A Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre) solicitou uma cotação de preços para 4 mil caixões com serviço funerário específico para as mortes causadas pelo novo coronavírus em Salvador, como medida de “prevenção e antecipação”. O pedido foi publicado no Diário Oficial do Município na última terça-feira (28), e as funerárias puderam enviar as cotações à Sempre até essa quarta (28).
De acordo com a secretária de Promoção Social e Combate à Pobreza, Ana Paula Matos, se trata de uma ação de prevenção dentro de um cenário pessimista quanto às mortes pelo vírus em Salvador. “A secretaria fez a cotação porque temos um contrato anterior ao coronavírus, que não prevê os serviços necessitados nesse cenário. Não se trata da compra de 4 mil serviços funerários, mas do cadastramento de mais funerárias para aumentar o serviço à disposição. Assim, é possível credenciar o maior número possível de empresas para atender possíveis demandas simultâneas o mais rápido possível. Não significa que usaremos todas as urnas”, explicou a gestora da pasta.
O contrato tem vigência de um ano e possui três tipos de caixões. O pedido é para um estoque de 3.500 urnas simples de madeira no tamanho adulto, 400 caixões simples de madeira com tamanho especial (largo ou comprido) e 100 caixões simples de madeira para crianças. Caso necessário, os caixões atenderão a demanda de auxílio por morte às famílias de baixa renda, por meio do benefício assistencial Auxílio Funeral, que já é concedido pela Sempre. De acordo com a secretária, todas as pessoas que falecerem em Salvador e necessitarem do cemitério público podem recorrer ao serviço.
“Com a crise na economia da cidade e do país, muitas pessoas que não precisavam do auxílio podem passar a demandar”, disse Matos. A cotação visa evitar que em Salvador ocorra o que aconteceu em Manaus caso venha a regisgtrar uma grande número de mortes por dia. Na capital do Amazonas, a quantidade de mortes diárias pela doença ultrapassou a capacidade do sistema funerário. Na última sexta (24), o sindicato das empresas funerárias do estado alertou que estoque de caixões só seria capaz de atender a alta demanda provocada pelo coronavírus por mais dez dias. No entanto, com cerca de 600 urnas ainda à disposição, o presidente da entidade, Manuel Viana, se viu obrigado a rever esta conta. “Nós temos entre 500 e 600 caixões no estoque. Com mais de cem enterros diários, não vai durar mais do que cinco dias”. As informações são do jornal O Globo.
O atual contrato anual do serviço funerário é de cerca de 1.200 caixões, mas a prefeitura optou por fazer um novo credenciamento com base nas regras específicas para o enterro de pacientes com a covid-19 ou com suspeita de infecção pela doença. “Existe um protocolo do Ministério da Saúde, da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia e regras da associação de funerárias. Em casos de morte pelo coronavírus ou com suspeita, o corpo tem que ser colocado em um saco específico e o caixão tem que ser lacrado. Isso gera um custo e uma responsabilidade a mais para as funerárias. O enterro tem que ser feito o mais breve possível”, informou a secretária.
De acordo com a secretária, os casos de mortes de natureza não identificada, em especial pessoas que morreram com questões respiratórias, devem seguir o padrão de sepultamento do coronavírus. “A cotação não quer dizer que vão morrer 4 mil pessoas com coronavírus. Como não pode fazer a autópsia, mortes não identificadas seguem o protocolo. Isso não quer dizer que vamos usar todos os caixões”, explicou.
A secretária da Sempre ressalta que o serviço oferecido atualmente pela Prefeitura está preparado para realizar sepultamentos de pacientes com a covid-19. “O serviço foi renovado há pouco tempo. Notificamos as funerárias sobre os novos protocolos e elas nos garantiram que estavam seguindo as regras”, disse Matos. A cotação visa evitar o colapso do sistema funerário em Salvador em um cenário pessimista com um grande número de mortes pelo novo coronavírus na capital. Para evitar o agravamento da situação e um colapso, a secretária da Sempre ressalta que a população deve seguir as medidas de isolamento social.
“Com o apoio da população, conseguimos evitar o colapso do sistema de saúde. Salvador tem dados melhores em comparação com outras cidades como Fortaleza, mas quando seguramos a curva de infecção as pessoas ficam com uma falsa sensação de segurança e podem pensar que todas as medidas de prevenção tomadas pelos governantes são exageradas. A diferença entre a chegada em um colapso e o enfrentamento da situação com menos traumas é a atuação de cada pessoa no isolamento”, disse Matos.
Até às 17h desta quarta-feira (29), Salvador registrou 1.639 casos confirmados do coronavírus. Com um mês do registro da primeira morte pelo vírus, a Bahia atingiu 100 óbitos em decorrência da doença, destes, 62 ocorreram na capital baiana. De acordo com Secretaria de Saúde do estado (Sesab), a taxa média de crescimento dos casos de coronavírus na Bahia é de 8,6% ao dia. Esse número é considerado abaixo das projeções iniciais feitas pelo Governo do Estado, mas não deixa de ser preocupante. “Se mantivermos a taxa de crescimento atual, ao final do mês de maio, a demanda por leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) será maior do que o disponível no estado”, informou a assessoria da pasta nesta quarta.
O número precisa ser reduzido para, no mínimo, 6%, segundo o secretário de saúde Fábio Vilas-Boas. Abaixo dessa porcentagem, a necessidade por leitos de UTIs será inferior a mil, segundo a Sesab, o que possibilita que todos tenham um tratamento disponível.
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