaria de bairro, o cliente é diário e percebe tudo que está acontecendo”, relata Maria da Conceição, que tem mantido o preço em R$ 9,95/kg há três anos. “Por enquanto estou absorvendo o custo e diminuindo minha lucratividade, mas não sei até quando consigo segurar”, completa.
Aliado a isso, outro fator que fez o preço do pão crescer é alta do dólar em relação ao real, já que a farinha de trigo que circula no Brasil é, em maioria, importada. O presidente do Sindipan, Florêncio Rodrigues, explica que a quantidade produzida no país só dá conta de abastecer 20% da demanda nacional. Ou seja, os outros 80% vêm de fora, normalmente do Canadá e da Argentina. “A farinha é dolarizada, então quem repassa o preço não é o mercado, é a indústria. Já o açúcar, a gente exporta e no mercado interno fica mais caro”, esclarece Rodrigues.
Apesar dos aumentos, a orientação do sindicato é não ajustar o preço do pão, como foi visto em oito das nove padarias que o CORREIO visitou na manhã de segunda-feira (7) nos bairros da Pituba, Itaigara, Boca do Rio e Nordeste de Amaralina. “Estamos segurando para não repassar o aumento e tentar ajudar um pouco a população”, afirma o presidente do Sindipan. Essas recomendações têm sido seguidas por Maleson Fernandes, 35 anos, dono da padaria Irmãos Andrade, no Nordeste de Amaralina. “Não tem como passar para o cliente porque ia ficar muito caro. Enquanto a farinha não aumentar, dá para aguentar”, disse Fernandes, que mantém o preço do pão a R$ 8,99/kg há dois anos, apesar do aumento de mais de R$ 60 no saco de farinha e R$ 11 no de açúcar.
Alguns produtos não tiveram como escapar do aumento de preço, como o leite e seus derivados, além do arroz e óleo. O aumento também foi visto em outras capitais do país. O queijo lanche, por exemplo, tinha um custo médio de R$ 28/kg e agora pode custar até R$ 42/kg. A cliente Evelyn Reis, 25 anos, começou a reduzir o consumo como estratégia para economizar. “Tem coisa que não tem jeito, leite tem que comprar. Mas queijo a gente tem opção e não estou usando muito”, conta Evelyn, que passou a cozinhar mais em casa.
Se antes o óleo era visto a no máximo R$ 4 nas prateleiras, agora ele pode chegar a R$ 7, o litro. Essa mudança doeu no bolso da comerciante Olga Cabelera, 49, que vende pastéis em uma lanchonete. “Eu comprava a R$ 3,79 e agora está a R$ 6,50, R$ 7. É uma coisa que não posso deixar de usar. Já nos recheios dos pastéis de queijo, eu comecei a usar menos. Não quis trocar de marca para não perder a qualidade”, explica Olga, que fazia compras na delicatessen Gilzan, na Boca do Rio.
Para driblar os altos preços dos alimentos, as dicas do Movimento de Donas de Casa e de Consumidores da Bahia (MDCCBA) são trocar de marca, diminuir a quantidade e até se aventurar a fazer o produto em casa. “O consumidor que controla o preço do produto pela lei da oferta e procura. O que a gente pode orientar é trocar de marca por um tempo ou comprar menos, diminuindo a quantidade. O pão francês, por exemplo, você pode fazer em casa ou substituir por uma raiz, como mandioca e aipim. E se tiver alguma coisa muito cara, deixa na prateleira”, orientou a presidente do movimento, Selma Magnavita.
Aumento de produtos de julho para agosto 2020 em Salvador**:
Foto: divulgação