O ator e apresentador Érico Brás falou sobre o preconceito e o racismo estrutural no Brasil durante uma live com Fábio Porchat. Durante o papo, o artista relatou um episódio que aconteceu com ele na Bahia, à época em que trabalhava numa peça de teatro. Na ocasião, o artista foi confundido com um ladrão, que tinha roubado a bolsa de uma mulher. Foi abordado no ponto de ônibus, após a apresentação do espetáculo naquela noite.
À época, Érico estava em cartaz com a peça “Bando da Raça”, em Salvador. Ao final, sempre corria para o ponto para pegar o último ônibus em direção ao subúrbio, onde morava.
“A peça falava sobre a questão do negro no Brasil. Era um sucesso. Saí e para pegar o último ônibus para ir para casa. Quando cheguei no ponto, para uma viatura da polícia. De dentro, saíram dois policiais e uma mulher, que disse ‘eu acho que foi ele’. Olha a frase: ‘eu acho que foi ele’ “, narra o ator e apresentador, que não precisou a data de quando o episódio ocorreu.
Conforme o relato, os policiais perguntaram onde estava a bolsa da mulher. Érico respondeu que não sabia, que só estava com a dele ali. Em seguida, os agentes pegaram sua mochila e despejaram tudo que tinha dentro dela no chão e o revistou.
Revistou, queria saber onde estava a bolsa da vítima. Foi, então, que percebi que a mulher parou de falar. Ficou olhando para mim”, acrescenta, na conversa que aconteceu na noite da última terça-feira. Disse que havia acabado de sair do trabalho, que era artista e estava em cartaz com a peça no Teatro Vila Velha.
A mulher que o havia acusado, então, o reconheceu. Disse que o ladrão não era ele:
“Ah, menino, você que faz aquela peça. Disse que era eu que fazia o personagem. E comecei a fazer o personagem no ponto de onibus. Para o policial entender. Entraram na viatura e foram embora. A arte me salvou. Por um momento, me vi como um escravo no Mercado Modelo, pulando, provando que eu estava apto para ser liberto. Se eu não fosse um artista, estaria fodido. Assutou ainda mais a autoridade desta mulher sobre o Estado. Ela comandava o carro da polícia, com os policiais”, lamenta ele, que integra o time de apresentadores do “Se joga”, na Globo, e faz teatro desde os sete anos de idade.
Antes de irem embora, Érico conta que ainda indagou os agentes sobre o que faria para voltar para casa, já que o episódio o tinha feito perder o último ônibus. Recebeu como resposta um “se vira, você é artista”.
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