O governador Rui Costa (PT) disse nesta quinta-feira (04) que o relaxamento do isolamento social pode aumentar o número de mortes em decorrência do novo coronavírus. No entanto, ele declarou que “está flexibilizando nas cidades em que os casos de covid-19 estão sob controle e apertando onde há índices altos”. Ele destacou ainda que o foco agora é no extremo sul do estado, onde os casos da doença avançaram.
Em entrevista ao Valor Econômico, via live, Rui afirmou que tem mantido uma comunicação permanente com os prefeitos e tem conseguido alinhar as posições. No entanto, ele ressaltou que o governo federal não contribui para reduzir a proliferação do coronavírus.
Rui citou a frase do presidente Jair Bolsonaro – “todo mundo vai morrer um dia” – e criticou a atitude do presidente que estaria confundindo a população ao mandar “todo mundo ir para rua que é apenas uma gripezinha”. O governador disse que o ponto positivo é que o Ministério da Saúde enviou 60 respiradores para a Bahia e que vem ajudando os estados com os equipamentos.
O chefe do Executivo estadual ainda criticou as liminares que as empresas de transporte estão conseguindo para atuar na Bahia e com isso, segundo ele, a doença aumentou chegando a 300 municípios no estado. Ele destacou que está recorrendo das decisões de liminares junto a Justiça.
Durante a live, Rui fez uma analogia sobre um incêndio florestal em que os casos de coronavírus estão se propagando porque o transporte não está sendo limitado. Para o gestor, se tivesse isolado os locais com casos da doença, igual acontece quando tem os focos de incêndio, não estaria se espalhando e tomando conta da floresta inteira. Por isso, ele acredita que “vamos conviver por um tempo com o vírus porque não conseguimos conter”.
Porém, o governador ressaltou que não poderá manter o isolamento social por muito tempo: “Não podemos continuar por muito tempo devido a exaustão econômica e social”, disse. “Nenhum lugar consegue segurar seis meses, um ano inteiro, todo mundo trancado dentro de casa. Nenhum lugar do mundo consegue ficar por tanto tempo com tanta restrição”, acrescentou Rui.
Questionado se haverá Carnaval no próximo ano, o petista disse que não vê possibilidade de realização. Os shows de grandes artistas reúnem milhares de pessoas e por isso “não é possível imaginar que o poder público autorize isso”, disse. “Não só o Carnaval. Não vejo como nenhuma autoridade no Brasil autorizar. Admitir cinco a 10 mil mortes por causa de uma festa”, argumentou. Na avaliação do governador, o turismo será o setor que vai sofrer mais até a retomada, o comercio voltará mais rapidamente porque tem uma demanda reprimida.
Em relação ao auxílio emergencial de R$ 600 liberado pelo governo federal, por meio da Caixa Econômica, e a repercussão de que está sendo pago a pessoas de classe A e B enquanto que classes mais baixas não conseguem, o governador afirmou que não iria criticar porque não é fácil organizar o pagamento, só daqueles que já estavam no CadÚnico e Bolsa Família. Ele sugeriu divulgar uma lista de cadastro dos beneficiados por cidade para as pessoas poderem denunciar quem não precisa do beneficio e até inibir as fraudes.
Sobre a participação do presidente da República em manifestações polêmicas que apoiam uma intervenção militar, Rui afirmou que “Bolsonaro quer polarizar para o lado dele, por isso fica fazendo essas aparições publicas”. Em relação as manifestações nas ruas, independentemente de posicionamento político, ele sugere não participar porque pode disseminar ainda mais o coronavírus.
Perguntado sobre a chance de existir um impeachment de Bolsonaro, o petista descartou: “Não há cenário em curto prazo para impeachment, ainda mais agora que o STF está trabalhando virtualmente e são necessárias também manifestações de rua, e não vejo probabilidade […]”. Além disso, Rui afirmou que o governo está agindo para trazer mais partidos para sua base e assim barrar o impeachment.
Foto: Fernando Vivas/Governo da Bahia