O trabalho conjunto do Governador Rui Costa e do Prefeito ACM Neto no enfrentamento da pandemia está sendo um exemplo para o país e mostra como é possível colocar acima dos interesses políticos o interesse da população. Mas em termos políticos alguém perde e alguém ganha com essa situação e, a medida que se aproximam as eleições municipais, a parceria entre os dois governantes dificilmente perdurará ou, na melhor das hipóteses, se tornará apenas administrativa.
Em termos eleitorais a parceria beneficia nitidamente o prefeito ACM Neto, cujo candidato lidera as pesquisas. Bem à frente dos demais candidatos e com a oposição manietada, o candidato do prefeito pode até ganhar no 1º turno. A estratégia eleitoral do governador Rui Costa também é nítida e vai no sentido de colocar em campo 3 candidaturas fortes para assim forçar o segundo turno. O problema é como fazer isso preservando a administração do Prefeito ACM Neto.
É possível que o governador esteja trabalhando mais politica do que eleitoralmente pois, ao manter a parceria com o prefeito, está preservando sua imagem, bem avaliada em todo estado, de ataques oriundos da oposição. E, assim, garantindo a boa posição eleitoral no restante do estado. Já com o prefeito ACM Neto dá-se o oposto, pois ao preservar o adversário perde a oportunidade de avançar mais no interior.
É, como se vê, uma eleição atípica essa da Bahia, afinal política é guerra, mas nessa guerra baiana os dois principais adversários estão de mãos dadas. A ser mantida a parceria, a disputa vai ser mais eleitoral do que política, mas isso existe em política?
De todo modo, muito água ainda vai correr debaixo dessa ponte eleitoral, afinal não se sabe ainda se o pastor Sargento Isidório vai ter tempo de TV e apoio para deflagrar sua campanha, lembrando que o PSD do Senador Otto Alencar será fundamental na construção dessa candidatura. Por outro lado, a posição de Lídice da Matta será estratégica, mas ela terá que sacrificar a bancada do PSB se retirar sua candidatura e não fará isso sem uma compensação. Olívia Santana, por outro lado, depende da aliança com o PP e da indicação de um nome forte e com peso em Salvador e a Major Denice depende de Lídice se quer construir uma candidatura competitiva.
E ainda fica uma questão: qual será a posição de Jair Bolsonaro na eleição para Prefeito de Salvador? Se ficar neutro, como tudo leva a crer, a eleição será uma, se apoiar o candidato do prefeito ACM Neto no 1º turno, a eleição será outra. E se decidir entrar de cabeça no pleito, o que não parece provável, a eleição será pau puro.
Ou seja: a posição do Presidente da República também pode definir o futuro e o tom da parceria entre o prefeito ACM Neto e o governador Rui Costa, afinal se Bolsonaro apoiar o candidato de Neto, adeus parceria. Se, pelo contrário, ficar neutro a briga política em Salvador será mais eleitoral que política e a tendência tanto do prefeito quanto do governador será a moderação, com a oposição focando a campanha no combate ao governo federal e a situação esquivando-se desse tema. (EP – 31/08/2020)