A economia brasileira está paralisada e muitos políticos e empresários acreditam que o isolamento social precisa ser suspenso para que ela possa se recuperar. Infelizmente é o contrário: é o isolamento social que vai permitir que a economia se recupere de forma rápida e sustentada. Estudos sobre a gripe espanhola mostram que nos EUAs os locais que optaram pela adoção duradoura do isolamento social tiveram uma recuperação econômica mais rápida e consistente após o seu término. A explicação é simples: caso não houvesse o isolamento social o ápice da pandemia ocorreria muito mais rapidamente, pois muito mais pessoas seriam infectadas e a imunização se generalizaria, mas isso resultaria em milhares de mortos, pois haveria o colapso do sistema de saúde. “Infelizmente algumas mortes terão, paciência, acontece, e vamos tocar o barco”, diria o presidente Jair Bolsonaro.
Mas o barco da economia não iria funcionar, pois ao se deparar com os mortos nas ruas, como se vê hoje no Equador, os agentes econômicos, eles próprios, fugiriam para suas casas e a economia seria totalmente desestruturada pelo medo da contaminação generalizada. Seriam dois ou três meses de pavor e é ilusão pensar que a economia não iria sofrer, afinal, não pode haver vida econômica se as famílias e os indivíduos tem medo de sair às ruas. Quem iria ao shopping sabendo que ali poderia ser contaminado? Quem continuaria fazendo turismo sabendo que o covid-19 pode estar ao seu lado? Sim, apenas 20% do contaminados pegam a forma grave da doença, mas quem iria se arriscar?
Na verdade, o isolamento social é a melhor solução para a saúde e para a economia, como atesta o estudo de pesquisadores do Federal Reserve*. Segundo o estudo, após a gripe espanhola, as cidades norte-americanas que registraram uma retomada econômica mais forte no ano seguinte foram aquelas que adotaram intervenções não-farmacêuticas – como medidas de isolamento social, uso de máscaras e redução da mobilidade social – pelo menos 10 dias antes do aumento massivo de casos. Historicamente, vencida ou estabilizada a pandemia, a economia cresce de forma acelerada para atender a demanda reprimida por 2 ou 3 meses de isolamento total.
No Brasil, se o surto pandêmico terminar em junho ou meados de julho, a economia vai se recuperar no segundo semestre e o PIB vai crescer mais de 4% em 2021. Aliás, o conservador FMI já prevê incremento de 3% no PIB em 2021. Mas, há um problema: como os agentes econômicos vão sobreviver durante 3 meses seguidos com dívidas e compromissos com bancos e fornecedores e sem faturar? E como a população pobre vai sobreviver sem emprego e sem salário? É aí que entra o governo e, por isso, a necessidade de fornecer renda diretamente as famílias e aos indivíduos e crédito barato e com carência estendida aos pequenos e médios empresários.
E, a bem da verdade, o governo federal vem tomando as medidas adequadas, permitindo a redução de salários e da jornada do trabalhador, desde que mantido o emprego, e viabilizando a renda mínima. E, ao tempo que faz isso – e talvez precise fazer mais –, é necessário que os governos comecem a preparar, após a estabilização da curva de contágio, o retorno às atividades, liberando de forma gradual os diversos setores.
* Pandemics Depress the Economy, Public Health Interventions Do Not: Evidence from the 1918 Flu.
PANDEMIA: A CURVA EM V
O governo ainda não fez o suficiente para preservar as empresas. As microempresas, com faturamento abaixo de R$ 360 mil sequer foram contempladas. As linhas de crédito subsidiadas ainda não fluem como deveriam. E isso é fundamental para a retomada da economia, bem como o adiamento no pagamento de impostos. A pandemia vai gerar na economia uma curva em formato em V, ou seja, nos próximos meses chega-se ao fundo do poço, mas, superada ou estabilizada a pandemia, o crescimento é acelerado, embora diferenciado, a depender de cada setor. É o que já está se verificando na China. Mas isso aconteçer, as empresas precisam sobreviver.
Publicado no jornal A tarde em 15/04/2020
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