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PREFEITURA AUTORIZA INÍCIO DE OBRAS DE REPARO NA LADEIRA DA BARRA

Redação - 15/07/2020 09:00 - Atualizado 15/07/2020

A recuperação de parte da balaustrada da Ladeira da Barra que desabou há dois meses sobre o estacionamento do Yacht Clube da Bahia já foi autorizada e a Superintendências de Obras Públicas (Sucop), responsável pela intervenção, só espera o clima melhorar em Salvador para botar a mão na argamassa. Em nota, o órgão informou que ainda não há prazo definido para a conclusão dos trabalhos.

O buraco aberto na calçada, no entanto, preocupa os moradores do local. O produtor musical Emanuel Prado, que reside a poucos metros de onde a cratera abriu, porém, observa que o buraco já não assusta.  Morador da região desde a infância, ele diz que o fato da cidade estar em um período de isolamento social diminuiu bastante o fluxo de veículos no local, que costumava engarrafar nos horários de pico.

“Com a pandemia, temos um fluxo de pessoas e veículos muito menor do que o de costume e por conta disso acaba não atrapalhando tanto a vida da população, mas a gente fica sem entender por que que esse problema que está ali há tanto tempo ainda não foi solucionado”. Outra moradora, a policial Luciana Venezian, diz ainda ter medo de um acidente. O trecho fica bem em frente ao prédio onde ela mora e dá para ver situações preocupantes diariamente.

A faixa de acesso no sentido Porto da Barra está interditada e os veículos precisam ter cautela e prudência para aguardar que os automóveis que têm a preferência no momento, passem pela faixa no sentido Corredor da Vitória. Mas isso não acontece. “Os veículos não respeitam a preferência de quem está vindo na faixa e acabam passando os dois veículos de forma apertada numa mesma faixa e isso pode gerar um acidente”, diz Luciana.

O Yacht teve parte de suas dependências atingida pela queda da balaustrada. Procurado, o clube afirmou que entrou em contato com a Defesa Civil (Codesal), Secretaria de Manutenção da Cidade (Seman) e com a Coelba para retirada do poste danificado na ocasião do acidente. De acordo com o Yacht, o atendimento das instituições foi imediato para as medidas emergenciais.

Mestre e Doutor em Arquitetura e Urbanismo, o professor Ernesto Carvalho conta que esse tipo de deslizamento, que acontece principalmente em períodos de chuva na cidade, ocorrem quando o solo é afetado pelas chamadas zonas de corte, que podem ser criadas por lixo, uma drenagem que vaza para a rua, edificações ou até mesmo a ação de chuvas mais fortes, como a que atingiu a Ladeira da Barra no dia do deslizamento, em 21 de maio passado.

Mesmo com um aumento no cuidado em relação à defesa civil da cidade, de acordo com o especialista esse tipo de situação seguirá acontecendo em vários pontos da cidade mesmo com uma série de medidas de precaução. O que é possível de se fazer é minimizar os riscos com ações como preservação da cobertura vegetal, por exemplo. Responsável pela recuperação do Cemitério dos Ingleses (British Cemetery), que fica um pouco abaixo do ponto onde aconteceu o deslizamento, Ernesto Carvalho estudou toda aquela região e diz que os primeiros registros de construção dos pequenos muros que culminaram na balaustrada são datados da segunda metade do século XIX.

“Ela começa com pequenos murinhos e depois se afirma naquele formato que conhecemos hoje já no começo do século XX, quando a gente vê as imagens da uniformização em outros pontos da Barra, Paciência, no Rio Vermelho, e Passeio Público. Este último também tem alguns registros de balaustradas na primeira metade do mesmo século”, diz Ernesto Carvalho. Toda a região que sai do Forte de São Pedro em direção à Barra, e aqui falamos de lugares que hoje são badalados como o Porto e o Farol, eram regiões muito rurais até o século XIX, tanto que frequentemente nem apareciam no mapa de Salvador.

As regiões do Corredor da Vitória, Barra e Rio Vermelho eram pouco povoadas e passaram a ser alvo de interesse de uma burguesia intelectual e essencialmente formada por estrangeiros, caso dos britânicos, por conta da Abertura dos Portos às Nações Amigas, que aconteceu em 1808, quando a família real portuguesa se mudou para o Brasil, e permitiu que o país negociasse diretamente com nações que Portugal considerava como aliadas. Esse tratado acabou com o Pacto Colonial, um sistema de comércio antigo que obrigava que todos os produtos oriundos do Brasil passassem nas alfândegas da metrópole.

“Uma série de estrangeiros como franceses, ingleses e alemães foram morar nessa região e trouxeram os padrões arquitetônicos que eles tinham na Europa. E aquela zona teve um investimento muito grande sobre a infraestrutura urbana. Para se ter ideia, a primeira linha de bonde da Cidade Alta começou saindo da Graça, ali no final do Corredor da Vitória”, conta o especialista.

A chegada desses novos moradores, somada às melhorias de infraestrutura que a região recebeu são os fatores responsáveis pela valorização de todo o entorno, que ainda hoje é uma das áreas mais nobres e caras de Salvador. A balaustrada não é tombada por nenhuma instituição de proteção ao patrimônio histórico, mas tem alguns vizinhos próximos que vivem situação diferente, como a Igreja de Santo Antônio da Barra e o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Outeiro de Santo Antônio da Barra. A primeira foi tombada pelo Iphan em 1938, enquanto o Conjunto Arquitetônico virou patrimônio em 1959.

Foto: divulgação

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