A paralisação das atividades culturais como cinema, shows, teatro e visitas a museus, causará um prejuízo de R$ 11,1 bilhões em três meses no Brasil. É o que aponta um novo estudo de um grupo de economistas da cultura divulgado pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedepar-UFMG). Segundo os pesquisadores, para cada R$1 perdido na cultura, perde-se R$ 1,6 na economia como um todo.
Segundo a líder da pesquisa, a economista Ana Flávia Machado, esse efeito cascata tem reflexos em toda produção de riquezas do país. “A contratação de uma peça teatral por exemplo, que tem cenário e figurino, vai demandar a produção de papel, produtos com impacto do setor têxtil, e por exemplo”. O cálculo foi realizado em cima do gasto médio do brasileiro com consumo cultural feito em atividades ao ar livre ou em espaços culturais nos últimos anos. É o que difere a pesquisa de outra estimativas que tentam prever o impacto negativo do setor levando em conta as perdas com cancelamento de grandes eventos por exemplo. Nestes cenários, o prejuízo calculado é ainda maior, como a estimativa de R$34,5 bilhões de perdas apenas em São Paulo, feita pela secretaria de cultura e economia criativa do estado.
Segundo os dados do IBGE e PNAD mais recentes usados na pesquisa da UFMG, as atividades de cultura e lazer, que envolvem consumo ao fora do domicílio, representam em média 14,36% dos gastos em cultura das famílias brasileiras. Ao dividir esses gastos por classe social, fica clara uma diferença significativa: nas classes de renda mais baixa o gasto mensal é de 8,52%, enquanto nas mais ricas é de 21,7%.
Com o corte total dessas despesas devido as medidas de isolamento social, o pesquisadores projetaram um cenário de três meses de paralisação completa dessas atividades chegando até o montante de R$ 11,1 bilhões de impacto negativo na economia brasileira. Porém, a pesquisa alerta que o encolhimento do setor já vem de antes da pandemia. Nos últimos dez anos, o número de empresas no setor caiu de 353 mil 325mil, uma redução de 7,9%.
O estudo do Cedepar chama ainda atenção para o cenário do mercado de trabalho da cultura no Brasil. Segundo o cálculo dos pesquisadores, a cada 5 profissionais que perdem emprego nas atividades artísticas, mais um trabalhador de áreas correlatas é mandado embora, totalizando 6 desempregados na economia geral.
Os pesquisadores apontam também, baseados em dados do PNAD, que 73,2% do trabalhadores da cultura é formado por autônomos. Com essa realidade, a pesquisadora Ana Flávia Machado alerta que o auxílio emergencial pelo governo federal anunciado até o momento não engloba esses profissionais que necessitam uma rede de proteção social específica.
“São medidas que atendem a população vulnerável, de extrema pobreza ou pobre e impede que muitos desses artistas se tornem legíveis para essa política. Precisamos do pagamento de uma renda mínima pra esses trabalhadores considerando que boa parte não é assalariada”.