Por: João Paulo Almeida
A pandemia, que já afetou grande parte dos setores que movem a economia baiana, provoca mais um impacto negativo com o cancelamento dos festejos juninos em todo o estado, depois que os municípios com maior tradição nesses eventos já tinham cancelado suas festas. A medida foi anunciada pelo governador Rui Costa, não apenas para evitar aglomerações e a consequente transmissão do novo coronavírus em grande escala, mas também para focar todos esforços na aplicação dos recursos públicos (estaduais e municipais) para prevenção e no tratamento dos doentes.
Em contato recente com o portal Bahia Econômica, o presidente da Salvador Destination, Roberto Duran, explicou que o São João é uma festa onde a movimentação é de saída da capital em direção ao interior, movimentando pouco o segmento do turismo nesse sentido. Duran também disse que não é possível se fazer uma projeção de como vai ficar o festejo nas cidades pois não se sabe como vai está a pandemia.
No estado, mais de 300 municípios realizam os festejos de Santo Antônio, São João e São Pedro, mobilizando milhares de pessoas e diversos segmentos na produção e na participação dos eventos. O decreto relativo à decisão de abrangência estadual ainda está em elaboração e deve ser publicado em maio. A estimativa de um conjunto de órgãos que operam em estradas e no deslocamento marítimo na Bahia é que, no período, mais de um milhão de soteropolitanos saem da capital em direção ao interior do estado. Número semelhante de pessoas circula entre os municípios em busca dos eventos juninos.
No início de abril, quando alguns municípios já sinalizavam a suspensão dos festejos, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-BA) estimava uma retração de 23% nas vendas, especialmente em setores ligados diretamente ao São João. Em valores calculados pela entidade, o prejuízo ultrapassa R$ 275 milhões só na 2ª quinzena de junho. “Considerando que o cancelamento de grandes festas agora alcançou todo o estado, esse número será maior ainda”, avaliou o produtor artístico Pedro Nunes. Já para o médico sanitarista Alfredo Gusmão, todas as medidas adotadas para mitigar a transmissão da Covid-19 são bem-vindas e se fazem necessárias. “Todos precisam se conscientizar da importância de reduzir o contato entre as pessoas, e as festas são o oposto disso”, argumentou.
Distribuição de renda
O economista e professor de economia da Ufba Armando Avena disse ontem que o reflexo do cancelamento dos festejos juninos vai tornar mais difícil a sobrevivência de muitas famílias, trabalhadores autônomos e empresas, que têm renda certa neste período do ano”. Ele lembrou que o ambiente cultural das comemorações movimenta o mercado artístico, atraindo milhares de turistas, e que em cidades de porte médio, como Amargosa, Senhor do Bonfim, Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus e Piritiba, a população visitante chega a se igualar à população da cidade.
Mais atingidos
Os principais segmentos atingidos são restaurantes, hotéis, agências de viagens, mercado imobiliário, serviços como decoração e produção artesanal de comidas e bebidas típicas e o comércio de alimentos, revendedores de bebidas, roupas, calçados e combustíveis, bem como autônomos, agências e guias de turismo. Embora concorde com a importância das medidas, o administrador de pousada em Senhor do Bonfim, Fábio Guimarães, prevê que será difícil atravessar esta fase. “Ainda mais que o movimento já está fraco e muitos locais não recebem um hóspede há cerca de dois meses. Já tivemos demissões e avaliamos reduzir ainda mais a nossa equipe”, lamentou.
Foto: divulgação