As instituições de ensino superior privadas têm observado alta na evasão dos alunos durante a pandemia. Nas entidades de pequeno e médio porte – aquelas com até 7 mil alunos – a taxa de evasão no mês de maio aumentou 14,2% quando comparado ao mesmo período do ano passado. Já entre os meses de abril e maio deste ano, a variação da taxa de evasão chegou a 34%.
Nas de grande porte, o número chegou a 18,9% no período. O levantamento feito pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) – que incluiu 146 instituições de no país –, apontou dados referentes ao meses de maio e abril de 2020, comparados ao mesmo período do ano anterior.
Entidades ligadas ao movimento estudantil apostam na redução da mensalidade para que os alunos possam continuar estudando, mas representantes dos empresários defendem a inviabilidade dos descontos no período da pandemia. O estudo demonstrou ainda que no país, a taxa de inadimplência no setor ficou em 23,9% no mês de maio, valor 51,7% maior que o mesmo período no ano de 2019.
Muitos são os fatores que fazem os estudantes abandonarem o curso. Para a universitária Joka Gueiros, 30 anos, a tão sonhada graduação em publicidade e propaganda teve de ser deixada de lado. Cursando o 3º semestre, a estudante passou a enfrentar problemas com a virtualização do curso e achou melhor não continuar. “Tenho muita dificuldade com aulas à distância. Além disso, cheguei a ficar uma semana sem internet, logo, passei uma semana sem assistir aula”, contou.
Já a presidente da União dos Estudantes da Bahia (UEB), Layane Cotrim, acrescenta que além das dificuldades de acesso à internet, a redução da renda das famílias por conta da pandemia fez com que alunos que não tinham bolsa ou financiamento deixassem o curso.
Desconto
Os estudantes agora lutam pela aprovação de um projeto de lei que reduza em 30% o valor da mensalidade. “É uma medida econômica importante para a permanência na universidade. A redução destes 30% pode garantir que essa pessoa consiga pagar uma conta ou comprar alimentação”, contou a estudante. De acordo com o último censo elaborado pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes) e divulgado no ano passado, com base nos números de 2018, as instituições privadas representavam até então 88,21% do ensino superior de todo país. No nordeste, das 566 universidades, faculdades e centros universitários, 499 são privadas.
Medidas
De acordo com o presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior da Bahia (Semesb), Carlos Joel Pereira, a estimativa nacional é de que 265 mil alunos tenham abandonado os cursos. Na Bahia ainda não há dados consolidados. Joel afirma que as instituições têm tentado reter o aluno adotando medidas como o refinanciamento de débitos e parcelamentos, desde 2015 quando se instalou a crise financeira. Mas com a pandemia a situação se agravou.
“Como o ensino não deixou de ser ofertado mediado por plataforma virtual, não haveria o problema do aluno continuar estudando, mas o que há de concreto é que famílias que tinham cinco pessoas empregadas passaram a ter apenas uma”, disse. O presidente ressaltou a inviabilidade da redução nos valores das mensalidades alegando que as instituições tiveram, dentre outras coisas, que “triplicar o ambiente virtual, contratar até cinco vezes mais internet, contratar bibliotecas virtuais. Isso gerou uma despesa não prevista”. Para ele, a redução das mensalidades poderia fazer com que os alunos se mantivessem no curso, mas resultaria no “fechamento das faculdades. Estão trabalhando dentro do limite”.
O gestor informou que a ABMES enviou ao Ministério da Economia (ME) e ao Ministério da Educação (MEC) a proposta da criação de um financiamento estudantil emergencial para possibilitar que 700 mil alunos continuem pagando as mensalidades e, com isso, cursando a faculdade. A reportagem de A TARDE entrou em contato com os ministérios para saber as medidas para evitar a evasão e se haveria a possibilidade do financiamento emergencial. O Ministério da Economia respondeu que “não se manifesta sobre assuntos, medidas, ações ou programas não oficializados”. Já o MEC respondeu que estava apurando as informações e não mais retornou até o fechamento desta edição.
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