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4 EM CADA 10 MULTINACIONAIS PRETENDEM CORTAR EMPREGOS NOS PRÓXIMOS 12 MESES

Redação - 08/09/2020 07:30

Um levantamento recente feito pelo The Conference Board, respeitado centro de pesquisa, em parceria com o fórum empresarial The Business Council revela que quatro em cada dez presidentes executivos de multinacionais pretendem fechar vagas ao longo dos próximos 12 meses. Grandes empresas de setores diversos –como Coca-Coca, Boieng, American Airlines e Estee Lauder– estão entre as que já anunciaram cortes nas últimas semanas.

Por um lado, a incerteza de trabalhadores em relação ao futuro de sua renda os leva a moderar gastos. Por outro, a incerteza de empresários em relação ao futuro do consumo os leva a frear investimentos. O resultado dessa equação também foi capturado pela pesquisa do The Conference Board. Quase 40% dos cerca de 100 presidentes de empresas entrevistados afirmaram que devem cortar em mais de 10% investimentos planejados anteriormente.

Há setores, no entanto, que têm sido beneficiados pelo maior distanciamento social, o que deverá continuar ocorrendo se algumas mudanças de hábito forem permanentes. Empresas de tecnologia tiveram bons resultados nos últimos meses. A Netflix, por exemplo, ganhou 26 milhões de novos assinantes no primeiro semestre. Outro segmento que tem esboçado recuperação é a construção civil. Preparadas para passar mais tempo em casa, muitas famílias resolveram promover pequenas reformas para tornar a vida mais agradável.

Isso pode resultar na geração de novos postos de trabalho nesses segmentos. No caso da construção civil, que é um setor intensivo no uso de mão de obra, a criação de vagas já aparece nos dados oficiais recentes do Brasil. “É uma tendência positiva porque a construção civil pode absorver mão de obra deslocada de outros setores”, diz Bráulio Borges, economista da consultoria LCA e pesquisador-associado do Ibre/FGV.

Porém, em meio a tantas incertezas, as projeções econômicas para o próximo ano são de taxas de crescimento inferiores às contrações estimadas para 2020. “A pandemia do coronavírus terá um efeito negativo enorme e duradouro sobre a economia global; 2020 e 2021 serão anos perdidos em termos de crescimento”, ressalta um relatório recente da EIU (Economist Intelligence Unit).

As expectativas da consultoria britânica são de que apenas a Ásia terá uma expansão em 2021 maior do que a recessão deste ano. Especialistas ressaltam que um dos riscos que esse cenário impõe é uma queda da produtividade, que comprometa o crescimento futuro. Trabalhadores parados tendem a perder habilidades, já as máquinas se deterioram. Além disso, estudos têm revelado que as parcelas mais vulneráveis da população têm sido as mais prejudicadas com a perda de emprego, o que tende a agravar a iniquidade social.

“Está claro que uma das consequências dessa crise será um aumento das desigualdades que já eram crescentes”, diz o economista Otaviano Canuto, membro do Policy Center for the New South e do Brookings Institute e diretor do Center for Macroeconomics and Development, em Washington. Borges destaca que isso tem levado a uma rediscussão sobre o papel do Estado.

É possível que o mundo caminhe para um modelo permanente de maior proteção às parcelas mais vulneráveis da população. A questão é como governos mais frágeis fiscalmente – como o Brasil – colocarão esses mecanismos de pé. “Para o Brasil, esse será um grande desafio. Tenho a impressão de que o governo queimou mais cartuchos do que deveria nesses últimos meses”, diz Borges.

O economista cita como exemplo a transferência de renda emergencial que, embora tenha chegado aos mais pobres, parece ter beneficiado também famílias que não precisavam do socorro. O vultoso pacote adotado pelo governo brasileiro tem contribuído para a retomada da economia, mas piorou a situação fiscal do país. Tanto no Brasil quanto no resto do mundo –até mesmo nos países ricos– chegará o momento em que a retirada dos estímulos emergenciais se tornará inevitável. Resta saber que governos convencerão o setor privado a retomar seus planos de investimentos para garantir que a recuperação atual não perca força e as economias retornem 100% ao seu nível pré-crise.

Foto: divulgação

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