O médico Alexandre Cunha, infectologista do Hospital Sírio Libanês, lembrou em artigo o personagem de Leonardo Di Caprio, no filme “A Origem” para explicar a disseminação de informações absurdas sobre a Covi-19 no Wahtzap. “A coisa mais infecciosa que existe não é um vírus ou um parasita, é uma ideia. Uma vez que se instala na mente, é quase impossível removê-la” , diz o personagem.
Segundo ele, a paixão por uma ideia faz com que as pessoas rejeitem de imediato qualquer evidência que a contrarie e vejam as contestações como ataques pessoais. E assim centenas de médicos que nunca trataram moléstias infecciosas se tornaram especialistas em grupos de WhatsApp onde são trocadas e disseminadas “experiências pessoais”, sem qualquer embasamento na literatura científica. A experiência pessoal para uma doença em que 80% das pessoas vão evoluir de forma assintomática ou sintomática leve não significa nada, pois com ou sem remédios eles serão curados sem problemas.
Um exemplo é uma médica ultrassonografista, que não trata doença alguma, divulgar no Whatzap os efeitos antivirais da Ivermectina e fazer recomendações de tratamento. São informações bizarras diz o doutor como “na África não há Covid porque usam Ivermectina para tratar outras doenças” sem a menor comprovação de correlação causal nessa afirmação.
Os especialistas de Wahtzap não sabem de nada e por isso receitam de tudo: Cloroquina, azitromicina, zinco, vitamina D, ivermectina, nitazoxanida, anticoagulante e corticóide. Como não sabem se algum vai funcionar, receitam todos.
São inúmeros os casos de pacientes que tomaram os “kits de tratamento precoce” desde o primeiro dia de doença e evoluíram gravemente. E o médico pergunta: alguém em sã consciência moraria em um prédio construído por um engenheiro químico, que acha que sabe construir um prédio porque é engenheiro tal qual o civil?
E concluí dizendo que eespecialistas formados pelo WhatsApp, estão disseminando tratamentos sem a mínima comprovação cientifica para pacientes desesperados. Esse, segundo ele, é mais um triste efeito colateral da pandemia. O artigo foi publicado na Folha de São Paulo.