Sob pressão dos militares, do Judiciário e do Legislativo, Jair Bolsonaro modulou seu discurso e afirmou que a “democracia” e a “liberdade” estão acima de tudo. Disse também que ele é a Constituição, um dia depois de ter participado de manifestação diante do quartel-general do Exército que tinha entre suas bandeiras uma intervenção militar.
A mudança de tom do presidente da República na segunda-feira (20) foi seguida por um comunicado oficial, horas depois, do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, defendendo que as Forças Armadas têm como propósito manter a “paz” e a “estabilidade” e são sempre obedientes à Constituição.
A posição faz parte de um esforço iniciado por militares do governo para evitar que o gesto do presidente no domingo (19) crie uma crise institucional. Naquele dia, Bolsonaro discursou a um grupo de apoiadores que pregavam a edição de um novo AI-5, o mais radical ato institucional da ditadura militar (1964-1985).
Nesta segunda-feira, Bolsonaro seguiu o conselho da cúpula fardada e modulou seu discurso público. Em frente ao Palácio da Alvorada, pela manhã, ressaltou que, no que depender dele, “democracia” e “liberdade” estão acima de tudo.
“O pessoal geralmente conspira para chegar ao poder. Eu já estou no poder. Eu já sou o presidente da República”, disse. “Eu sou, realmente, a Constituição”, acrescentou.
Em uma breve entrevista, o presidente se mostrou bastante incomodado com as críticas que recebeu por participar da manifestação e disse que, durante o protesto, não atacou nem o Judiciário nem o Legislativo.
“Peguem o meu discurso. Não falei nada contra qualquer outro poder. Muito pelo contrário. Queremos voltar ao trabalho, o povo quer isso”, disse. “É isso, mais nada. Fora isso é invencionice, tentativa de incendiar a nação que ainda está dentro da normalidade”, emendou.
Além da defesa de um novo AI-5, o ato que permitiu o fechamento do Congresso Nacional durante a ditadura militar, a manifestação do domingo levantava bandeiras contra o Legislativo e o Judiciário.