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ADARY OLIVEIRA- O PETRÓLEO E O COVID-19

Redação - 17/08/2020 09:54

Produtores, consumidores e mesmo os poupadores que aplicam parte de suas reservas nas ações da Petrobras, devem estar preocupados com o que vai acontecer com a demanda, o preço e o suprimento de petróleo e gás natural nos próximos dez anos diante do impacto promovido pela pandemia do Covid-19. A indústria de petróleo busca definir um modelo econômico capaz de traduzir orompimento da tendência de demanda, sem precedentes, verificada no mercado mundial, que proporcione a manutenção da lucratividade do setor. A análise que está sendo feita inclui a construção e validação de um modelocapaz de combinar geopolítica e cenários macroeconômicos, incluindo crescimento do PIB, oferta e demanda de petróleo e gás natural e preço dos dois.

Os analistas estão avaliandoo que ocorrerá no mundo a partir de dois cenários: um otimista e outro pessimista. O otimista, considera apenas uma onda da pandemia do Covid-19 com rápida recuperação da economia. O pessimista, duas ondas pandêmicas, que se estenderão por todo o primeiro semestre de 2021, com lenta recuperação econômica.

Em relação ao suprimento de óleo e gás, o que aconteceu no primeiro semestre deste ano foi uma redução da produção devido a uma inesperada elevação dos estoques promovida pelos países produtores de petróleo não pertencentes à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Como consequência, os países da OPEP+ elevaram os preços até que o excesso de estoque fosse eliminado. O receio de ocorrer uma segunda onda da pandemia levou alguns países, principalmente os do hemisfério sul, a reduzirem o consumo, ajustando-se às novas condições.

Acredita-se que a recuperação da demanda vai se dar na primeira metade de 2021, mas em nível inferior ao verificado antes da pandemia. O consumo só voltaria para níveis mais elevados em 2022 e 2023 e o mercado continuaria com suprimento elevado, superior ao desejado pelos produtores. O fato de o excesso de estoque continuar pressionando a produção para baixo, vai retardar a retomada da economia.

A expectativa que se tem, é que a produção de petróleo de alguns países exportadores, membros da OPEP (Venezuela, Irã e Líbia) e outros de fora da OPEP (Síria e Iêmen), não conseguirão aumentar as suas produções nesta década. Eles não deverão exercer influência significativa no balanço oferta x demanda. Como consequência, a OPEP deverá exercer maior ingerência nos preços rastreando a demanda. Ambos, preços e demanda, deverão subir nos dois cenários considerados. No cenário pessimista desenha-se uma elevação da oferta dos países da OPEP para 32 milhões de barris por dia (MMbpd) em 2024, apenas 1 MMbpd superior ao verificado nos meados deste ano de 2020. As projeções indicam que no cenário otimista as vendasdesses países alcançariam, em 2030, 33 MMbpd e no cenário pessimista 32,5 MMbpd.

Trabalho publicado recentemente pela Revista Word Oilprevê,caso aconteça uma prolongada pandemia,que o impacto do coronavírus na economia global provocará uma forte procura por petróleo, de tipo semelhante a períodos de depressão e recessão longos. Sem uma agressiva intervenção da OPEP, o preço médio do petróleo permanecerá abaixo de US$50 por barril (/bbl) até meados de 2022. Até o final de 2020 o mercado de petróleo permanecerá superabastecido, e a política da OPEP é um fator crucial nessa fase de aparente instabilidade.

Na segunda metade desta década, as projeções da oferta e da demanda se moverão bem próximas dentro de um estreito balanço, onde a produção de fora da OPEP, notadamente da Rússia, irá declinar, e a produção americana do shale permanecerá estável. A expectativa é que os preços subam para US$80-US$90/bbl no cenário otimista ou para US$70-80/bbl no cenário pessimista,mesmo sem a intervenção da OPEP.

No Brasil, onde 94,9% dos campos de petróleo e gás natural são operados pela Petrobras e a produção em campos marítimos de petróleo representam 96,5% do total, e a de gás natural 86,0%, sabidamente de custos mais elevados do que a produção em terra, indicam uma melhoria da performance da estatal nos anos 2020. Vamos torcer para que isso venha a acontecer.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor – [email protected]

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