Criticado duramente pela forma que conduz o enfrentamento ao coronavírus, principalmente após o Brasil ultrapassar a marca de 100 mil mortes motivadas pela Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) enviou a parlamentares um relatório em que destaca nomes de governadores e prefeitos dos locais com o maior número de novas mortes e casos confirmados da doença, em mais uma tentativa de tirar o foco das atribuições e prerrogativas inerentes ao cargo que ocupa, jogar para a plateia e responsabilizar apenas os gestores.
O relatório cita diretamente a Bahia e o governador Rui Costa (PT) entre os “top 5” gestores estaduais em número de mortes e novos casos. Salvador e o prefeito ACM Neto (Democratas) também aparecem na lista dos municípios elaborada pelo Planalto. Segundo o Estadão, o documento enviado por WhatsApp é assinado pela Secretaria Especial de Assuntos Federativos (Seaf), subordinada à Secretaria de Governo, de Luiz Eduardo Ramos, usando dados do Ministério da Saúde.
Decisão do STF que dá autonomia a Estados e municípios, não isenta a União de realizar ações junto aos gestores no enfrentamento à pandemia. Bolsonaro costuma citar uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que deu autonomia aos Estados e municípios para decidir formas de conter a propagação da doença. Contudo, a medida não isenta a União de realizar ações e buscar acordos com os gestores locais. Um dos principais adversários políticos de Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria lidera a lista. O estado ultrapassou os 600 mil infectados e 25 mil mortes. O ranking de prefeitos foi feito com base apenas no número de diagnósticos da doença.
No ranking de novos casos são citados: Rui Costa, Eduardo Leite (RS), Romeu Zema (MG) e Carlos Moisés (SC). Em relação às novas mortes, depois de Doria, aparecem Zema, Leite, Ronaldo Caiado (GO) e novamente Rui. Secretaria Especial de Assuntos Federativos alega que relatório visa “monitorar a disseminação da Covid-19”. A Seaf afirma que o documento visa “monitorar a disseminação da Covid-19 nos entes federativos para auxiliar na articulação do governo federal”, mas não explica o porquê dos nomes de governadores e prefeitos terem sido destacados.
Desde o início da crise sanitária no Brasil, Bolsonaro usa o argumento de que as medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos quebrariam a economia. O presidente fez visitas a comércios, participou de manifestações e, agora, após se recuperar da doença tem feito viagens pelo Brasil, causando aglomeração. O Ministério da Saúde está há três meses sem um titular A pasta está sendo conduzida pelo general Eduardo Pazuello. Seus antecessores, os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, deixaram o governo por divergências com o presidente na condução da crise sanitária. Após o Brasil alcançar 100 mil mortes por Covid, a Câmara de Deputados e o Senado decretaram luto oficial. O presidente da República não se manifestou.
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