Culpar a socialite Ângela Diniz pelo próprio assassinato, em 1976, foi a estratégia da defesa do autor do crime, Doca Street, companheiro de Ângela, para inocentá-lo. Na época, em pleno julgamento, Ângela foi chamada de “Vênus lasciva”. Provocadora e sensual, teria atiçado outros homens e mulheres mesmo estando em um relacionamento com Doca, o que o fez perder o brio. Doca matou Ângela, em 31 de dezembro daquele ano, com quatro tiros. A tese da legítima defesa da honra foi aceita pelo juiz, que deu uma punição simbólica de dois anos com dispensa de cumprimento da pena. O playboy Doca saiu do tribunal pela porta da frente.
O enredo de um dos crimes mais emblemáticos do Brasil agora se repete na ficção. A segunda temporada da série brasileira “Coisa Mais Linda”, da Netflix —atenção, daqui para a frente há spoilers—, traz o julgamento do assassinato da personagem Lígia (Fernanda Vasconcellos), morta pelo ex-marido no último episódio da primeira temporada. As falas do réu, de familiares dele, de sua defesa e a decisão do juiz se assemelham ao caso de Doca e mostram um sistema judiciário que aceitou culpar mulheres por crimes cometidos contra elas. A Netflix afirma que a história de Lígia foi inspirada “naquelas que sofreram e sofrem diariamente com essa violência”.
Foto: Netflix