Em 2019, o agronegócio brasileiro registrou exportações, em números redondos , ao redor de 97 bilhões de dólares, valor 4% inferior ao observado em 2018 (101 bilhões de dólares). A principal explicação, além do câmbio, se refere à peste suína na China, que diminuiu a demanda do nosso complexo soja. As exportações do complexo soja caíram de 40,7 bilhões de dólares para 32,6 bilhões de dólares no ano passado. Em compensação , a demanda chinesa e mundial por carnes aumentou consideravelmente em mais de 15%, como no caso da carne bovina. China, Hong Kong, União Europeia e Egito puxaram esse movimento de demanda, em 2019 e no período recente.
Em busca de novos mercados, o Brasil concentra esforços na China e países asiáticos, Oriente Médio , União Europeia e Estados Unidos. No caso dos EUA, o país obteve em 2015 autorização de para exportar carne bovina in natura, fato este promissor por razões adiante destacadas. Em junho de 2017, os americanos suspenderam as importações, por problemas relacionadas à vacina contra febre aftosa, que teriam ligação com constatação de abcessos na carne de algumas amostras pelo seu sistema de inspeção sanitário. Por ser um mercado referência ´para outros países exigentes em matéria de sanidade e qualidade de produtos agropecuários, ou seja , por ser um “selo de qualidade”, tal medida restritiva teve significado relevante nas nossas estratégias de conquistas de marcados para esse tipo de carne.
Por conta disso, o governo brasileiro desenvolveu esforços, com a participação ativa da ministra Tereza Cristina, da Agricultura ,para reverter a situação, inclusive fazendo concessões para viabilizar maiores cotas de importações brasileiras de trigo e etanol norte-americanos. Após sucessivas visitas de inspeções dos técnicos do EUA, no dia 21 de fevereiro último, o serviço de inspeção sanitária americano comunicou ao governo brasileiro que o nosso país fez as correções devidas e reabriu o seu mercado. O Valor Econômico apurou que inicialmente 21 frigoríficos serão habilitados, ante 16 plantas antes do embargo.
Não é de se esperar grande impacto nas nossas vendas de carne bovina in natura para os EUA, por conta dessa decisão. No período de janeiro a junho de 2017, antes do embargo, portanto, o Brasil exportou para os EUA 56 milhões de dólares , referentes a esse item específico, valor irrisório se consideramos nossas vendas externas de carne bovina (7,5 bilhões de dólares, em 2019) e as importações norte-americanas de carne bovina in natura, ao redor de 5 bilhões de dólares, em 2018. Mas, por ser um mercado considerado “selo de qualidade”, nos credencia e facilita sobremaneira o acesso a outros mercados expressivos de outras nações.
Finalmente, algumas lições devem ser extraídas desse episódio, dentre as quais destacamos duas. A primeira consiste na importância de se valorizar um eficiente e reconhecido serviço interno de inspeção sanitária, inclusive privilegiando os auditores fiscais agropecuários do setor público, preferido por boa parte dos importadores. Segundo, prosseguir na estratégia de alcançar o status de de país livre de febre aftosa sem vacinação. Se o Brasil trilhar este caminho, deve avançar muito em termos de exportações de carnes.